Dono de estilo inconfundível, Roberto Avallone morre em SP, 'exclamação'

Comentarista e apresentador, era um dos jornalistas esportivos mais conhecidos do país

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Ao lado do comentarista Chico Lang, Roberto Avallone (à esquerda) posa para foto na avenida Paulista
Ao lado do comentarista Chico Lang, Roberto Avallone (à esquerda) posa para foto na avenida Paulista - Rossana Lana-31.jul.2000/Folhapress
São Paulo

​Foi como apresentador do "Mesa Redonda", programa dominical da TV Gazeta, que Roberto Avallone, 74, moldou sua imagem que ficou conhecida na televisão brasileira: os gestos exagerados, a (muito) mal disfarçada torcida para o Palmeiras e, principalmente, o jeito de falar. 

​Quando entabulava uma pergunta, fazia questão de dizer "interrogação" no final da frase. Ou se afirmava algo, "exclamação". A depender da empolgação, também poderia dizer "vírgula" ou "ponto". 

Quando queria uma resposta rápida do convidado, soltava: "no pique". 

Avallone morreu nesta segunda (25) pela manhã em São Paulo, vítima de um ataque cardíaco.

Há telespectadores que ainda lembram até de anunciantes do programa por causa da entonação do apresentador.

Como uma marca de sapatos em que ele girava o dedo ao falar o texto, como aspas, para dizer que os modelos eram "mezzo punto" (meio ponto). Era anunciante usado pelo próprio Avallone que tinha dedos maiores em um pé do que no outro. Isso fez com que ainda no período em que trabalhou no Jornal da Tarde, na década de 60, fosse chamado de "pezão". Ele ficava furioso com o apelido.

O texto irretocável dos tempos de repórter, chefe de reportagem do Jornal da Tarde ("o melhor da imprensa esportiva brasileira na história", afirma o radialista e apresentador Milton Neves) colidia com o temperamento difícil, de altos e baixos. 

A última vez que viu seu antigo amigo Alberto Helena Júnior, ex-colega de Jornal da Tarde, foi diante de um juiz. Avallone o processou por causa de uma entrevista do atual comentarista da TV Gazeta para o UOL. 

Outro momento de confronto foi na briga que teve com Milton Neves, ao vivo, em uma das edições do "Mesa Redonda". Discussão que teve jeito de debate eleitoral, com mediador, réplicas e tréplicas. As cenas entraram para o folclore da TV brasileira porque como aconteceram em agosto de 1997, quando a internet não estava popularizada, correram apenas no no boca a boca. Não foram muitos os que as viram ao vivo. Até que apareceu uma gravação do programa no YouTube. O clipe dura 40 minutos e tem mais de 250 mil visualizações.

Avallone e Neves logo depois fizeram as pazes.

"Foi a maior briga de dois jornalistas na história da TV brasileira. E não durou nada [a inimizade]. A gente logo conversou e se entendeu. O Avallone era difícil, via muitos fantasmas onde não existiam. Mas era uma pessoa boa. Um grande sujeito. Nos últimos tempos, a gente foi jantar várias vezes", relembra Neves.

Nascido na capital paulista e formado em ciências sociais, Roberto Avallone começou no jornalismo na versão paulista do jornal Última Hora, dirigido por Samuel Wainer, em 1966. Ficou 23 anos no Jornal da Tarde, onde recebeu duas vezes o Prêmio Esso de jornalismo.

Foi dele a ideia de uma das capas mais famosas da história da imprensa esportiva do país. Após o Palmeiras golear o Flamengo no Maracanã por 4 a 1 no Brasileiro de 1979, o rival seguinte seria o Internacional, que acabaria campeão nacional daquele ano. No dia do jogo, o diário estampou na capa a pergunta: "Falcão ou Mococa?"

Falcão era o maior jogador brasileiro na época. Mococa vivia boa fase, mas era um volante apenas esforçado. O Internacional venceu por 3 a 2 no Morumbi. Na edição seguinte, Avallone colocou na manchete a resposta para sua pergunta:

"Falcão."

"Fomos muito íntimos por décadas. Como jornalista era muito dedicado, competente. Tinha excelente memória. Sempre procurei apoiá-lo. Fosse no Jornal da Tarde, onde fui chefe dele. Quando deixei a chefia, briguei para que ele ficasse no meu lugar. Quando saí para ir para a Placar, lutei para que ele ficasse com a minha coluna. Em todos os lugares que fui, TV Record, Bandeirantes, sempre o levava", afirma Alberto Helena Júnior.

Avallone entrou para TV Gazeta em 1983 e foi no comando do "Mesa Redonda" que se tonou conhecido do grande público, dentro da fórmula consagrada dos programas esportivos da época: os melhores momentos dos jogos da rodada, presença de jogadores convidados e debates acalorados com os jornalistas defendendo seus times do coração sem dizê-los abertamente.

Cada vez que ouvia insinuação de ser palmeirense, o apresentador rebatia que era "jornalismo futebol clube."

Seu estilo inconfundível criou seguidores, imitadores e fez a festa de programas humorísticos que satirizavam o estilo de programa de debates de futebol do qual Avallone era o maior expoente. Ele não se irritava com isso. Considerava uma homenagem. 

Outra lisonja foi o convite para prestar depoimento sobre o Palmeiras (claro) no Museu do Futebol, em São Paulo. Serviu para superar o aborrecimento de não ter sido lembrado na época da abertura da atração, em 2008. A oferta veio por causa da intervenção do então governador do estado e também palmeirense, José Serra (PSDB-SP). 

Avallone trabalhou em todas as mídias. No rádio, passou por BandNews, Capital, Globo e Jovem Pan. Depois que saiu da Gazeta, esteve na Rede TV!, Bandeirantes e Record. Era convidado de atrações do SporTV e até a morte, apresentava programa na CNT. 

O "Redação SporTV", onde ele fazia participações semanais, prestou homenagem a Avallone.

Também era blogueiro do UOL.

Divorciado, ele deixa um filho (Caio) e duas filhas (Carolina e Anna Flávia). O corpo do jornalista será cremado na manhã desta terça (26), em Embu das Artes (39 km de São Paulo). 

Nas redes sociais,  o Palmeiras lamentou a morte.

" A Sociedade Esportiva Palmeiras lamenta o falecimento de Roberto Avallone e deseja toda força aos amigos e familiares do jornalista palmeirense", diz a mensagem postada pelo clube no Twitter.

Minutos após a confirmação da notícia, outros clubes também postaram mensagens de solidariedade.

Jornalistas e ex-companheiros de Avallone também usaram as redes sociais para lamentar a morte do apresentador.

Erramos: o texto foi alterado

Roberto Avallone morreu aos 74 anos, não aos 72, como informado inicialmente. O texto foi corrigido.

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