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Tênis chega ao saibro com Federer e dúvidas sobre Nadal e Serena

Suíço volta ao piso após três anos; espanhol e americana têm sofrido com lesões

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Christopher Clarey
Nova York | The New York Times

A temporada das quadras de saibro começou oficialmente, e este ano é especialmente difícil prever como a poeira vai se assentar.

Se Rafael Nadal tiver mesmo recuperado a forma, depois de agravar uma lesão no joelho três semanas atrás —ele vem treinando em casa como preparação para o Masters 1.000 de Monte Carlo—, continua a ser o favorito, no piso mais complicado do tênis masculino. Ninguém mais tem 11 títulos de Roland Garros, e é racional presumir que ninguém mais o fará.

Mas o tênis feminino passa por um maravilhoso momento de transição, com 14 vencedoras diferentes nos 14 primeiros torneios da temporada. Serena Williams, Maria Sharapova e Simona Halep não estavam entre elas.

"É a disputa mais aberta de que me lembro", disse Chris Evert, que foi número um do ranking da WTA (a associação do tênis feminino) e venceu sete vezes Roland Garros, em entrevista na quarta-feira (3).

"Ninguém parece ter vantagem sobre as concorrentes, no momento. Não é só uma questão de talento ou técnica parelhos. Atitudes, emoções, condicionamento e lesões também afetam o quadro. Não faço ideia [de quem é a favorita]", afirmou.

Serena Williams não vence um título desde seu retorno ao circuito, em março de 2018, depois do nascimento de sua filha. Ela só jogou três torneios nesta temporada e não concluiu nenhum deles se sentindo saudável.

Torceu o tornozelo quanto estava à beira da vitória contra Karolina Pliskova nas quartas de final do Aberto da Austrália e saiu derrotada de um terceiro set em que liderava por cinco games a um, não conseguindo converter quatro match points.

Em Indians Wells, na Califórnia, Williams abandonou na terceira rodada, contra Garbiñe Muguruza, invocando uma lesão no joelho esquerdo. Aos 37 anos, os joelhos da tenista há muito são causa de preocupação. Ela só planeja voltar às quadras em Roma, na metade de maio, pouco antes de Roland Garros.

Isso a privará da oportunidade de jogar contra um conjunto de adversárias cada vez mais extenso e confiante, repleto de novos e empolgantes talentos que jogam bem na quadra toda e se desenvolveram em um momento de alta intensidade no tênis.

A busca do 24º título de simples em torneios de Grand Slam, o que permitiria que Williams se equiparasse ao recorde feminino, no passado parecia ser apenas questão de tempo, mas agora se tornou um caso bem mais complicado.

Serena Williams durante sua última partida, em Miami
Serena Williams durante sua última partida, em Miami - Michael Reaves - 22.mar.19/AFP

Mas desconsiderar Williams raramente se prova uma boa ideia. Ela teve momentos reluzentes de tênis em 2019, com jogadas muito precisas em algumas das rodadas iniciais na Austrália, e de novo em sua vitória contra Victoria Azarenka em Indian Wells.

"Se Serena estiver saudável, ela será perigosa. Até agora ela não esteve saudável durante a temporada", disse Evert. "Ela ainda está em vantagem dada a força de seu jogo e sua experiência".

Williams também continua a ter o histórico mais impressionante entre todas as tenistas nas quadras de saibro: 170 vitórias e 34 derrotas. Sua porcentagem total de vitórias, 83,3%, a coloca adiante de Sharapova, 31, que venceu 81,5% dos jogos disputados nessa superfície.

Há muitas dúvidas quanto à forma física da tenista russa, e sobre seu futuro no tênis. Feliz fora das quadras mas vulnerável dentro delas, Sharapova não compete desde janeiro devido a lesões, e a última final a que chegou no circuito foi a do Aberto de Tianjin, em outubro de 2017.

Halep teve os melhores números em quadras de saibro nas últimas temporadas e lidera o ranking de quadras de saibro da WTA, que confere peso maior a resultados recentes.

Mas embora esteja próxima de recuperar o primeiro posto do ranking, Halep, 27, não vem se provando dominante. Ela venceu o Aberto da França no ano passado, seu primeiro título de simples em torneios do Grand Slam. Mas não venceu outros títulos em quadras de saibro desde Madri, em maio de 2017, e não vence títulos em qualquer tipo de quadra desde o da Copa Rogers, no Canadá, em agosto.

Sem Darren Cahill como treinador nesta temporada, Halep não vem parecendo a mesma tenista resoluta e seletivamente agressiva, ainda que seu percurso até as semifinais do Aberto de Miami, na semana passada, tenha sido encorajador.

Os maiores prêmios em 2019 foram conquistados por tenistas mais jovens, todas com menos de 23 anos.
Naomi Osaka, 21, conquistou o primeiro título de Grand Slam da temporada, no Aberto da Austrália e continua a liderar o ranking, por margem ínfima.

Belinda Bencic, 22, venceu o torneio Premier 5 em Dubai. Os resultados mais surpreendentes foram conquistados por Bianca Andreescu, 18, que venceu o torneio Premier Mandatory em Indian Wells, e por Ashleigh Barty, 22, que confirmou sua ascensão firme com uma vitória em Miami.

Andreescu e Barty têm técnica para prosperar no saibro —forehands fortes e com efeito, pés rápidos, e a capacidade de acertar backhands traiçoeiros, drop shots bem disfarçados e primeiros e segundos serviços poderosos.

Mas Osaka, uma jogadora de força, tem mais derrotas que vitórias no saibro (9 vitórias, 11 derrotas) e gosta de se definir como "uma jogadora de quadras rápidas".

Ela também perdeu ímpeto depois da surpreendente decisão de demitir o treinador Sascha Bajin, anunciada após o Aberto da Austrália. Osaka contratou o antigo parceiro de treino de Venus Williams, Jermaine Jenkins, antigo astro do tênis universitário e dono de uma presença calmante na lateral da quadra.

Mas por enquanto ela tem três vitórias e três derrotas, depois do triunfo em Melbourne, tendo sido batida por Kristina Mladenovic em Dubai, Bencic em Indian Wells e por Hsieh Su-wei em Miami.

Novak Djokovic, que lidera o ranking masculino, também enfrenta ventos contrários depois de ser eliminado cedo em Indian Wells e Miami. Mas ele conquistou três títulos de Grand Slam consecutivos, e é difícil ignorar a lembrança da superioridade demonstrada por ele contra Nadal no jogo de fundo de quadra, na final do Aberto da Austrália.

Nadal, 32, continua a enfrentar dificuldades físicas. Um retorno da tendinite em seu joelho direito o levou a abandonar o torneio de Indian Wells antes da semifinal contra Roger Federer. A esta altura, ele conhece bem o preço de jogar sem levar em conta a dor, ainda que a dor venha sendo constante. Por quanto tempo mais ele vai aguentar?

"Quem sabe? Talvez por mais dois ou três anos", disse Toni Nadal, seu tio e ex-treinador, em uma conversa recente em Mallorca. "O que costumo dizer é que Rafael não é uma pessoa que joga tênis. É uma pessoa lesionada que joga tênis, e isso é muito difícil."

Nadal está treinando pesado em Mallorca, em uma superfície que facilita mais a vida de suas juntas do que as quadras rápidas costumam fazer. Ele deve defender seu título em Monte Carlo no mês que vem.

Djokovic e Dominic Thiem, o quinto colocado no ranking, são os dois rivais mais óbvios de Nadal nos grandes torneios em quadras de saibro da ATP Tour, e devem desafiá-lo neles. O terceiro colocado do ranking, Alexander Zverev, que tem um bom histórico em quadras de saibro e capacidade para ganhar múltiplos grandes torneios, mas vem em má fase, também pode estar entre os desafiantes.

Federer, de volta e em grande fase aos 37 anos, depois de vencer em Miami e numa tentativa de voltar ao saibro após três anos, planeja jogar em Madri no começo de maio, depois de um período de treino na Suíça.

"Ainda acredito que Rafa esteja em boa posição no saibro", disse David Macpherson, treinador de John Isner, o americano mais bem posicionado no ranking, que pode perder a temporada do saibro depois de uma fratura por desgaste no pé. "O único jogador que se provou ocasionalmente capaz de quebrar o jogo de Rafa é Novak, que consegue sufocar o 'forehand' de efeito com seu 'backhand' puro, o que ajuda a negar a força de Rafa no saibro. É sempre uma disputa fascinante".

Mas considerando todas as reviravoltas, de trama e músculos, que tivemos até agora em 2019, não existe garantia de que os dois decidirão quaisquer torneios.

Teremos de esperar até que a poeira assente.

Tradução de Paulo Migliacci

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