De santo a homem cebola, conheça a história do mascotes dos clubes

Antes raros, personagens presentes nos jogos do futebol brasileiro mostram a diversidade do país

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São Paulo

​Quase todo time tem uma mascote. Geralmente, esses personagens retratam a origem da agremiação ou alguma característica desejada pela equipe, como força, habilidade ou inteligência.

No futebol brasileiro, esses personagens tinham exposição tímida quando comparado ao que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, as mascotes são presença constante nos intervalos das partidas de basquete, futebol americano e beisebol, entre outros. No entanto, de alguns anos para cá, as mascotes vêm ganhando espaço nos gramados nacionais.

Os clubes perceberam o potencial dessas figuras e capitalizam recursos com ações de marketing e filantrópicas envolvendo esses personagens.

Confira nos textos abaixo histórias pitorescas das mascotes brasileiras, das pessoas que se caracterizam como os personagens que representam os maiores clubes do país e a origem da criação de figuras que se tornaram símbolos de equipes esportivas.

 

Time da fé

O Santo Paulo surgiu na década de 1940 como mascote são-paulino, mas só a partir de 2003 o personagem começou a aparecer frequentemente na beira do gramado nas partidas disputadas no estádio do Morumbi. Quem incorpora o santo é Severino Bianchi, 51, funcionário do clube desde 1988. Ex-motoboy, ele hoje trabalha como assistente de marketing e começou a usar a fantasia do personagem em 2001, dois anos antes de a função ser oficialmente criada pelo clube. A figura do Santo Paulo é explorada pelo departamento de marketing do São Paulo em ações sociais, no atendimento a crianças, em aparições em festas e em souvenirs, como camisetas e brinquedos, entre outros produtos.

 

Homem Cebola

Pelo seu estatuto, a Associação Olímpica de Itabaiana, do Sergipe, não possui uma mascote oficial. Informalmente, no entanto, os torcedores adotaram o Homem Cebola. Segundo o ex-diretor social do clube Matheus Lima, 25, que pesquisa a história do Itabaiana, a mascote faz menção à história da cidade, que já foi uma grande produtora de cebola. Há menção também no hino do clube, que cita a alcunha de “cidade celeiro” de Itabaiana.

 

Ventania

Em Santa Catarina, o Figueirense é representado por um furacão. A primeira associação do nome ao clube vem de 1951, por causa de um título invicto. A alcunha está presente no hino e a figura do furacão foi adotada como mascote espontaneamente pela torcida. O clube então resolveu criar o personagem  Furacão, apelidado pela torcida de Furacão do Estreito, que em 2012 recebeu o status de mascote oficial.

 

Um é bom, dois é melhor

Fundado em 1914, o Palmeiras foi um dos primeiros clubes a adotar uma mascote. Ainda em 1917, o Periquito foi escolhido. O animal simbolizava a cor do uniforme palmeirense, todo verde. Nos anos 1980, porém a torcida adotou outro animal como mascote, o Porco Gobbato. Após quase 20 anos considerando o apelido de porco uma ofensa, os torcedores aceitaram a alcunha e passaram a celebrá-la no estádio durante uma partida contra o Santos, pelo Brasileiro de 1986. Hoje, as duas mascotes são vistas nos jogos do Palmeiras. O clube, porém, esconde a identidade das pessoas que representam os personagens. 

De acordo com a assessoria de imprensa do time, revelar os nomes que vestem as mascotes não faria sentido. “A Disney não diz quem está por baixo dos seus personagens nos parques, e se você perguntar vão te dizer que o Pateta é o Pateta”, afirmou o clube.

Segundo o departamento de marketing do Palmeiras, a requisição pela presença das mascotes em eventos cresceu tanto nos últimos anos que o clube começou a cobrar pelas aparições. Para contratar apenas um dos personagens por três horas é preciso pagar R$ 900. A dupla sai por R$ 1.600.

 
 

Filhos do mesmo pai

Os três principais clubes de Minas Gerais adotaram animais como mascotes. Curiosamente, as figuras de Coelho (América-MG), Galo (Atlético-MG) e Raposa (Cruzeiro) foram criadas pela mesma pessoa. O artista plástico Fernando Pierucetti, o Mangabeira, fez os desenhos em 1945. Logo os três clubes entenderam que podem gerar recursos com as suas mascotes, com licenciamento de produtos e a presença em eventos.

 

Reino animal

Os animais são a principal fonte de inspiração para as mascotes no Brasil. O leão é o mais comum. No Pará, porém, o Paysandu inovou e criou a figura do bicho-papão, que depois virou o Papão da Curuzu, apelido criado pelo clube ser o maior “papão” de títulos da região Norte. Ainda assim, a agremiação recorre a um animal. Como o bicho-papão é uma figura abstrata, a equipe usa uma fantasia de lobo para representar a mascote

 

Donos do mar

Dois animais aquáticos já foram mascotes do Santos. Em 1921, o primeiro escolhido foi o Peixe. A Baleia o substituiu na década de 1950, mas houve resistência de alguns associados. Após discussões, decidiu-se que o Peixe é o apelido do clube e a Baleia a mascote. A dupla de mascotes que frequenta os jogos, Baleião e Baleinha, já virou até desenho animado na Vila Belmiro.

 

Mosqueteiros

Grêmio e Corinthians têm como mascotes a figura do Mosqueteiro. Nos dois clubes, há ao menos duas versões que explicam a escolha do personagem. Historiadores corintianos contam que após a vitória por 3 a 1 sobre o Barracas (ARG), em 1º de maio de 1929, a primeira do clube em jogos internacionais, o jornalista Tomás Mazzoni, do jornal “A Gazeta Esportiva”, enalteceu a vitória com a “fibra de mosqueteiro”, originando o apelido. Outra versão diz que ele nasceu em 1913, após o Corinthians ser comparado a D’Artagnan por se juntar a Americano, Germânia e Internacional na Liga Paulista.

No lado gremista, historiadores citam que a mascote foi instituída após uma charge de Pompeo, do jornal “Folha da Tarde”, no ano de 1946. A gravura fez tanto sucesso que gremistas levavam ao estádio imagens e faixas escritas “com o Grêmio, onde estiver o Grêmio”, frase que depois foi incorporada ao hino do clube, composto por Lupicínio Rodrigues. Oficialmente, a mascote simboliza a união e a bravura nas disputas, seguindo o espírito de “um por todos e todos por um”, lema dos protagonistas do livro “Os Três Mosqueteiros”, do francês Alexandre Dumas (1802-1870).

 
 

Sorriso virou dor

Em Fortaleza, Ronierbson Gomes e Silva era um show à parte como Tutuba |12|, o mascote do Ferroviário. Jornalistas que o viram em ação contam que, em determinadas partidas, era mais divertido vê-lo do que relatar o embate entre os atletas em campo. Em fevereiro de 2018, Roni “Tutuba”, como era conhecido no Ceará, não segurou a emoção quando o Ferróviario fez um gol em partida contra o Fortaleza. Sem cerimônias, invadiu o campo para comemorar e acabou recebendo cartão vermelho do juiz.

Mas essa foi apenas uma das várias estripulias que ele fez nos três anos como Tutuba. Já chegou ao estádio dirigindo motocicleta, dançou na bandeirinha de escanteio, bateu pênalti e fez gol olímpico. Um showman, adorado até pelos torcedores rivais. Em novembro, logo após a festa da comemoração do título da Taça Fares Lopes, Roni morreu aos 36 anos em um acidente de carro.

Muitos torcedores sentiram a falta do personagem durante o Campeonato Cearense e fizeram campanha para a sua volta. Quase seis meses depois, o Ferroviário decidiu ter de novo a mascote. Um torcedor, cujo nome não foi revelado, pediu para ser o novo intérprete e a diretoria do clube concordou com a ideia.

 

Pé-quente

O Novo Hamburgo, do Rio Grande do Sul, adotou sua atual mascote em 2014. O sapato Pé Quente faz referência à história do município, apelidado de capital nacional do calçado no início do século 20, e ao próprio clube, fundado por operários de uma fábrica de calçados.

 

O abnegado

Funcionário da Companhia Vale do Rio Doce em Vitória, no Espírito Santo, o técnico em manutenção ferroviária Dacio Ferreira, 39, herdou do pai a paixão pela Desportiva Ferroviária. Mas foi além e decidiu sozinho dar vida ao Maquinista, a mascote do clube capixaba. Em 2016, o torcedor pediu ao clube quatro camisas que foram leiloadas. Assim ele conseguiu R$ 1.800 para a fantasia do Maquinista, que, desde então, é sucesso dentro e fora de campo.

 

Saci-Pererê

O personagem folclórico começou a ser associado ao Internacional de Porto Alegre, em 1918, nove anos após a fundação do clube. Em seu site oficial, o clube diz que a figura do jovem negro e malandro, que engana os adversários com dribles e travessuras, foi diretamente associada à agremiação. Em 1960 uma revista do clube tinha como nome “O Sacy”. 

Apesar disso somente em 2016 o Saci se tornou oficialmente a mascote do Internacional, registrado no estatuto do clube.

 

Religiosidade e valentia

O Operário do Mato Grosso e o Luziânia escolheram figuras peculiares para serem suas mascotes. O time mato-grossense adotou o Homem Chicote como símbolo e a equipe do Distrito Federal a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, um dos locais mais famosos da cidade-satélite.

 

Palavra ‘mascote’ vem de ópera francesa

A palavra “mascote” tem origem francesa. Ela começou a ser usada após a popularização da ópera “La Mascotte”, de Achille Edmond Audran, que estreou no teatro Bouffes Parisiens, em Paris, em 29 de dezembro de 1880. Na trama, uma jovem camponesa acredita trazer boa sorte às pessoas, servindo como talismã para seus familiares. Com o passar dos anos, produtos, empresas e clubes esportivo passaram a adotar um personagem como algo que dá sorte

Federações regulam presença de mascotes nos estádios do país

A Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Paulista de Futebol adotam regras parecidas quanto à presença de mascotes nos jogos em que são os organizadores. Os clubes devem avisar antecipadamente, através de ofício, todas as ações de marketing.

Segundo a assessoria de imprensa da FPF, a mascote pode ficar dentro do campo até 15 minutos antes do início da partida, quando deverá se posicionar atrás do gol do seu time. No intervalo e após o término do confronto, o personagem pode voltar ao campo.

Em caso de expulsão, o árbitro deve relatar na súmula o motivo da exclusão. O relator do Tribunal de Justiça Desportiva analisa o caso e o funcionário que veste a roupa da mascote pode ir a julgamento. A pessoa pode ser suspensa, mas o tribunal não impede que o personagem esteja presente nos próximos jogos da equipe, desde que outra pessoa assuma a função.

A função de fiscalizar se a pessoa que veste a fantasia está ou não suspensa pelo tribunal é do delegado da partida.

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