Neymar causa inveja porque é milionário, famoso e bonito, diz Daniel Alves

Em entrevista à Folha, lateral fala sobre o amigo, derrota na Rússia, Copa de 2022, 7 a 1 e mais

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Daniel Alves e Neymar comemoram gol do Paris Saint-Germain sobre o Bordeaux, pelo Campeonato Francês
Daniel Alves e Neymar comemoram gol do Paris Saint-Germain sobre o Bordeaux, pelo Campeonato Francês - Nicolas Tucat/AFP
Tiago Leme
Paris

Daniel Alves tem uma meta na carreira: disputar o Mundial de 2022, quando estará com 39 anos. Pensar mais do que correr o ajudará a superar qualquer desvantagem física pela idade avançada, acredita o lateral do Paris Saint-Germain.

"Hoje, no futebol, tem muita gente que corre e pouca gente que pensa. Então, normalmente as pessoas que pensam conseguem se destacar um pouco mais", diz à Folha.

Jogador mais experiente da equipe de Tite, Daniel Alves não foi ao Mundial da Rússia. Lesão no joelho direito sofrida em maio o tirou da lista de convocados. De longe, viu a seleção ser eliminada pela Bélgica nas quartas de final.

"Não fiz falta como jogador", diz sobre sua ausência na Copa, mas "como espírito e como alma eu acredito que sim", completa. "Eu consigo, onde eu estou, criar um ambiente muito saudável, um ambiente de soluções e não de problemas", explica.

Recuperado da lesão, Alves lembra que que chorou bastante na época do corte. Ele voltou a jogar em novembro.

 

Com 38 títulos conquistados como profissional, o que ainda falta na sua carreira de jogador? Sem dúvida nenhuma, a cereja do bolo seria conseguir o Mundial com a seleção brasileira. A diferença do Mundial para a Champions é que o Mundial consegue alegrar um país, a Champions alegra um certo setor do futebol. Eu falei uma vez com o Buffon [atualmente goleiro do PSG]: "Você está lutando por um título que eu já tenho, a Champions, e eu lutando pelo Mundial. Podemos trocar".

Na Copa de 2022 você terá 39 anos. Ainda pensa em disputar o Mundial no Qatar? Meu objetivo é lutar para estar na Copa. Sei que ainda falta muito, mas na vida você tem que visualizar as coisas e se preparar para chegar até elas. A outra Copa ficou meio que engasgada por eu não ter ido, então me vejo em condições, pelo que faço no meu cotidiano, na preparação mental. Tudo é uma questão de preparação.

Pela idade, você pensa em mudar de posição? Ir para o meio campo, por exemplo? Até essa competição eu não gostaria de mudar de posição. Eu acredito que hoje no futebol, apesar de ser muito físico, tudo é uma questão de inteligência. Tem muita gente que corre e pouca gente que pensa. Então, as pessoas que pensam conseguem se destacar um pouco mais. Eu não sou idiota, sei que quando você chega numa idade as pessoas acham que você não tem mais para dar, mas a preparação não é só física, ela é mental. Tive o Xavi no meu time. Ninguém é mais rápido do que a bola.

Você acha que fez falta na Copa de 2018? Qual foi o principal problema da seleção? Como jogador eu te asseguro que não, mas como espírito e como alma eu acredito que sim. Eu consigo, onde eu estou, criar um ambiente muito saudável, um ambiente de soluções e não de problemas. Eu acho que o grande problema da seleção nesta Copa foi que a gente não tinha atravessado nenhum período turbulento até então e, quando chegou esse período, a gente não soube reagir. O jogo contra a Bélgica foi o problema maior durante a trajetória. Normalmente, os europeus são mais frios nesse aspecto, é o que a gente tem que melhorar. Isso é um problema geral do Brasil.

Após a sua lesão no joelho, você achou em algum momento que teria condições de disputar a Copa de 2018? Quando bateu a dor ali no campo eu já sabia que não daria mais, mas eu não queria perder as esperanças. Eu sou brasileiro, nunca perdi a esperança. A única coisa que eu pedi aos médicos foi que eles fossem rápidos e sinceros, que eles não dessem voltas para me falar que o problema era grave. O médico do PSG não quis me falar, ele queria ver os exames, mas eu já sabia que não dava. Depois chegou Rodrigo [Lasmar, médico da seleção] aqui, que veio só para me dar o xeque-mate.

 

Você chorou? Chorei sozinho, porque eu não sou de ferro, não sou uma máquina. Isso foi quando cheguei na minha casa, depois do jogo, porque eu estava me fazendo de forte para todo mundo. Eu não gosto de chorar em público, não gosto de fraquejar em público, porque teu fraquejo é tua debilidade, as pessoas se aproveitam muito disso.

O Neymar se abalou com as críticas pelo excesso de quedas na última Copa? Não tem jeito de não se abalar, ele é um ser humano, não pense que é uma máquina. O Neymar pra mim é como um filho, apesar da irmandade que temos. Eu sei tudo o que passa na cabeça dele. Só que o Neymar é muito inteligente, as pessoas que não conhecem acham que o Neymar é o moleque avoado. Ele tem uma coisa hoje que causa a maior inveja nas pessoas. É milionário, famoso, bonito, então não tem jeito.

O desentendimento que o Neymar e você tiveram com o Cavani na temporada passada atrapalhou o PSG? Nós brigamos [faz o sinal de aspas] com Cavani. Naquele momento ali os egos estavam na frente do que realmente somos. Hoje eu olho a situação e dou risada. Foi uma coisa que peguei a bola, o Cavani veio tentar tirar a bola de mim, eu escondi a bola, o Neymar veio, pegou a bola e eu deixei. Parecíamos crianças. Em 20 anos de carreira, nunca briguei com companheiro. Eu falei para o Edi: "Não dá para a gente conviver com essa energia ruim junto um do outro, claro que eu te respeito, você está aqui há não sei quanto tempo, eu vim só pra somar". Quando o ego aflora, às vezes ele toma a frente. E o ego sempre faz m...

Você pode falar em quem votou na última eleição para presidente do Brasil? O que acha dos jogadores se manifestarem politicamente? Eu sempre falo uma coisa: voto é privado, opinião política deveria ser privada. Ponto e acabou. Esquece o jogador Lucas [Moura], esquece o jogador Felipe Melo [que manifestaram apoio a Jair Bolsonaro]. Não é o jogador tal que se posiciona, é o cidadão. Porque as pessoas escolhem um partido e você tem que respeitar.

Qual o sentimento que você tem do 7 a 1? O que o Felipão poderia ter feito de diferente? Para mim, não marcou. As pessoas dramatizam muito. Sou muito objetivo, 1 a 0 ou sete te deixam fora, a dor é a mesma. Perdeu, perdeu. Mas você sempre pode fazer algo diferente. Quando o jogo estava naquela situação, achei que teria que ter uma mudança de estratégia. Estava no banco sem poder falar nada, não queria me sobrepor a quem estava no comando, mas minha vontade era pegar todo mundo e falar para ter uma reação, qualquer que fosse.

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