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Caótico, time de Mogi das Cruzes é o pior de SP e coleciona vexames

Atlético foi o lanterna na última divisão do estado e não tem boas perspectivas para 2019

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São Paulo

Com atrasos de salário, falta de locais para treinos, comissão técnica reduzida, derrotas por WO e mais de 100 gols sofridos entre profissional e sub-20, Mogi das Cruzes (66 km da capital) deu a  São Paulo o pior time do estado em 2018. E as perspectivas para 2019 não são das melhores. 

O Atlético de Mogi foi o último colocado da Segunda Divisão do Estadual. Apesar da nomenclatura, é na verdade a quarta e última liga do futebol paulista. O time só não foi rebaixado porque não tinha para onde cair.

Em 14 jogos, empatou um e perdeu 13. Marcou três gols e levou 46. Foi mais uma temporada em que o clube viveu situação caótica. Na última rodada da primeira fase, contra o Paulista, os jogadores se recusaram a entrar no ônibus que os levariam a Jundiaí. O Atlético deu WO e foi declarado perdedor por 3 a 0.

Lance durante a partida entre União Mogi e Atlético Mogi (de azul), válida pela Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 2018
Lance durante a partida entre União Mogi e Atlético Mogi (de azul), válida pela Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 2018 - Wilian Oliveira - 13.mai.18/Futura Press/Folhapress

“Demos WO porque os jogadores chegaram na manhã do jogo e disseram que não entrariam no ônibus. Foi o jeito que encontraram para protestar [pelos salários atrasados]”, afirma Joaquim Carlos Paixão Júnior, presidente do clube de Mogi.

Advogado na cidade e dono de um escritório de contabilidade, Paixão não morre de amores pelo cargo que caiu em seu colo. Concorda que não vale a pena, mas por enquanto não vê saída.

“Eu continuo porque gosto de futebol. Mas é claro que não compensa. Sou advogado na cidade, meu pai tem escritório também em Mogi das Cruzes e as pessoas cobram por causa da situação da equipe. Não é agradável. Minha família também está descontente com isso”, afirma.

Mogi das Cruzes é a terra natal de Neymar, mas o atacante do Paris Saint-Germain (FRA) deixou o município quando tinha quatro anos. Não tem mais qualquer ligação com a região.

Nas últimas semanas, a Folha ouviu pessoas ligadas ao time e um jogador que participou da campanha na temporada. O atleta pediu para não ter o nome revelado. Alegou que, por ser jovem, a divulgação poderia prejudicá-lo no futuro. No Paulista da Segunda Divisão podem ser inscritos atletas com no máximo 23 anos.

A situação do clube é precária, e nem local para treinar estava disponível todos os dias. Assim como aconteceu no União Mogi, outra equipe do município, os elencos dependiam da Prefeitura ceder campo municipal de terra. O que nem sempre era possível porque o espaço tinha de ser dividido também com programas esportivos da cidade.

Equipamentos também são problema, segundo o elenco.

No clássico local contra o União Mogi, Vinicius, do Atlético, usava a camisa 11, mas teve de trocar pela 27 porque seu número original rasgou e não havia peça de reposição.

Nas súmulas dos jogos na Segunda Divisão não constam para o clube nomes de massagista, auxiliar técnico ou preparador de goleiros. 

Mesmo depois da eliminação no torneio, na teoria profissional, o Atlético continuou a acumular vexames em 2018. Fez dez partidas no Paulista sub-20 usando parte da equipe que havia atuado na Segunda Divisão. Perdeu todas. Levou 60 gols. Contra o São José, o confronto foi encerrado no início do segundo tempo porque dois jogadores dos visitantes tiveram de deixar o campo alegando contusões. Aquilo deixou o Atlético com apenas seis em condições de continuar, número inferior ao permitido pelas regras do futebol. 

Parte do time não apareceu mais uma vez para a viagem a São José dos Campos. O Atlético iniciou com apenas oito atletas. Quando o árbitro encerrou a partida, o time de Mogi perdia por 13 a 0.

“O problema é a credibilidade das equipes da cidade. Não há estrutura. As pessoas preferem apoiar o basquete”, afirma Rovani Medeiros, que ajudou a implantar a clube quando este foi criado, em 2004.

Ele se refere ao Mogi Basquete, time local que foi vice-campeão brasileiro e da Liga das Américas neste ano.

O futebol do Atlético é mantido pelo empresário Roberto Costa, que usa o clube para tentar fazer negócios com o futebol do exterior. No site oficial, os jogadores têm biografia em português e inglês, com textos sempre elogiosos. O principal cartão de visitas utilizado por ele para convencer possíveis reforços a irem para Mogi das Cruzes é ter levado o atacante Maicon Oliveira para o Volyn (UCR), em 2009. Ele morreu em um acidente de carro na Ucrânia cinco anos depois.

A Folha tentou nas últimas semanas falar com Roberto Costa, mas não teve sucesso. Ele é descrito no site do Atlético Mogi como sócio-proprietário e vice-presidente. O filho Robertinho, ex-jogador da agremiação, é diretor de futebol e Roan Costa, seu irmão, atua como zagueiro desde 2016, quando tinha 17 anos.

“O Atlético Mogi, quando surgiu, foi uma grande ideia. Foi um dos primeiros clubes-empresa do estado de São Paulo”, completa Medeiros.

De acordo com Paixão, o futuro da equipe para 2019 está indefinido porque é preciso saber se Roberto Costa pretende continuar como investidor.

“A gente precisa ver. O clube busca fazer negociações para o exterior, mas até hoje o único foi o menino vendido para a Ucrânia. Assim é difícil. Nem torcida temos. O público é muito escasso”, completa o presidente.

Nos sete jogos como mandante na Segunda Divisão em 2018, a média do Atlético Mogi foi de 57 pagantes. 

“Muitas vezes a gente tem de tomar prejuízo para preservar a nossa imagem por causa do clube. Houve um incidente no ano passado que demonstrou isso”, finaliza.

Ele se refere a episódio em que o Conselho Tutelar denunciou o clube por causa de oito menores de idade que estavam alojados em uma pensão da cidade em condições precárias. Dois deles afirmaram ter de pagar R$ 500 por mês ao técnico Emerson França para fazerem parte do elenco. Paixão teve de pagar a volta deles para suas cidades de origem.

Apesar dos problemas, o Atlético anunciou, em sua página no Facebook, a busca por sócios e investidores interessados na terceirização das categorias de base para o próximo. A Folha telefonou para o número anunciado, mas a pessoa que atendeu ao chamado se negou a dar qualquer informação ou se identificar.

Em declaração durante a temporada para o site “Futebol Interior”, Roberto Costa disse que, apesar dos resultados ruins, não tinha visto nenhum jogador nos adversários que fosse melhor dos que estavam no Atlético Mogi, mas que faltava estrutura e apoio ao clube.

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