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'Gato' da Copinha vai jogar o Paulista e tenta a redenção no futebol

Em 2017, zagueiro Heltton Rodrigues jogou a Copa São Paulo com documento de atleta mais jovem

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Centro de treinamento do Audax, em Osasco, quinta-feira (10). Na sala de musculação do clube, às 9h, surgem tímidas imitações de miados de gato entre os jogadores que se preparam para o trabalho físico.
O alvo da brincadeira está ali sentado e tira tudo de letra, com um sorriso largo.

“Já estou acostumado. Eles tiram sarro”, afirma o zagueiro Heltton Matheus Cardoso Rodrigues, 24.
Na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2017, ele defendeu o Paulista de Jundiaí com documento de outro jovem (Brendon Matheus Lima dos Santos), três anos mais novo.

No jargão do futebol, quem adultera a idade é conhecido como gato. As brincadeiras com Heltton não param por aí. “Ele é o nosso cat black (gato preto, em inglês). Fala aí, gatão”, diz Adriel, atacante e companheiro de Audax.

Heltton Rodrigues, 24, no centro de treinamento do Audax 
Heltton Rodrigues, 24, no centro de treinamento do Audax  - Rivaldo Gomes/Folhapress

Heltton sorri, arruma o uniforme e brinca com uma bola. Antes da estreia do time na Série A-3 do Paulista, contra o Taboão da Serra, no próximo dia 19, o trabalho é forte: treino em dois períodos, alimentação e descanso para começar bem a temporada.

“A conduta muda quando a gente se compromete com a verdade. Colhi o que plantei e fui punido. O ponto de partida para essa volta por cima só depende de mim”, diz.

“Fiquei muito assustado. O mundo caiu na minha cabeça. Fiz aquilo para tentar um futuro melhor, buscar um lugar ao sol como jogador. Mas agora o momento é outro”, lembra.

Heltton foi suspenso do futebol por 360 dias, em decisão do Tribunal de Justiça Desportiva, e punido com o pagamento de uma multa de R$ 500.

No período, o amparo veio de Vampeta, que o levou para o Audax. O ex-jogador do Corinthians e da seleção é presidente do clube de Osasco.

“Ele [Vampeta] estendeu a mão para mim em um momento em que todos me criticavam”, diz o atleta.

Sem poder jogar profissionalmente, Heltton atuou no Esporte Clube Vai-Vai, que disputou a Liga Paulista de Futebol —campeonato que reúne equipes não filiadas à FPF (Federação Paulista de Futebol). Enquanto esteve suspenso, estudou jornalismo esportivo e chegou a iniciar uma faculdade de educação física.

Nas visitas que fazia aos pais em São Gonçalo —município do Rio de Janeiro a cerca de 30 quilômetros da capital fluminense— nessa época em que esteve parado, Heltton trabalhou voluntariamente no Doutores da Aliança, grupo que faz atividades com crianças hospitalizadas.

Com amigos de infância do bairro Jardim Catarina, ele se vestia de palhaço para alegrar os pacientes do pronto-socorro da cidade. “Era uma alegria só. Elas piravam, adoravam, e isso fazia um bem danado para a gente”, comentou.

Passado o trauma da Copinha, Heltton agora pensa em ajudar a família. “Quero dar uma velhice digna a eles. Meus pais moram no quintal da casa de meus avós. Eles merecem tudo de melhor.”

Em 2019, ele disputará a terceira divisão do Campeonato Paulista. De outubro a dezembro do ano passado, Heltton disputou a segunda divisão do Estadual do Rio de Janeiro com o Audax-RJ.

“Chegamos na semifinal da competição e fiquei entre os melhores zagueiros do campeonato. Fiz até gol no jogo contra contra o América-RJ”, diz.

Na Série A-3 de São Paulo, Heltton deverá entrar em campo no próximo fim de semana contra o Taboão da Serra. Seu primeiro desafio na competição será marcar o atacante Túlio Maravilha, de 49 anos, ex-Botafogo e seleção brasileira.

“O Túlio é um cara muito forte e que se cuida bastante. Vamos ver como vai ser em campo”, afirma.
Na família de Heltton, futebol é uma paixão. O pai, Nilton Lima, chegou a jogar nas categorias de base do Fluminense de Feira de Santana (BA).

“Futebol é como pé de manga. Você planta, rega e tem que esperar um tempo para colher os frutos. Eu era muito pobre e tive que parar para ajudar em casa. Mas com o Heltton pode ser diferente”, diz Lima, 50.

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