Dinheiro motiva estrela do beisebol universitário a migrar para a NFL

Futebol americano ou beisebol: o dilema de Kyler Murray antes do draft

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Brandon Kochkodin
Nova York | Bloomberg

Kyler Murray está se preparando para fazer história no draft da NFL, quinta-feira à noite. O elétrico quarterback da Universidade de Oklahoma pode se tornar o primeiro atleta na história a ser selecionado na primeira rodada do draft da National Football League (NFL) e no da Major League Baseball (MLB). Muitos observadores acreditam que ele será a primeira escolha do draft, que este ano cabe ao Arizona Cardinals.

Mas por que Murray está participando do draft da NFL, se ele já tem riquezas garantidas à sua espera no beisebol? Se você assistiu ao futebol americano universitário dos Estados Unidos nos últimos 12 meses, certamente sabe a resposta.

Murray foi recrutado inicialmente pela Universidade Texas A&M, mas sua carreira lá não prosperou. Ele se transferiu para a Universidade da Oklahoma, passando um ano sem jogar —como dispõe o regulamento—, e terminou na reserva de Baker Mayfield, ganhador do Troféu Heisman (o prêmio do melhor jogador de futebol americano universitário) em 2017.

Kyler Murray (à dir.), quarterback da Universidade de Oklahoma
Kyler Murray (à dir.), quarterback da Universidade de Oklahoma - Joe Robbins/Getty Images/AFP

A espera foi útil pra ele. Murray começou a jogar beisebol pela universidade, e sua brilhante temporada em 2018 convenceu o Oakland Athletics a selecioná-lo com a nona escolha do draft de amadores do beisebol, na metade do ano passado. Murray assinou um contrato que lhe daria US$ 4,66 milhão em luvas e, inexplicavelmente, recebeu autorização para jogar futebol americano pela universidade por mais um ano —o que supostamente deveria ajudá-lo a tirar o esporte de seu sistema.

Os torcedores que assistiram aos jogos da Universidade de Oklahoma na última temporada eram lembrados do risco que Murray estava correndo a cada partida. Cada uma de suas corridas desenfreadas era uma aposta milionária; era como lançar a cautela ao vento a fim de realizar seu sonho de jogar futebol americano universitário de alto nível.

Agora, depois de uma temporada que lhe valeu o Troféu Heisman, o valor de Murray no mercado disparou, nos preparativos para o draft da NFL, e ele está posicionado para receber fortunas ainda maiores como quarterback. Ele já declarou publicamente sua intenção de jogar futebol americano, esporte no qual provavelmente ganhará mais dinheiro em menos tempo.

Não há maneira simples de comparar diretamente o faturamento de um atleta da NFL ao de um atleta da MLB. Para começar, os contratos do futebol americano não têm valores integralmente garantidos. Os jogadores assinam por valores astronômicos, mas muitas vezes terminaram recebendo apenas uma fração do número anunciado. E o futebol americano traz maior risco de lesões e, tipicamente, carreira mais curta.

O beisebol já começa com duas tacadas contra ele: o sacrifício de passar pelos times de categoria de base e os contratos de seis anos da duração da MLB, antes que um atleta possa negociar contratos mais lucrativos. Um estudo publicado em 2017 pela Sociedade para Pesquisa do Beisebol Americano mostrava que 77% dos 158 jogadores universitários recrutados na primeira rodada ou rodada suplementar do draft do beisebol entre 1995 e 2011 passaram pelas categorias menores e chegaram à MLB propriamente dita. Mas apenas 60% deles conseguiram jogar mais de três anos na divisão principal.

O primeiro escolhido no draft da NFL este ano deve receber um contrato de quatro anos em valor de US$ 34,9 milhões, de acordo com o site Spotrac.com, especializado na cobertura das folhas salariais e dos contratos dos jogadores do esporte. Desses US$ 34,9 milhões, US$ 23,4 milhões devem ser garantidos, em forma de luvas pagáveis na assinatura.

Presumindo que Murray jogasse apenas dois anos nas categorias menores do beisebol, ele precisaria de mais cinco anos no esporte para faturar quantia equivalente às luvas que obteria caso seja escolhido em primeiro lugar na NBA, tomando como base o contrato de oito anos e US$ 100 milhões assinado entre Ronald Acuna Jr. e o Atlanta Braves.

Quando isso acontecesse, ele já teria encerrado seu contrato como calouro na NFL e estaria jogando sob um segundo contrato de longo prazo, muito mais lucrativo ainda que não garantido na íntegra.

 
Andrew Luck é o mais recente ente os quarterbacks da NFL a ser selecionado com a primeira escolha e concluir seu contrato inicial. Em 2016, ele assinou um contrato de cinco anos em valor de US$ 123 milhões (com US$ 44 milhões garantidos). A despeito de ficar um ano sem jogar por conta de lesões, Luck até 2018 já havia recebido US$ 75 milhões em seu novo contrato.
 
E esse cálculo não inclui as oportunidades publicitárias melhores que a NFL tem a oferecer. O melhor jogador do beisebol atual, Mike Trout, fatura um valor estimado em US$ 2,5 milhões anuais com publicidade, de acordo com a revista Forbes. Isso é menos da metade do valor que o quarterback Matt Ryan, do Atlanta Falcons —que está longe de ser um dos nomes mais comercializáveis da NFL—,  faturou com publicidade no ano passado.
 
A decisão de Murray de buscar uma carreira na NFL já resultou no retorno de US$ 1,29 milhão das luvas de US$ 1,5 milhão que ele embolsou ao assinar com o Oakland Athletics em 2018. Ele abriu mão dos US$ 3,16 milhões restantes. Se tudo correr como planejado na noite de quinta-feira, não vai demorar muito para que ele recupere o prejuízo.

Tradução de Paulo Migliacci 

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