Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Impasse entre Globo e Palmeiras ameaça produto de R$ 1,4 bilhão

Falta de acordo para exibir jogos em pay-per-view deixa operadoras em alerta

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Palmeiras ergue a taça de campeão brasileiro de 2018 após partida contra o Vitória
Palmeiras ergue a taça de campeão brasileiro de 2018 após partida contra o Vitória - Ale Cabral-2.dez.18/Agif/Folhapress
São Paulo

O impasse nas negociações de Palmeiras e Athletico-PR com o Grupo Globo para venda dos direitos de transmissão em pay-per-view de jogos no Campeonato Brasileiro deste ano atinge produto que movimentou R$ 1,4 bilhão em 2018. A indefinição preocupa as operadoras de TV por assinatura, que lucram com a venda da transmissão para seus assinantes.

Isso porque o principal atrativo dos pacotes de jogos em pay-per-view negociados por essas empresas é a possibilidade de o torcedor ver todos os jogos do campeonato em casa. Sem o acerto, 74 das 380 partidas do torneio (19,5%) não poderão ser exibidas —segundo a Lei Pelé, uma partida só pode ser transmitida com a anuência dos dois times participantes—, o que poderia impactar na receita dessas empresas.

Segundo Diogo Moyses, líder do programa de telecomunicações do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a redução do número de jogos exibidos pode levar a questionamentos na Justiça de assinantes que adquiriram os pacotes pela promessa de assistir a todas as partidas da competição.

“O ideal é que as empresas fizessem um comunicado aos assinantes relatando a situação e apresentando as possibilidades. A primeira seria o cancelamento do contrato sem custo; a segunda seria o desconto proporcional à quantidade de jogos que não serão transmitidos”, diz.

A NET/Claro corre risco a mais de sofrer reclamações de consumidores porque anunciam em seus sites que os clientes que assinarem o serviço terão direito a todos os jogos do Brasileiro. Os anúncios continuavam no ar ao menos até a tarde desta quarta (20).

Oi TV e Sky não fazem a mesma promessa. A Globo, que vende os jogos por serviço de streaming, oferecia 100% das partidas, mas depois mudou o texto de sua propaganda.

“Quem já comprou tem direito a ser restituído proporcionalmente ao que pagou”, afirma Diogo Moyses.
O preço da assinatura do Premiere, canal que transmite os jogos de futebol em pay-per-view do Grupo Globo, varia de R$ 79,90 a R$ 109,90 por mês, dependendo do tipo de pacote e da operadora. Os valores se mantém no mesmo patamar da temporada passada.

Carlos Cesar Marera, diretor de fiscalização do Procon-SP, afirma que inda não apareceram reclamações sobre o assunto no órgão.

“Quando ou se acontecer o prejuízo, vamos tomar as devidas providências”, afirma.

A aproximação do início da competição —a primeira rodada da Série A do Brasileiro está marcada para o fim de semana dos dias 27 e 28 de abril— torna a situação ainda mais preocupante para as operadoras de TV por assinatura. As empresas acompanham com atenção as tratativas, e têm pressionado a emissora a chegar a um acordo.

Palmeiras e Athletico-PR não aceitaram as propostas do Grupo Globo por divergências em relação a alguns itens do contrato.

A emissora quer estabelecer um redutor no valor a ser pago porque as duas equipes negociaram seus direitos de transmissão em TV fechada com a Turner, empresa que controla os canais Esporte Interativo, TNT e Space, entre outros.

O Grupo Globo entende que essa decisão atrapalha a viabilidade do modelo de negócio. A empresa terá menor poder para determinar o horário de realização das partidas do que se os clubes tivessem os jogos exibidos por emissoras da empresa em canal aberto, fechado e em pay-per-view.

O Palmeiras também contesta o cálculo usado para dividir o lucro obtido com a venda de pacotes de pay-per-view. É feita pesquisa entre os assinantes e os times com mais torcedores recebem porcentagem maior.

O clube diz que não há lógica na medida, já que as partidas do Palmeiras também atraem torcedores de outras equipes.

O Athletico-PR já conversa com outros possíveis parceiros. O presidente do conselho, Mario Celso Petraglia, afirmou que terá reunião com o Facebook na segunda (25) para falar sobre a exibição de jogos do clube na rede social.

A divisão dos direitos do Brasileiro entre Esporte Interativo e SporTV atinge um dos principais canais do Grupo Globo na TV paga.

Criado em 1994, o SporTV era até este ano o único a exibir jogos do campeonato ao vivo. Com a exclusividade na transmissão desse e de outros torneios, ele cobra uma das taxas de ativação —valor repassado pelas operadoras às emissoras— mais caras do mercado. A Folha apurou que o SporTV recebe pouco mais de R$ 10 por mês por assinante que tenha o canal. 

As operadoras não divulgam quantos clientes têm o SporTV. A Sky oferece 11 tipos de pacotes e 8 deles com o canal. Na NET/Claro existem 3 pacotes e apenas 1 não tem SporTV. No caso da Oi TV, a emissora está em 2 dos 4 pacotes possíveis.

Segundo a Anatel (Agencia Nacional de Telecomunicações), em setembro de 2018, haviam 17,8 milhões de clientes de TV por assinatura no Brasil. 

Considerando o valor repassado, o SporTV tem uma receita potencial de R$ 2,13 bilhões por ano.
Oi e Sky não quiseram comentar. A NET afirmou que o assunto deve ser tratado com o Grupo Globo. 
Em nota, a unidade de esportes do grupo Globo disse não ter  prazo para encerrar as conversas com os clubes:

“A oferta de conteúdo do Campeonato Brasileiro 2019 junto às operadoras vai continuar funcionando de acordo com os direitos contratados com os clubes da série A. Acompanhamos de perto as demandas dos consumidores de esporte para então buscarmos as melhores estratégias e conteúdos disponíveis no mercado. As negociações com os mesmos seguem em andamento e não temos necessariamente um deadline para encerrar as conversas. Todas as informações legais e do produto já foram disponibilizadas às operadoras, bem como em nossas páginas de venda.”

Veja o que a Folha já publicou sobre os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro

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