Descrição de chapéu The New York Times

Jogadora de futebol tenta se tornar profissional aos 13 anos nos EUA

Olivia Moultrie atua em universidade, fechou contrato com agência e faz propaganda para Nike

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Andrew Keh
New York | The New York Times

Dois anos atrás, em uma decisão que encantou algumas mulheres no esporte mas causou choque a outras, Olivia Moultrie anunciou ter aceitado a oferta de uma bolsa de estudos para jogar futebol na Universidade da Carolina do Norte. Ela tinha 11 anos.

Na segunda-feira (25), Moultrie, a mais jovem atleta a aceitar uma bolsa de estudos no futebol feminino, se tornou a menina mais jovem a declarar sua intenção de abandonar o esporte universitário. 

Ela anunciou ter assinado um acordo de representação com a agência esportiva Wasserman Media Group e um contrato de patrocínio com a Nike. Com isso, Moultrie começou formalmente sua carreira profissional.

Spencer Wadsworth, o agente de Moultrie, se recusou a revelar os termos do contrato com a Nike, limitando-se a declarar que seu valor financeiro é mais alto que o de uma bolsa de estudos de quatro anos de duração em uma grande universidade –tipicamente avaliada em cerca de US$ 300 mil (R$ 1,2 ,milhão).

 

"É uma virada no esporte feminino", disse Wadsworth. "Agora, veremos com frequência cada vez maior o futebol feminino se aproximar do patamar do futebol masculino, e as jogadoras terão mais oportunidades".

Moultrie já atraiu atenção internacional por seu talento prodigioso, e pela abordagem não tradicional que sua família adotou quanto à sua carreira nascente. Ela joga há muito tempo com meninas mais velhas, na seleção juvenil dos Estados Unidos, e em clubes de meninos na região em que vive, no condado de Canyon, Califórnia.

No ano passado, Moultrie fez diversas viagens à Europa para reuniões e treinamentos em alguns dos maiores clubes do continente: Olympique Lyon e Paris St.-Germain, na França; e Bayern de Munique, na Alemanha. E com a ajuda de seu pai, K.C., ela vem mantendo presença ativa na mídia social, postando frequentemente vídeos sobre suas melhores jogadas, para seus 87 mil seguidores no Instagram.

"Acredito que, para literalmente todas as meninas do futebol, ir para a universidade é o caminho certo; elas não encontrarão US$ 1 milhão (R$ 3,6 milhões) no fim do arco-íris", disse K.C. Moultrie em entrevista ao The New York Times, no ano passado. "Mas acho que se você é uma atleta realmente de primeira linha, se seu objetivo é ser uma grande jogadora internacional, uma profissional –e, no caso de Olivia, a melhor jogadora do mundo–, jogar na universidade não é melhor que jogar em tempo integral, de maneira alguma".

O próximo passo de Moultrie ainda é incerto. Uma transferência para a Europa provavelmente é impossível, por alguns anos; as regras da Fifa, com algumas exceções, em geral impedem que os jogadores juvenis assinem com clubes estrangeiros antes dos 18 anos.

Umas perspectiva muito mais provável é que Moultrie passe a jogar na equipe de desenvolvimento de um dos clubes da NWSL, a principal liga de futebol feminino dos Estados Unidos. Mas esse caminho também apresenta obstáculos: antes que ela possa assinar um contrato profissional, a liga teria de criar regras novas a fim de lidar com sua situação única. Além disso, a idade mínima para jogar na NWSL é de 18 anos, hoje.

Moultrie vem seguindo um caminho heterodoxo há anos. Começou a treinar intensivamente para o futebol aos sete anos de idade, e desde a quinta série estuda em casa, para abrir mais espaço para o futebol em sua agenda; por fim, ela se tornou a primeira menina a defender um clube masculino de futebol, no sistema da Academia de Desenvolvimento do futebol dos Estados Unidos. Ela tinha 10 anos quando começou a participar de eventos para jovens talentos do futebol universitário, e aos 11 aceitou a oferta de uma bolsa de estudos integral da Universidade da Carolina do Norte.

Não é uma grande surpresa que ele tenha desistido da bolsa. Para começar, fabricantes de material esportivo como a Nike e a Adidas se interessavam há muito por Moultrie. No ano passado, quando ela ainda era amadora, a Nike a usou em uma campanha promocional para suas chuteiras. Na noite de domingo, Moultrie apareceu brevemente em um comercial da Nike exibido durante a cerimônia do Oscar.

Por meio de um porta-voz, a Nike se recusou a comentar sobre seu contrato com Moultrie.

Anson Dorrance, veterano treinador da Universidade da Carolina do Norte e responsável pela oferta de uma bolsa a Moultrie, disse em entrevista na segunda-feira que estava satisfeito por ela ter assinado um contrato por valor que ele presumia ser significativo, e apontou que  vasta maioria das jogadoras de futebol ainda enfrenta dificuldades para ganhar a vida no esporte. Ele disse que o contrato de Moultrie era um desdobramento positivo para o futebol feminino.

"Sabíamos o que estava na água, e o acontecido não nos incomoda",  disse Dorrance sobre a decisão de Moultrie. "Perdemos uma grande jogadora para o futebol profissional, e aceitamos completamente, se os incentivos financeiros eram bons".

Ainda que seja comum há muito tempo no futebol masculino americano que jogadores jovens saltem direto da escola para o esporte profissional, sem passar por uma universidade, essa transição até o momento fez sentido para apenas algumas meninas.

Só duas integrantes da atual seleção feminina dos Estados Unidos abriram mão de bolsas de estudo lucrativas para jogar profissionalmente. Mallory Pugh tinha 19 anos quando o fez, dois anos atrás, contratada pelo Washington Spirit, da NWSL antes mesmo de jogar sua primeira partida pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. Em 2012, Lindsey Horan foi contratada pelo Paris St.-Germain aos 18 anos, depois de ter aceitado uma oferta de bolsa de estudos da Universidade da Carolina do Norte.

Mas por fazê-lo aos 13 anos, Moultrie se tornou um caso extremo, mesmo que –como é provável– ela precise esperar alguns anos antes de ter a oportunidade de mostrar seu talento a uma audiência maior.
Dorrance disse que ela tem talento mais que suficiente para se sair bem. 

A única grande questão que resta, ele disse, é o quanto ela vai amadurecer fisicamente.

"Esse é o risco para qualquer garota jovem cuja ambição seja jogar em alto nível", disse o treinador, "ou para o fabricante de material esportivo que assine um contrato com um atleta assim jovem, ou para o time profissional que contrate alguém tão jovem".
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que foi informado em "Jogadora de futebol tenta se tornar profissional aos 13 anos nos EUA", US$ 300 mil correspondem a aproximadamente R$ 1,2 milhão, em valores convertidos. Na reportagem estava informado que valia R$ 1,2 bilhão. O texto foi corrigido. 
 

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