São Silvestre tenta apertar cerco após fraude com números clonados

Organização da corrida afirma que aumentará fiscalização e levará eventuais casos à Justiça

Daniel E. de Castro
São Paulo

Após declarar guerra aos “pipocas”, como são chamados os corredores sem inscrição, a São Silvestre elevou o tom novamente e promete aumentar o cerco em sua edição deste ano contra fraudes nas numerações de peito.

A 94ª edição da tradicional prova de rua de São Paulo será realizada na manhã desta segunda (31), com largada e chegada na avenida Paulista.

A preocupação da organização da São Silvestre com a possibilidade de fraudes cresceu após um caso da edição de 2017 ser revelado pela Folha.

Corredores com o mesmo número de peito na edição de 2017
Corredores com o mesmo número de peito na edição de 2017 - Eduardo Alpendre - 31.dez.17/Fotoarena/Folhapress

Ao menos 12 pessoas com camisetas da equipe de corrida Run Up, de Sorocaba (SP), participaram usando um mesmo número de inscrição.

O episódio é citado como exemplo nos materiais de divulgação do evento: “Após a prova, eventuais fraudadores que duplicarem números, como foi o caso da equipe Run Up em 2017, serão cobrados na Justiça a exemplo do que está acontecendo com os fraudadores da última edição”.

Entre as medidas que a organização promete reforçar para tentar barrar intrusos está o aumento no número de câmeras e no controle dos participantes nos pontos de acesso.

A organização diz que não divulga esses números por questões de segurança, mas que haverá câmeras na largada, na chegada e nos seis pontos de hidratação do percurso.

No período das 5h às 10h serão permitidos apenas atletas com número de peito nos pontos de acesso.

Mesmo que em menor escala, essas medidas de controle já vigoravam no ano passado, quando ocorreu a fraude dos números clonados com os corredores da Run Up.

A prova adota uma verificação visual da numeração de peito, sem um controle por código de barras ou conferência de documento de identidade, por exemplo.

Para a última edição, com o objetivo de combater os “pipocas”, a largada avançou 150 metros na avenida Paulista e ficou mais próxima do túnel, onde até então acontecia boa parte das invasões de corredores sem inscrição.

A organização estima que em 2016 até 15 mil penetras possam ter corrido ao lado de quem pagou R$ 160 para participar da prova, o que provocou várias queixas de falta de espaço e água. O valor subiu para R$ 170 no ano passado e chegou a R$ 185 neste ano.

Já na edição de 2017, o número de “pipocas” caiu para cerca de 4.500, segundo estimativa da organização.

De acordo com a São Silvestre, as fraudes são frequentes e variadas. Além dos números clonados, há casos de participantes com numeração de outras edições e até de outras provas. Também é comum atletas mais jovens usarem a inscrição de idosos, que têm direito a 50% de desconto.

Ao mesmo tempo em que tenta coibir novas fraudes, a São Silvestre busca reparação de danos morais e materiais pelo episódio de 2017 e afirma ter acionado a Run Up nas esferas cível e criminal.

“Após o fato, a organização tentou de diversas formas um acordo com a Run Up em busca das verdades dos fatos e da restituição dos prejuízos causados. Porém, a mesma preferiu se manter silente e não chegar a um acordo, omitindo a verdade”, diz a organização.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou à reportagem que o 78º Distrito Policial instaurou um inquérito para investigar supostas fraudes nas inscrições da competição de 2017.

“Um homem é investigado e o caso foi encaminhado à Justiça em 3 de outubro com solicitação de prazo para prosseguimento das apurações”, diz a nota da secretaria.

A Run Up foi procurada nas últimas semanas por ligações, mensagens e email, mas não respondeu aos contatos. Após a revelação do caso, a equipe confirmou o envolvimento de seus clientes na fraude, mas afirmou que “repudia veementemente qualquer prática antiética e antiesportiva”.

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