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Veterano supera ameaças de morte e Ronaldo para ser artilheiro na Itália

Fabio Quagliarella, 36, é o artilheiro da Serie A com 21 gols, dois a mais que o português

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São Paulo

A goleada sobre Liechtenstein por 6 a 0 na última terça-feira (26), pelas eliminatórias da Euro-2020, valerá muito pouco para a história da seleção italiana. Mas não para Fabio Quagliarella, que aos 36 anos experimenta uma espécie de segunda carreira no futebol.

Ao fazer, de pênalti, o terceiro gol da Itália, Quagliarella se tornou o jogador mais velho a marcar pela seleção. Foi também o seu primeiro gol desde novembro de 2010 pela equipe nacional. Ele ainda marcaria o quarto antes do intervalo.

Fabio Quagliarella comemora gol pela seleção italiana sobre Liechtenstein
Fabio Quagliarella comemora gol pela seleção italiana sobre Liechtenstein - Jennifer Lorenzini/Reuters

A convocação para fazer parte do elenco nas eliminatórias europeias é a coroação da fase mais goleadora de uma trajetória que começou em 2000, aos 17 anos, com a camisa do Torino, entrando como substituto em uma vitória por 2 a 1 sobre o Piacenza.

Hoje, defendendo a Sampdoria, Quagliarella é o artilheiro do Campeonato Italiano. Autor de 21 gols, tem dois a mais do que o português Cristiano Ronaldo, da Juventus, e Krzysztof Piatek, do Milan, adversário da Sampdoria neste sábado (30), às 16h30, com transmissão no Facebook e no YouTube da DAZN.

Com 10 rodadas restantes na Serie A, o centroavante caminha para superar sua melhor temporada na carreira, quando marcou exatamente 21 vezes pela Udinese no ciclo 2008/2009 somando todas as competições.

O sucesso no clube de Udine naquela época chamou a atenção do Napoli, clube de coração de Quagliarella, com quem assinou contrato de cinco temporadas. Nascido em 1983 na comuna de Castellammare di Stabia, região metropolitana de Nápoles, o jogador cresceu idolatrando Diego Armando Maradona.

O irmão de Fabio, Adriano, conta que o quarto dos dois era como um pequeno museu maradoniano, com um pôster do ídolo adornando uma das paredes. Segundo ele, eram ferozes as brigas pela figurinha do argentino, bicampeão italiano e campeão da antiga Copa da Uefa pelo clube.

Mas o que era para ser a realização de seu maior sonho na infância acabou se transformando no episódio mais sofrido da vida de Quagliarella.

Ao fim da temporada 2009/2010, sua primeira no Napoli, o atacante anunciou que seria também a única. Estava de saída para a Juventus.

O anúncio causou revolta nos torcedores napolitanos, que prontamente acusaram Quagliarella de traidor. O motivo da saída, porém, só seria revelado pelo atleta anos depois e era mais que justificável.

Em Nápoles, Fabio e seus familiares começaram a sofrer ameaças de morte anônimas. Certa vez, recebeu em casa um caixão com uma foto sua. Cartas com fotos de garotas nuas eram enviadas, acusando-o de consumir pornografia infantil. Também foi acusado de envolvimento com a Camorra, a máfia napolitana.

Tudo começou quando Quagliarella contatou um policial especialista em segurança online, Raffaele Piccolo, para ajudá-lo com um problema de senha do seu computador.

Assim que passou a receber as ameaças, informou a Piccolo, quem o jogador acreditava que pudesse ser útil para descobrir a origem do assédio. O policial garantiu a ele que investigaria o caso.

A questão chegou ao Napoli, que passou a receber também cartas anônimas sobre o suposto envolvimento do atleta com o crime.

“Antes de uma viagem à Suécia [pela Copa da Uefa], o clube me chamou e disse que eu não jogaria porque estava vendido à Juventus”, conta o italiano.

O caso acabou sendo resolvido por um golpe de sorte do seu pai, Vittorio. Em um contato com Piccolo, o policial disse que também estava sendo ameaçado e recebendo mensagens do suposto criminoso.

Vittorio pediu então para vê-las, mas Piccolo despistou, afirmando que tinha apagado todos os registros.

“Meu pai me ligou e disse: ‘Eu acho que é aquele merda [do Piccolo]”, disse o atacante.

Seu pai foi à delegacia local e pediu para que mostrassem o que havia de evidências a respeito do caso. A polícia informou a ele que não havia nada.

Foi aí que as autoridades policiais decidiram, de fato, iniciar uma investigação. Acabaram descobrindo que o responsável pelas ameaças era o próprio Raffaele Piccolo, sentenciado a quatro anos e oito meses de prisão por chantagem e extorsão.

Quagliarella (esq.) briga pela bola em partida contra a Inter de Milão
Quagliarella (esq.) briga pela bola em partida contra a Inter de Milão - Daniele Mascolo/Reuters

Em fevereiro de 2017, depois de um empate da Sampdoria com o Cagliari pelo Italiano, Quagliarella falou pela primeira vez sobre a história publicamente. “Isto é o começo de uma segunda vida para mim, uma vida mais feliz.”

Após a resolução do caso, a torcida do Napoli estendeu uma faixa no estádio San Paolo pedindo desculpas a ele. Apesar de estar contente na Sampdoria, já declarou que tem uma história inacabada no clube napolitano. “Se me chamassem para voltar, seria incrível.”

Precisaria, contudo, convencer os torcedores da Samp, que está fazendo mais gols do que nunca e poderá superar Cristiano Ronaldo na artilharia do Campeonato Italiano.

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