Descrição de chapéu Tóquio 2020

O que sucesso britânico após sediar Olimpíada pode ensinar ao Brasil

Para diretora de performance do Reino Unido, desafio é investir de forma estratégica

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São Paulo

Ao fim dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, o maior destaque não foi o desempenho dos donos da casa. As atenções se voltaram para a Grã-Bretanha, já que pela primeira vez na história uma nação havia conseguido melhorar sua performance logo após ter sediado o evento.

Com 67 pódios, dois a mais do que em Londres-2012, os britânicos também contaram com a queda de rendimento dos chineses para terminar a Olimpíada em segundo lugar no quadro de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos.

Repetir o crescimento nos Jogos de Tóquio-2020, após cortes no investimento público no esporte, é o atual desafio do Comitê Olímpico do Brasil (COB). No sábado (13), o comitê realiza em São Paulo a primeira edição do Congresso Olímpico Brasileiro, um dia de palestras e atividades voltadas à discussão do esporte.

Ginasta britânico Max Whitlock se apresenta durante evento que celebrou desempenho histórico da Grã-Bretanha no Rio
Ginasta britânico Max Whitlock se apresenta durante evento que celebrou desempenho histórico da Grã-Bretanha no Rio - Justin Tallis - 18.out.16/AFP

Uma das convidadas internacionais será Chelsea Warr, diretora de performance da Agência de Esportes do Reino Unido (UK Sport). Ela, que chegou à entidade em 2005, liderou a transformação do sistema de alto rendimento nacional para identificar e desenvolver talentos.

Em 1996, foram 15 medalhas conquistadas pela Grã-Bretanha, com apenas um ouro. Desde então, esse número só cresceu: 28 (2000), 30 (2004), 51 (2008), 65 (2012) e 67 (2016).

Warr classifica o feito no Rio como “um dos momentos de maior orgulho” para o esporte britânico. “Até então, a maioria dos países que havia sediado os Jogos teve queda de 10% no número de medalhas no ciclo subsequente”, diz à Folha.


Por que o Brasil, um país tão grande, não é uma potência esportiva? Uma coisa que eu aprendi é que, só porque você tem grande base populacional, ou até mesmo ampla base de praticantes de esporte, isso nem sempre se traduz em sucesso. Ao longo dos anos venho admirando e aprendendo muito com países menores, como Holanda e Nova Zelândia. São países pequenos, mas inteligentes.

Se o Brasil pudesse aplicar algumas das características desses países e sistematizasse seu inegável potencial populacional, não há dúvida de que vocês dariam muito trabalho aos competidores. Garantir que todos os recursos estejam à disposição dos atletas e modalidades com maior potencial de desempenho envolve decisões difíceis em relação aos esportes que devem receber apoio, e as próprias modalidades e treinadores decidindo a quem apoiar. Não se pode satisfazer a todos e, se tentarmos, a excelência pode rapidamente escorregar para a mediocridade.

Quais são as principais diretrizes do Reino Unido? Elaborar perfis do que é preciso para vencer em cada evento e modalidade olhando sempre para frente, não para os resultados históricos e atuar proativamente para encontrar atletas que se enquadrem nesses modelos tanto dentro do seu próprio esporte quanto em relação a talentos transferidos de esportes semelhantes.

Um dos grandes orgulhos britânicos é ter melhorado o desempenho na Olimpíada do Rio. Que tipo de trabalho foi feito para isso? Logo após os Jogos de Londres, o UK Sport definiu um plano que denominamos “meta audaciosa de alto risco”, para que o sistema fosse capaz de conquistar pelo menos 66 medalhas olímpicas e 121 paraolímpicas. 

[Houve] investimento constante baseado em um plano estratégico confiável, graças à loteria nacional e ao governo, que confiaram nos nossos planos para o futuro, elaborados bem antes dos Jogos do Rio, e na nossa tradição de cumprir promessas, e assim mantiveram o financiamento.

Investimos em uma trajetória de oito anos, na qual cerca de 60% do nosso financiamento é direcionado aos atletas que podem vencer nos próximos quatro anos, e 40% aos que poderão vencer em oito anos. Nós sabíamos que uma nova geração, na qual havíamos investido sistematicamente, tinha potencial para realizar algo muito especial.

No Brasil, após um grande aumento do investimento público no esporte antes dos Jogos de 2016, a tendência tem sido de queda. Como se deu esse processo no Reino Unido? O financiamento foi mantido, mas nossos custos estão aumentando, porque mais atletas estão vencendo agora. O que é importante entender é que não se trata apenas de “dinheiro igual a medalhas”, longe disso. Trata-se de saber investir os recursos de forma estratégica, as condições que você cria para fazer com que os recursos realmente rendam e a qualidade das pessoas encarregadas de fazê-lo render.

Qual é a importância do investimento público no esporte britânico hoje? Recentemente realizamos uma grande consulta pública sobre o sistema de esporte da Grã-Bretanha, nossos princípios para investimentos futuros e sobre a melhor maneira de inspirar a nação por meio esporte de alto rendimento. Como investidor de vultosos recursos públicos, está certo que o Reino Unido pergunte ao público se devemos prosseguir com o nosso objetivo de inspirar a nação por meio do sucesso na conquista de medalhas.

A imensa maioria das respostas demonstrou que a população apoiava o sistema de esporte de alto rendimento e suas realizações e, especialmente, a busca por medalhas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. As pessoas viam o Team GB e Paralympcis GB como um dos poucos setores capazes de fazer com que a nação se sentisse orgulhosa e de despertar o sentimento de patriotismo. 

Cada vez mais se fala em casos de abuso físico, sexual e psicológico no meio esportivo. O que fazer para que o esporte não se torne um ambiente nocivo? Precisamos reconhecer que o esporte de alto rendimento, ou qualquer empreitada que exija desempenho sobre-humano, não seja considerado tipicamente “normal”. Para que que seja eficaz, toda estratégia precisa ser elaborada no contexto desses ambientes atípicos.

No UK Sport enfatizamos que não se trata apenas do que foi alcançado, mas também como os resultados foram alcançados. Foi criada uma unidade de integridade encarregada de lidar rapidamente com todas as queixas, reforçamos a Comissão de Atletas Britânicos e lançamos uma nova estratégia de saúde mental. Elaboramos também melhores indicações de onde as pessoas podem apresentar suas preocupações de forma confidencial e segura.

Por fim, estamos desenvolvendo um conjunto de valores, padrões e condutas vencedoras para o sistema de alto desempenho, fazendo com que cada pessoa se sinta confiante para sinalizar se as normas não forem cumpridas.

Chelsea Warr, diretora de performance da Agência de Esportes do Reino Unido
Chelsea Warr, diretora de performance da Agência de Esportes do Reino Unido - Divulgação/UK Sport

Chelsea Warr
Chegou à Agência de Esportes do Reino Unido em 2005 e liderou a transformação do sistema de alto rendimento para identificar e desenvolver talentos. Tornou-se diretora de performance em 2016, ano em que a Grã-Bretanha melhorou o desempenho obtido em Londres-2012 e chegou ao segundo lugar no quadro de medalhas

Congresso Olímpico acontece dia 13 em São Paulo

O evento será realizado das 8h às 19h no WTC Events Center (Avenida das Nações Unidas, 12.551, Brooklin Novo). As inscrições estão abertas no site do congresso e custam R$ 225 (R$ 112,50 a meia-entrada). Além de Warr, o evento terá gestores esportivos de referência brasileiros e vindos da Holanda, Austrália e Alemanha. Também serão palestrantes Robert Bowman, que treinou o nadador americano Michael Phelps, e o treinador de vôlei Bernardinho, entre outros.

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