Vencedora de licitação da CBF prosperou com Marco Polo Del Nero

Com ex-cartola no poder, empresa faturou mais de R$ 75 mi em contratos públicos

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Marco Polo del Nero deixa coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, em 2015, com o símbolo da CBF ao fundo.
Marco Polo del Nero deixa coletiva de imprensa no Rio de Janeiro, em 2015 - Sergio Moraes-17.set.2015/REUTERS
São Paulo e Rio de Janeiro

Vencedora da licitação para exploração da publicidade estática nas próximas edições do Brasileiro, a Sport Promotion possui longa relação com com o ex-presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, hoje banido pela Fifa por corrupção.

Na última quinta-feira (14), a Folha revelou que a vitória da empresa na concorrência era conhecida antes mesmo da entregas das propostas.

A Sport Promotion disse que seguiu todos os passos da concorrência à risca e que a Ernst & Young, que auditou o processo, recebeu todas as propostas e levou para votação dos clubes. “Os clubes conhecem a Sport Promotion e nossa expertise”, disse.

Foi sob a gestão de Del Nero que a empresa faturou cerca de R$ 75 milhões em negócios com o governo federal que envolveram a CBF, desde 2012. O ano marca a chegada do dirigente à confederação, primeiro como vice de José Maria Marin, preso nos EUA, e depois, de 2015 a 2017, como mandatário da entidade.

 

O primeiro negócio foi a exploração da publicidade estáticas da Série B do Brasileiro, por indicação do próprio Marco Polo Del Nero, que tinha relações com a empresa na Federação Paulista de Futebol, entidade que comandou.

Quando Del Nero estava na CBF, o grupo dos empresários João José Bastos e José Francisco Coelho Leal, o Kiko, também fechou acordos com o governo federal. 

No final de 2014, o então governo de Dilma Rousseff (PT) quis incluir o futebol na grade da TV Brasil. Com os direitos de transmissão das divisões inferiores do Brasileiro em mãos, a Sport Promotion assinou três contratos com a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), estatal vinculada à Secretaria de Comunicação Social e que opera a TV Brasil. Pelos acordos, a companhia recebeu R$ 26 milhões. 

Os contratos com o governo incluíam o licenciamento nacional para TV aberta e até internacional em caráter de exclusividade dos campeonatos brasileiros das séries B, C e D, além do nacional feminino.

No primeiro deles, assinado em dezembro de 2014, a EBC pagou à Sport Promotion R$ 9.991.618,60 para obter licenciamento e direito de transmissão da Série C de 2015. Para temporadas de 2015 e 2016, a EBC adquiriu um pacote da Sport Promotion por R$ 14.981.346,70, com o licenciamento dos direitos de transmissão da Série B para tevê aberta, os direitos de TV exclusivos da Série C, D, além do Brasileiro feminino.

Também em 2015, a EBC fechou com a empresa, por R$ 978 mil, a compra dos direitos de transmissão e de entrega de sinal de áudio e vídeo para oito jogos da Série D do e oito do Brasileiro feminino. A Sport Promotion ainda recebeu R$ 850 mil, em 2016, de um patrocínio da Petrobras para a Copa Placar sub-20.

 

A CPI do Futebol revelou em 2016 a relação estreita entre Del Nero e a Sport Promotion. No relatório final da comissão estavam trocas de emails entre o cartola e Luis Claudio Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Lula (PT).

Na correspondência, de agosto de 2011, eles combinam um encontro para Luis Claudio apresentar um projeto da Sport Promotion para a Série A do Brasileiro. Na época, Del Nero era presidente da Federação Paulista de Futebol. A CBF era presidida por Ricardo Teixeira, aliado do cartola paulista.

Já com Del Nero como vice de Marin, a Sport Promotion levou da Caixa Econômica Federal R$ 50 milhões para explorar a publicidade do Brasileiro feminino por cinco anos, entre 2013 e 2017.

Os vínculos foram selados com a Caixa por intermédio da CBF, que organizou evento para fazer o anúncio oficial, com presença do então ministro do Esporte, Aldo Rebelo.

O fato chamou a atenção do TCU (Tribunal de Contas da União). O órgão viu a intermediação da Sport Promotion entre CBF e Caixa como um “problema” e questionou por que a CBF terceirizou o procedimento em vez de lucrar com o patrocínio. Em 2015, o assunto foi lembrado pelo senador Romário (Podemos), que criticou a relação da empresa com Del Nero.

Ao terceirizar os acordos com as estatais, Del Nero evitava que a CBF tivesse contratos com o governo federal. A estratégia era a mesma usada por Ricardo Teixeira na confederação. O cartola se recusava a ter acordos com governos e evitava que a entidade recebesse dinheiro público.

Na gestão de Teixeira, a CBF abriu mão da sua cota da loteria esportiva. Ele acreditava que ao receber dinheiro público a confederação ficaria sujeita a ser investigada pelos órgãos de controle estatais.

“Quanto mais independente você for, melhor. Em 1990, recebemos US$ 50 mil da Loteria Esportiva, isso e nada para seleção é a mesma coisa. Mas você bota isso no bolo de US$ 7 milhões ou US$ 8 milhões. Então você suja toda essa operação”, afirmou Ricardo Teixeira em 2005.

A estratégia, porém, nem sempre deu certo. Em 2008, sob Teixeira, a CBF repassou para a Ailanto Marketing, de Sandro Rossell, o direito de organizar o amistoso entre Brasil e Portugal em Brasília, ao custo de R$ 9 milhões, bancado pelo governo local.

O negócio virou caso de polícia por envolver dinheiro público. Na esfera criminal, Rossell respondeu por falsidade ideológica e dispensa ilegal de licitação. Pressionado, Teixeira deixou o cargo em 2012, quando a investigação revelou os detalhes do negócio.

Empresa e CBF dizem manter relação apenas institucional

Em nota, a Sport Promotion disse que a relação com a CBF é “a que se espera entre uma empresa dedicada ao marketing esportivo com a maior entidade do futebol brasileiro”.

A empresa também afirmou que sua relação com Del Nero sempre foi profissional.

“Na época em que [Del Nero] presidia a FPF nunca adquirimos direito algum dos eventos da entidade. Apenas atendemos uma solicitação da FPF para que organizássemos uma competição amadora.”

A CBF disse que mantém relação “estritamente institucional” com a Sport Promotion e lembrou que a empresa perdeu concorrência recente pela exploração das placas de publicidade dos jogos da seleção nas eliminatórias da Copa.

“A empresa, como qualquer outra do setor, disputa pontualmente contratos, sempre por critérios técnicos e de melhor oferta”, afirmou.

Del Nero não se manifestou até a conclusão desta edição.

VEJA O QUE A FOLHA JÁ PUBLICOU SOBRE AS LICITAÇÕES DA CBF:

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