Descrição de chapéu The New York Times

Ciclista de 90 anos cai em exame antidoping nos Estados Unidos

Atleta alega que comeu carne contaminada na noite anterior à prova

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O ciclista Carl Grove teve seu título de sprint de 90-94 retirado depois de testar positivo
O ciclista Carl Grove teve seu título de sprint de 90-94 retirado depois de testar positivo - Men of Steel Racing/Facebook
Nova York | The New York Times

Foi o tipo de anúncio sucinto e seco que surge de vez em quando e passa virtualmente despercebido. Um ciclista foi apanhado em um exame antidoping pelo uso de uma substância proibida, e terminou desclassificado. O que se destacava era a idade do ciclista: 90 anos.

Será que Carl Grove, de Bristol, Indiana, realmente usou anabolizantes antes de competir na divisão 90 a 94 anos do Masters Track National Championship? E por que ele teria se incomodado em fazê-lo, já que era o único concorrente na categoria?

Nenhum outro nonagenário apareceu para desafiar Grove na prova de perseguição individual de dois mil metros realizada em julho em Breinigsville, Pensilvânia. Mas sua vitória não foi apenas cerimonial. Grove completou seis voltas no velódromo com o tempo de 3min06s12, estabelecendo um recorde mundial.

Depois da prova, ele forneceu uma amostra de urina. O exame antidoping acusou a presença de epitrenbolone, um metabólito do trenbolone, um anabolizante de uso proibido. Grove perdeu seu título nacional, seu recorde mundial foi anulado, e ele recebeu uma advertência oficial.

Mas parece haver uma explicação inocente para o resultado do exame. Grove disse que comeu carne na noite anterior à prova –300 gramas de fígado–, e a carne podia estar contaminada. A Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada, na sigla em inglês) por fim concluiu que o resultado "provavelmente foi causado por carne contaminada consumida na noite anterior".

"Casos como esses nos deixam batendo a cabeça na parede", disse Travis Tygart, o presidente-executivo da agência. "Eles não são certos".

Tygart disse que Grove só foi testado por ter estabelecido um recorde mundial.

"Não havia outra razão", ele disse. "Para que um recorde seja ratificado, no ciclismo ou atletismo, o atleta precisa ser testado. Os atletas sempre estão dispostos a ser testados, porque querem a ratificação do recorde mundial".

A Usada está confiante em que o resultado do teste se deve ao consumo de carne. Métodos modernos e sofisticados de teste demonstraram que Grove mostrava menos de 500 picogramas de trenbolone, "um nível extremamente baixo", disse Tygart. Mas não existe um mínimo permissível de trenbolone; a presença de qualquer traço da substância é considerada prova de doping.

Grove também estava usando suplementos. Ao investigar o caso, a Usada constatou que um deles continha clomifeno, outra substância proibida, ainda que sua presença não estivesse indicada no rótulo do suplemento. O clomifeno não apareceu no teste.

O exame de doping de Grove no dia anterior, quando ele foi o único participante na prova de velocidade contra o relógio de 500 metros, na qual estabeleceu outro recorde mundial, foi negativo. Naquela noite, ele comeu fígado no jantar. Essa cronologia é outro ponto em favor da hipótese da carne contaminada.

Grove conservará o recorde e título da prova contra o relógio. Ele não atendeu a telefonemas buscando seus comentários.

Atletas apanhados em exames antidoping vêm apontando para carne contaminada como responsável pelo resultado, com frequência cada vez maior. O campeão de boxe Canelo Alvarez invocou a carne contaminada ao ser suspenso por doping no ano passado. A corredora americana Ajee Wilson fez o mesmo em 2017, assim como o ciclista Alberto Contador em 2010.

"Não creio que a indústria da carne tenha mudado significativamente", disse Tygart. "A questão é que agora a capacidade dos laboratórios aumentou a tal ponto que a probabilidade de que algo seja capturado é muito maior".

Tygart e a Usada vão pressionar por mudanças, na reunião da Agência Mundial Antidoping em novembro. Tygart disse que apoiava a adoção de limites mínimos para caracterização de doping, quanto ao consumo de certas substâncias que não os têm hoje, a fim de garantir que os exames não estejam apanhando contaminação ambiental. Ele também disse que casos em que um atleta se dopou involuntariamente, pelo consumo de comida, água ou remédios contendo substâncias proibidas, não deveriam ser anunciados publicamente.

"Um caso como de Carl parte meu coração", disse Tygart.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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