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Demissão de 5 dos 7 treinadores negros da NFL deixa times da liga sob pressão

Equipes são obrigadas a considerar candidatos de grupos minoritários em contratações

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Bill Pennington Ken Belson
Nova York | The New York Times

Os 32 proprietários dos times da National Football League (NFL), a principal liga de futebol americano profissional dos Estados Unidos, fizeram um anúncio inesperado ao final de uma reunião, algumas semanas atrás: as regras que obrigam os times a considerar candidatos minoritários nas contratações para suas comissões técnicas e seus postos executivos seriam fortalecidas.

No momento do anúncio, a NFL declarou que estava apenas tentando reforçar a regulamentação existente, e não reagindo a críticas de que os times estavam contornando as regras já há anos.

"Nosso foco era simplesmente como melhorar a Regra Rooney", disse Robert Gulliver, vice-presidente de recursos humanos da NFL, em referência à regra adotada em 2003 e que leva o nome de Dan Rooney, então proprietário do Pittsburgh Steelers, que pressionou por sua adoção.

Agora, o compromisso declarado da liga para com a regra será colocado em teste.

Na segunda-feira, o número de treinadores negros demitidos em 2018 subiu a cinco, o que deixa apenas dois treinadores negros no comando de equipes, em uma liga na qual pelo menos 70% dos jogadores são negros.

A raça já é uma questão muito discutida, com relação à liga. Colin Kaepernick, ex-quarterback do San Francisco 49ers que começou a se ajoelhar durante a execução do hino nacional antes dos jogos da NFL, em 2016, em protesto contra o racismo e a brutalidade policial para com pessoas não brancas, está fora da liga há duas temporadas.

Os protestos dele amplificaram um debate já polarizador que acontecia no país, e ele abriu um processo contra a NFL, acusando os proprietários dos times de conluio para mantê-lo fora de campo.

Que treinadores percam seus empregos ao final da temporada regular da NFL é algo de rotineiro e esperado. Eles sucumbem à pressão impiedosa dos torcedores e proprietários, que exigem sucesso todo ano.

Mas, diante da pressão que existe sobre a NFL por elevar o número de treinadores e executivos minoritários, a composição da mais recente leva de treinadores demitidos foi especialmente chocante.

Quatro treinadores negros foram demitidos no domingo (30) ou na segunda-feira (31), entre os quais Todd Bowles, do New York Jets, cuja dispensa foi anunciada pouco depois da derrota final de seu time, no domingo. Nas três últimas temporadas, o Jets ganhou 14 e perdeu 34 partidas, sob o comando de Bowles.

Todd Bowles, ex-técnico do New York Jets, durante a última partida da temporada 2018
Todd Bowles, ex-técnico do New York Jets, durante a última partida da temporada 2018 - Jim Rogash - 30.dez.18/AFP

Marvin Lewis, que comandava o Cincinatti Bengals desde 2003, foi demitido na segunda-feira. Ainda que tenha reanimado o moribundo Bengals e levado o time aos playoffs diversas vezes, ele não venceu qualquer jogo de playoff à frente do time, e a temporada encerrada no domingo foi a terceira consecutiva em que a equipe sofreu mais derrotas do que vitórias.

Outro dos demitidos na segunda-feira foi Vance Joseph, treinador do Denver Broncos, que comandou a equipe do Broncos em suas duas primeiras temporadas consecutivas de mais derrotas que vitórias desde o começo da década de 1970.

No Arizona, Steve Wilks treinou o Cardinals por apenas uma temporada, mas foi demitido na segunda-feira, depois que seu time fechou o ano com três vitórias e 13 derrotas, a pior campanha da NFL.

Em outubro, outro treinador negro, Hue Jackson, foi demitido, depois que seu time registrou três vitórias, 36 derrotas e um empate em cerca de 2,5 temporadas sob sua direção.

Os dois treinadores negros que continuam na NFL são Anthony Lynn, do Los Angeles Chargers (12 vitórias, quatro derrotas), que joga domingo (6) na primeira rodada dos playoffs contra o Baltimore Ravens, e Mike Tomlin, do Pittsburgh Steelers (nove vitórias, seis derrotas, um empate).

Ron Rivera, do Carolina Panthers, que é latino, é o único outro treinador minoritário que resta na liga.
Com oito vagas abertas para treinadores, é possível que alguns dos profissionais recentemente demitidos sejam candidatos ao comando de outros times. Sua experiência e suas qualidades podem funcionar melhor em outras equipes.

Ron Rivera, técnico do Carolina Panthers e que tem origem latina
Ron Rivera, técnico do Carolina Panthers e que tem origem latina - Sean Gardner - 30.dez.18/AFP

Jackson, por exemplo, fez parte da comissão técnica de Lewis em Cincinatti. Há outros candidatos minoritários, como Eric Bieniemy, coordenador de ataque do Kansas City Chiefs, e David Shaw, treinador do time de futebol americano da Universidade Stanford, cujos nomes vêm sendo mencionados nas discussões sobre os postos em aberto.

Mas as próximas semanas inquestionavelmente vão causar mais escrutínio sobre as práticas de contratação de pessoal da NFL, e sobre a confiabilidade da Regra Rooney, ou o interesse dos times em aplicá-la.

Gulliver não admitiu algo de que muitos observadores e muita gente da NFL suspeitam há um bom tempo: os clubes vêm fazendo o estrito mínimo para cumprir a Regra Rooney, ou vêm encontrando maneiras de contorná-la.

Afinal, se a regra estivesse funcionando da maneira pretendida, a porcentagem de treinadores e executivos minoritários estaria crescendo firmemente, e a regra não precisaria ser reforçada

Com as mudanças adotadas algumas semanas atrás, quando os times estiverem buscando preencher postos vagos, precisam entrevistar pelo menos um candidato minoritário da lista mantida pelo conselho consultivo de carreiras da NFL ou um candidato minoritário que já não esteja trabalhando para o time.

Os times também precisam manter registros detalhados sobre quem entrevistam, o que talvez seja uma resposta a críticas de candidatos minoritários que dizem ser contatados rotineiramente, mas não entrevistados, por times que tentam fazer o mínimo necessário para cumprir suas obrigações.

Quando a Regra Rooney foi estabelecida, ela inicialmente pareceu estar causando impacto. Em 2011, oito times da NFL tinham treinadores não brancos, o maior número já registrado na história da liga.

Mas a contratação de executivos negros não avançou no mesmo ritmo. Recentemente, um dos poucos diretores esportivos negros da liga, Reggie MacKenzie, escolhido como executivo do ano pela NFL em 2016, foi demitido de seu posto como presidente de futebol do Oakland Raiders.

Ozzie Newsome, outro diretor esportivo negro, deve se aposentar de seu posto no Baltimore Ravens quando a temporada do clube terminar.

A NFL também vem encontrando dificuldades em seus esforços para expandir as oportunidades para treinadores assistentes negros, uma posição que serve de trampolim natural para o comando de um time.

Richard Lapchick, diretor do Instituto de Diversidade e Ética no Esporte, apontou em um relatório de 2017 que a percentagem de treinadores assistentes não brancos havia caído ligeiramente, para 31,4%. O número de coordenadores de ataque ou defesa negros caiu de 14 para 13 naquela temporada, afirmou Lapchick.

Porque os treinadores assistentes tipicamente perdem seus empregos quando o treinador é demitido, o número de posições vagas nas comissões técnicas da NFL esta semana chega a algumas dezenas, mesmo que as atenções se concentrem nos oito postos de treinador principal.

Muitas entrevistas vão acontecer na NFL, e apenas algumas semanas depois que os 32 proprietários decidiram implementar regras mais firmes para aumentar o número de candidatos minoritários considerados seriamente para esses postos.

Tradução de Paulo Migliacci

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