Corinthians e Palmeiras são os times que menos usam jogadores da base

Entre os 14 principais clubes do país, Grêmio e Athletico-PR são os que mais aproveitam atletas

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São Paulo

Donos dos últimos quatro títulos brasileiros, Corinthians e Palmeiras são os que menos aproveitaram jovens da base em seu elenco profissional nas últimas cinco temporadas entre os 14 principais clubes da Série A.
 
A Folha solicitou os dados às equipes e cruzou com informações dos sites O Gol e Wyscout para chegar ao resultado que coloca os times alvinegro e alviverde com os de menor aproveitamento dos jovens formados por eles.
 
Em média, o Corinthians utilizou 9,8 jogadores oriundos da base em partidas do time principal. No Palmeiras, esse número foi de 10,2.

 

O clube que mais utilizou jogadores da base no período foi o Grêmio. Em média, 23,8 atletas por temporada, mais que o dobro do Corinthians.
 
A segunda equipe que mais aproveitou seus jovens foi o Athletico-PR, 22 por ano.

Antes visto como um time que não investe na base, o Palmeiras melhorou de forma considerável seu desempenho nas categorias inferiores. Em 2018, o time sub-20 conquistou o Brasileiro, o Paulista e a Copa RS. Já o sub-17 faturou o Mundial de Clubes (não reconhecido pela Fifa) e o Paulista. As conquistas também se acumulam nas demais idades.
 
Nos últimos cinco anos, o principal jogador revelado pelo clube foi o atacante Gabriel Jesus, do Manchester City (ING). Promovido ao profissional em 2015, ele ajudou a equipe na conquista da Copa do Brasil do mesmo ano e do Brasileiro de 2016 antes de ser negociado por 32,75 milhões de euros (cerca de R$ 121,1 milhões, na cotação da época).

O clube alviverde, no entanto, só está à frente do Corinthians no aproveitamento médio anual de suas promessas.

A média baixa, em parte, é resultado do regulamento do Campeonato Paulista, que até 2017 limitava em 26 o número de atletas inscritos por clube, o que fazia com que muitos jovens fossem preteridos. Em 2018, abriu-se a possibilidade de uma lista separada de “pratas da casa” com até 21 anos.
 
Outro motivo para a pouca utilização de jovens promessas como Papagaio, 19, ou Luan Cândido, 17, é o fato do elenco principal contar com muitos nomes consagrados, graças ao forte investimento da patrocinadora Crefisa.
 
“O Palmeiras nunca havia tido uma marca forte de categoria de base. Nos últimos anos, se estruturou, procurou ter os melhores dentro e fora de campo. Consequentemente, eles terão mais espaço [a partir de 2019], porque mostraram resultados, conquistas. Mas tem que ter calma, até porque temos um grande elenco, o melhor do país”, afirma João Paulo Sampaio, coordenador da base alviverde.
 
Em 2014, o Palmeiras usou 17 de suas crias na formação do elenco profissional, o melhor aproveitamento de jogadores revelados pela equipe nos últimos cinco anos. Contudo, naquela época o clube ainda não tinha o aporte da Crefisa e vivia uma complicada situação financeira.
 
No Corinthians, que não tem dinheiro para tantas contratações quanto o arquirrival, o espaço para os atletas da casa tem sido maior nos últimos três anos. No fim de 2018, 4 dos 11 titulares haviam sido formados no clube. Além dos jovens Léo Santos, 20, Carlos, 19, e Pedrinho, 20, o time contava com o experiente lateral direito Fágner, 29.

A média de atletas da base utilizados, porém, continua sendo uma das mais baixa entre as equipes pesquisadas. Ainda assim, o número não é considerado ruim pela diretoria do clube alvinegro.

“É um ótimo número, já que a gente trabalha com 30, 33 jogadores por temporada. Mas, sem dúvida, é um número que pode crescer. Nossa ideia é usar a base cada vez mais, mas depende muito também da safra de jogadores”, disse o diretor de futebol alvinegro, Duílio Monteiro Alves.
 
Em relação a títulos, o clube do Parque São Jorge só não conquistou mais troféus de categorias inferiores que o São Paulo nos últimos cinco anos.

Considerando os principais torneios nacionais e internacionais das categorias sub-17 e sub-20, os são-paulinos levantaram oito taças, contra seis dos corintianos.
 
Em 2018, o clube do Morumbi foi o paulista que mais colocou atletas formados em casa para jogar, com 20 atletas da base fazendo ao menos uma partida no time profissional.
 
A média de aproveitamento dos jovens nas últimas cinco temporadas, porém, é de 14,6. Quinto pior entre os principais clubes do Brasil, superando apenas Atlético-MG, Cruzeiro e os rivais paulistanos.

A liderança de Grêmio e Athletico-PR é resultado direto da tática adotada por elas para suportar o desgaste do elenco ao longo do ano, causado pelo excesso de jogos no calendário.

Em 2018, o clube paranaense utilizou seu time sub-23 na disputa do Estadual. Com 21 jogadores oriundos das categorias de base, foi campeão.
 
A experiência acabou rendendo frutos. Na conquista inédita da Copa Sul-Americana, 5 dos 11 titulares da decisão contra o Junior Barranquilla (COL) eram formados em casa. A tática voltará a ser adotada neste ano.

 

Já o Grêmio viu o número de jogadores da base utilizados no profissional crescer abruptamente em 2017, quando 37 atletas formados pelo clube foram escalados. Resultado direto da estratégia do técnico Renato Gaúcho de priorizar a Libertadores e relacionar um time alternativo nos outros torneios disputados.
 
A conquista do título continental naquele ano fez o clube repetir a tática em 2018, sem o mesmo sucesso.
 
Para Júnior Chávare, ex-coordenador da base gremista e atual executivo da K2 Soccer, que administra o Tubarão-SC, é possível um clube usar a base e conquistar títulos no profissional. Isso, segundo ele, depende do que a diretoria quer para o futuro.

 
“Chegamos em 2013 no Grêmio, sentamos, discutimos e analisamos com o presidente Fábio Koff [1931-2018], e ele determinou: o clube vai priorizar formar jogadores a ganhar títulos na base. Ele dizia, ‘se no final do ano você me der um jogador para o profissional, prefiro isso do que cinco títulos na base’”, lembra Chávare.
 
O executivo afirma que, em um primeiro momento, a ideia de utilizar a base veio por necessidade financeira.
 

“Naquela época, o time tinha Kleber, Elano, Zé Roberto, Barcos… O presidente elaborou um projeto de 4 a 6 anos. No time campeão da Copa do Brasil de 2016, tínhamos tinha mais de 60% de jogadores oriundos da base”, diz.
 
A safra gremista dos últimos cinco anos conta com nomes de destaque, como Luan e Everton, que ainda estão no time, além de Walace (Hannover), Pedro Rocha (Spartak Moscou) e Arthur (Barcelona).

 
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