Problema em registro na Holanda deixa brasileiro sem jogar há 2 anos

Revelado no Santos, atacante Gabriel Costa vive imbróglio com clube europeu

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São Paulo

Gabriel Costa treinava no Taboão da Serra em abril de 2017. Ele estava nos planos do técnico Axel e se preparava para ser titular da equipe na segunda divisão do Campeonato Paulista. Foi quando veio a surpresa.

“Não podemos inscrever você”, lhe disse o presidente do clube, Anderson Nóbrega.

O nome do atacante, então com 20 anos, estava bloqueado no sistema de transferências de jogadores (TMS). Gabriel aparecia vinculado ao Westlandia, pequena equipe da 3ª divisão holandesa.

Começava a novela. Quase dois anos depois, o brasileiro continua parado, sem poder trabalhar. Além do Taboão da Serra, times como Montes Claros e Foz do Iguaçu tentaram regularizar sua situação e contratá-lo. Sem sucesso.

“São dois anos já que eu não sei qual é o problema. Falei várias vezes com o clube da Holanda, disseram que iam mandar minha liberação. E nada. Não consigo jogar. Quando fui para o Foz do Iguaçu fiquei até com vergonha. Não quis que eles me pagassem nada porque eu não tinha como ajudar a equipe em campo”, diz Gabriel, que mora em Maringá, no Paraná, à espera de uma solução.

A confusão quanto ao seu registro não é o único aspecto pouco usual na trajetória do atacante. Aos 22 anos, tecnicamente, ele nunca jogou futebol profissional. Revelado pelas categorias de base do Santos, passou por Jabaquara e Grêmio Prudente. Fez teste por três meses no Wolfsburg, da primeira divisão alemã, e voltou ao Brasil com a certeza de que havia sido aprovado e receberia oferta de contrato. Não aconteceu. “Até hoje não sei o motivo”, afirma.

Ele ficou seis meses no Academica Clinceni, da segunda divisão da Romênia. Teve pouco espaço e retornou.

Foi quando apareceu a chance de ir para a Holanda. No Westlandia, diz ter ido bem. Foi titular e o time brigava para subir. Gabriel tinha contrato amador, já que a equipe era semi-profissional.

Ele não recebia o salário do clube. Por causa de sua situação de trabalho como imigrante, a equipe depositava o dinheiro na conta de uma empresa do responsável pela intermediação da sua ida à Europa. Este lhe repassava uma quantia, até que o brasileiro descobriu que o empresário ficava com parte do salário.

Gabriel pediu para ser liberado, e o Westlandia deu a carta de rescisão. “Foi uma saída amigável. Não briguei com ninguém. Não sei por que isso está acontecendo.”

Os clubes do Brasil que tiveram interesse em contratar Gabriel procuraram a CBF. A resposta foi sempre a mesma: ele não tem condições de atuar até que a federação holandesa autorize a transferência. Para isso, é preciso que o Westlandia concorde.

“O Gabriel veio para um período de avaliação e foi aprovado. Ele tinha documento escrito em holandês que seria a rescisão, mas a CBF nos disse que o clube da Holanda não estava liberando. Nunca tivemos um problema como esse. Sabemos que a transferência internacional pode demorar um pouco por causa do trâmite. Mas um caso como esse, nunca vimos”, disse Anderson Nóbrega, presidente do Taboão da Serra.

O atacante cansou de mandar emails para o Westlandia pedindo que fosse liberado. Tentou telefonemas também, mas se desentendeu com o diretor Steven van Evren. Desde então, não obteve mais respostas.

“Depois do Westlandia, ele acertou com a KNVB [federação holandesa] para jogar em um clube da Bélgica. Ele precisa ir para lá e ser liberado para jogar no Brasil. Esta é a última mensagem que enviamos sobre Costa. Para o Westlandia, é um assunto encerrado”, escreveu van Evren, em contato com a Folha.

Gabriel reconhece que foi para a Bélgica, mas ficou apenas uma semana, porque a equipe não tinha dinheiro. Ele assegura não ter assinado nenhum documento.

Consultado pela Folha, o secretário do Westlandia, Ronald Visser, deu resposta diferente da enviada pelo diretor.

“O senhor Costa jogou pelo clube e saiu de maneira amigável. Entendo que ele precisa de permissão [para transferência] se quer assinar com um time brasileiro. Não temos nenhum pedido de transferência e ninguém nos mandou nada. Se tivesse acontecido, teríamos concordado sem hesitar”, afirma ele.

A reportagem entrou em contato com a federação holandesa, mas, após uma semana, a entidade não conseguiu dar resposta definitiva sobre a situação do brasileiro.

“Se conseguirmos descobrir o que aconteceu neste caso, entraremos em contato”, diz email de Marc Tils, da assessoria de imprensa.

A CBF informa não ter registro de pedido oficial de transferência de Gabriel Costa, mas confirma que seu vínculo está preso com o clube holandês. A solução possível para ele é apelar à Fifa.

“Tem de mostrar que o clube está retendo o registro do atleta. É praxe da Fifa liberar o jogador nesses casos. A não ser que apareça algo muito sério, a Fifa dá a liberação em cerca de 30 dias. Depois, caberia ao clube holandês, caso se sinta prejudicado, reclamar”, afirma Eduardo Carlezzo, advogado especializado em justiça desportiva.

O problema é Gabriel não ter dinheiro para contratar um advogado que atue na Suíça. “É impossível para mim [pagar] os honorários. Estou sem clube há dois anos.”

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