Sem dinheiro, presidente do Santos prevê ano extremamente difícil

Peres, porém, diz que para ser rebaixado no Brasileiro time tem de ser sem-vergonha

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São Paulo

Um ano após assumir a presidência, José Carlos Peres, 70, conta uma história para ilustrar a dificuldade em comandar o Santos.

Em junho de 2018, o clube recebeu R$ 1,5 milhão de um patrocinador. O dinheiro chegava na hora ideal para pagar contas urgentes. Horas depois, quando o departamento financeiro percebeu, havia apenas R$ 200 mil no banco. O restante tinha sido bloqueado por decisão judicial referente a processo iniciado por Lino, ex-técnico das categorias de base.

“Ele abriu a reclamação trabalhista em 2015 e ganhou à revelia. O Santos nem se defendeu. São situações como essa que aparecem”, afirma Peres à Folha.

 
O presidente do Santos, José Carlos Peres
O presidente do Santos, José Carlos Peres - Ivan Storti - 09.set.18/Divulgação

Após enumerar os problemas que enfrentou até agora, ele aperta os cintos para 2019. Não tem grande esperança que será menos complicado do que foi 2018.

“O ano de 2019 será difícil. Extremamente difícil”, avalia. “O clube estava um caos [em 2018], assumimos com dez contas bancárias zeradas e tudo era para pagar no curto prazo”, diz sobre o primeiro ano à frente do Santos.

Com forte oposição no conselho deliberativo, suas contas referentes a 2018 podem ser rejeitadas. Há chance disso desaguar em novo processo de impeachment e mais desgaste político. Peres chama seus opositores de “a turma do mal”.

Mas o cartola afirma ser a falta de dinheiro o motivo de maior preocupação. O Santos começou 2019 devendo dois meses de direito de imagem para o elenco profissional. Derliz Gonzalez se apresentou para a pré-temporada com atraso por causa disso.

A diretoria fez um empréstimo de R$ 82 milhões, a juros de 6,5%, da empresa Sport Value para quitar as dívidas com elenco e pagar outros débitos. O dinheiro será ressarcido (mais os juros) quando o Real Madrid depositar a segunda parcela da compra de Rodrygo, em julho.

“Os clubes da Série A vão receber uma merreca de direitos de TV. O Santos vai receber metade da merreca porque assinou com o Esporte Interativo”, lamenta.

Ao renovar com o grupo Globo em TV aberta e pay-per-view, Peres aceitou um redutor no valor a ser embolsado pelo clube. A condição foi colocada pela emissora porque o clube fez acordo, quando o presidente era Modesto Roma Júnior, com o Esporte Interativo para as transmissões a cabo.

Se a preocupação de Peres é em fechar as contas, o medo do torcedor está dentro de campo. O time não conquistou nenhum título no ano passado e ficou sem vaga na Libertadores. Até agora, a diretoria conseguiu anunciar apenas a contratação do venezuelano Soltedo, 21, meia-atacante.

Jorge Sampaoli está descontente com a lentidão na aquisição de reforços. Seu advogado entrou em contato com a diretoria para saber o que está acontecendo.

“Contratar sem dinheiro é difícil, não é? Qualquer jogador que queremos o preço é muito alto. Sem grana, não tem como fechar acordo”, confessa.

O Santos espera anunciar nos próximos dias a chegada do zagueiro Felipe Aguilar, colombiano do Atlético Nacional (COL).

Ainda tenta resolver a situação de Bruno Henrique. Quem deseja mantê-lo é Sampaoli. Peres não faz tanta questão assim, irritado pelas declarações do jogador nos bastidores, de que deveria se comportar como Arrascaeta, que brigou para trocar o Cruzeiro pelo Flamengo e conseguiu.

A avaliação da diretoria é que se o jogador tiver um 2019 igual a 2018, aí sim será inviável vendê-lo. Bruno Henrique interessa a Flamengo e Cruzeiro.

“Sampaoli chegou e pediu cinco reforços. É um número razoável, mas há um certo receio em mudar tantas peças no time assim, pela questão do entrosamento. Se você vai mudando aos poucos, tudo bem, mas trabalhamos para atendê-lo porque é um técnico excepcional”, completa.

O presidente sabe qual é o medo maior do torcedor. O desejo é disputar títulos, mas o que o santista deseja evitar a qualquer preço é brigar contra o rebaixamento no Brasileiro. Há o orgulho de que a equipe jamais caiu para a Série B. A Torcida Jovem, a maior organizada do clube, tem faixa que diz “em segundo, algumas vezes. Na segunda, jamais.”

Peres promete que isso não vai acontecer. “Dentro de campo, não tenho medo. Quer dizer, até tenho, mas estou confiante com os reforços. Um time para ser rebaixado neste Campeonato Brasileiro de 20 times tem de ser sem-vergonha.”

Erramos: o texto foi alterado

O nome do zagueiro que o Santos tenta contratar é Felipe Aguilar, não Aguilera. O texto foi corrigido

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