Por política e amizade, clubes pagam viagens de conselheiros

Prática é comum em São Paulo, Corinthians e Palmeiras; exceção é o Santos

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São Paulo

Uma das armas políticas mais comuns nos grandes clubes é o convite para conselheiros viajarem com a equipe para jogos fora de casa. A estratégia foi usada pelo São Paulo na partida contra o Talleres, em Córdoba, na Argentina, pela segunda fase da Copa Libertadores, em fevereiro deste ano.

O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, sancionou o uso de 25 lugares vagos no avião para levar conselheiros, alguns de oposição, como Douglas Schwartzmann e o ex-mandatário José Eduardo Mesquita Pimenta. Entre adversários políticos do cartola, o episódio ficou conhecido como “AeroLeco”, com a hospedagem incluída.

José Francisco Manssur, histórico conselheiro do clube e ex-assessor da presidência na gestão Juvenal Juvêncio, também estava entre os convidados a Córdoba.

Leco tenta montar uma comissão com conselheiros de oposição para participar do departamento de futebol, mas ainda não teve sucesso.

O presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, em entrevista na sala da presidência
O presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, em entrevista na sala da presidência - Gabriela Di Bella-18.jan.2016/Folhapress

O voo aconteceu em momento que Leco estava isolado politicamente e foi dada a explicação de que era preciso apoiar o time, então comandado por André Jardine. O São Paulo perdeu na Argentina e depois foi eliminado da Libertadores no Morumbi.

Mas o São Paulo não é o único a fazer convites para associados viajarem com a delegação para jogos fora de casa. Segundo aliados do presidente Andrés Sanchez, é comum cinco ou seis conselheiros serem chamados para acompanharem a delegação do Corinthians em partidas longe de Itaquera. Mas a Folha apurou que os convites não têm necessariamente caráter político. É questão de proximidade com o mandatário.

Em épocas eleitorais, como no final de 2018 e início do ano passado, o clube fez mais uso político de viagens e, além disso, convidava associados aptos a votar no pleito (que aconteceu em fevereiro de 2019) para assistirem a jogos em camarotes que estavam vagos no Itaquerão. Depois esses torcedores recebiam um “diploma de corintiano” assinado pelo então presidente Roberto de Andrade.

Andrade e Sanchez, ainda que tenham problemas de relacionamento, fazem parte do mesmo grupo político, o Renovação e Transparência, que governa o Corinthians desde 2007.

O Palmeiras também usava o expediente de convidar conselheiros, até que apareceu o patrocínio da Crefisa e Leila Pereira, dona da empresa, ganhou força política no clube. Ela faz os convites para as partidas fora de São Paulo. Quase sempre, o chamamento é para embarcarem em seu jato particular, com alimentação e hospedagem incluídas.

Os mimos fazem parte da estratégia de Leila para ganhar força política e buscar o cargo de presidente na eleição marcada para 2021.

 

Neste ano, a Crefisa renovou patrocínio com o Palmeiras e se comprometeu a pagar R$ 81 milhões por ano.

Em 2017, Leila foi a mais votada da história do clube na disputa por uma vaga no Conselho, com 248 votos. O recorde anterior era de Neive Conceição, com 99.

Em dificuldades financeiras, o Santos é o único dos grandes de São Paulo que não tem levado conselheiros, por causa do presidente José Carlos Peres. Ele não costuma ir e não gosta que integrantes do comitê de gestão, que deveriam participar da gestão colegiada do clube, viajem com a delegação santista.

O combinado era que duas pessoas do órgão chamado apenas de CG teriam de viajar, mas isso não tem acontecido.

Na partida contra o Altos, no Piauí, pela Copa do Brasil, o Santos tinha direito a 40% do valor da renda. O dirigente da Federação Piauiense procurou, durante o confronto, quem do clube paulista poderia acompanhá-lo para conferir o borderô do jogo e receber a porcentagem devida. Mas não havia ninguém do Santos para fazê-lo.

Até o final de 2017, a diretoria costumava convidar conselheiros para acompanhar a delegação. O número poderia variar de acordo com a importância da partida. O convite incluía hospedagem e alimentação.

A preocupação de Peres em economizar é tão grande que ele chegou a questionar a necessidade de mandar o preparador de goleiros e roupeiro nas viagens, a Folha apurou. Ele quis saber se os goleiros não poderiam treinar entre si, sem a necessidade do técnico, e se o elenco não poderia levar a própria roupa.

O São Paulo afirma que não tem uma política institucional para viagens de conselheiros acompanhando a delegação em jogos. Segundo a assessoria do clube, o caso da ida a Córdoba foi uma exceção por se tratar de um voo fretado em que haviam lugares disponíveis na aeronave.

Em nota, o Corinthians diz que apenas um conselheiro é eventualmente convidado, mas como chefe da delegação:

“O Sport Club Corinthians Paulista arca apenas com os custos da delegação e, eventualmente, um conselheiro é convidado como chefe da delegação. Torcedores ou conselheiros que queiram acompanhar o time longe da sede bancam os próprios custos”, garante o clube.

Santos e Palmeiras não responderam até o fechamento desta edição.

Qual a política dos 4 grandes de São Paulo

Corinthians 
Integrantes do conselho costumam ir em viagens da equipe como visitante, mas o clube afirma levar apenas um quando precisa de um chefe de delegação

Palmeiras 
Custeamento da viagem dos conselheiros convidados é feito por Leila Pereira, da Crefisa, patrocinadora do clube

Santos 
Clube não tem levado conselheiros ou integrantes do comitê de gestão, ao contrário do que foi sugerido ao presidente José Carlos Peres

São Paulo 
Levou 25 conselheiros em partida contra o Talleres, mas afirma ter sido algo eventual, por causa de lugares vazios no voo fretado

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