Se você tem ao menos 30 anos, provavelmente se lembra do que estava fazendo em 1º de maio de 1994. O dia da morte de Ayrton Senna é daqueles marcantes a ponto de provocar um registro bem mais firme na memória.
Com Rubens Barrichello, 46, não é diferente. Ele recorda que era um garoto de 21 anos e tinha acabado de deixar o hospital Maggiore, em Bolonha, o mesmo em que o ídolo seria declarado morto. O jovem também havia sofrido um grave acidente, no treino de sexta-feira, e recebido a visita do próprio Senna.
Naquele domingo, Rubinho ouviu pela primeira vez um questionamento difícil. "Como você sente a responsabilidade de ser o principal brasileiro na F-1?", perguntou a Folha, por telefone, ao piloto, que guiava pela Jordan.
"Estou em segundo no campeonato, lutando pelas primeiras colocações, mas sinto que é só o começo", respondeu o ainda tímido paulistano, que estava estava a caminho do aeroporto para retornar a São Paulo e procurou não se mostrar demasiadamente afetado pelo próprio acidente ou pelo de Senna: "Ele vai ficar contente comigo correndo".
Rubinho acabou construindo uma carreira sólida no automobilismo, com 19 temporadas na F-1. Porém, desde que Senna conquistou seu último título mundial, em 1991, nenhum outro brasileiro conseguiu repetir o feito.
Barrichello, apontado como sucessor do seu ídolo, foi o primeiro a sofrer com a responsabilidade que lhe fora atribuída naquele 1º de maio. Outros se candidataram, e o máximo que o país conseguiu foram três vice-campeonatos.
O próprio Rubinho terminou a disputa na segunda colocação duas vezes com a Ferrari, em 2002 e 2004, à sombra do companheiro alemão Michael Schumacher. Em 2009, brigou pelo título a bordo da surpreendente Brawn GP e foi superado pelo colega de equipe, o britânico Jenson Button, terminando a temporada em terceiro lugar no mundial.
Felipe Massa esteve mais perto. Em 2008, chegou a cruzar a linha de chegada no GP de Interlagos com a certeza da conquista, mas o britânico Lewis Hamilton, a 500 metros do final, alcançou o quinto lugar na prova e seu primeiro título, um ponto à frente.
Deste então, o troféu parece ficar cada vez mais distante. Incluídos Barrichello e Christian Fittipaldi, que estavam no grid em 1994, o Brasil teve 16 pilotos na F-1 desde a morte de Senna, com 22 vitórias (todas de Barrichello e Massa, com 11 triunfos cada um). Pouco mais da metade do total de vitórias de Senna (41).
O sobrinho de Ayrton, Bruno Senna, apareceu entre os candidatos a sucessor. Ele disputou discretamente 46 corridas entre 2010 e 2012. Nelsinho Piquet, filho de Nelson Piquet, já havia corrido entre 2008 e 2009, também sem vencer, e ficado marcado por forçar um acidente para beneficiar seu companheiro de Renault, Fernando Alonso.
A última vitória de um brasileiro na F-1, obtida por Rubinho no GP de Monza em 2009, completará dez anos em setembro. E há a certeza de que a década sem triunfos ficará completa daqui a pouco mais de quatro meses porque, desde o ano passado, não há nenhum representante do país no grid da categoria.
A história do Brasil na F-1 tem seus grandes momentos registrados antes daquele 1º de maio. Emerson Fittipaldi venceu o Mundial em 1972 e 1974. Nelson Piquet foi campeão em 1981, 1983 e 1987. Os títulos de Senna vieram em 1988, 1990 e 1991. O próximo brasileiro campeão ainda não estreou.
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