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The New York Times

Com provocações, Drake se tornou a cara da nova NBA

Rapper torce para o Toronto Raptors, finalista da conferência leste da liga

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Sopan Deb
Nova York | The New York Times

Giannis Antetokounmpo, o astro do Milwaukee Bucks e um dos candidatos mais cotados para o prêmio de MVP [melhor jogador] da temporada da NBA, estava caminhando para o banco de seu time, no quarto final do emocionante jogo de domingo (19) entre o Bucks e o Toronto Raptors, nas finais da conferência leste da NBA, em Toronto.

E lá estava o rapper Drake, sentado em seu lugar usual na beira da quadra, e vestindo o que poderia ser descrito caridosamente como uma espécie de casaco púrpura. Ele não parava de tagarelar, provocando Antetokounmpo. O jogador do Bucks se esforçou para não demonstrar reação. Mas os dentes cerrados e a mandíbula inferior rija mostravam que os insultos estavam fazendo efeito.
 
Afirmar que ele ouviu as provocações do mais famoso torcedor do Toronto seria uma aposta fácil. Reggie Miller, ex-jogador de basquete e hoje comentarista da rede TNT, certamente o fez.

"Drake é o Spike 2.0", ele disse, enquanto Antetokounmpo caminhava para o banco, em uma referência ao cineasta Spike Lee, famoso por apupar os adversários do New York Knicks quando o time jogava partidas importantes, no século 20.
 
Miller sabe do que está falando. Quando jogava pelo Indiana Pacers, ele costumava trocar insultos com Lee regularmente. Nas finais da conferência leste em 1994, Miller se voltou para Lee e colocou as mãos em volta do próprio pescoço, para zombar dele por seu time ter engasgado em um jogo no qual o Knicks foi derrotado graças a uma sucessão de cestas de Miller.

E 25 anos depois, lá estava Drake, zombando de Antetokounmpo quando ele foi eliminado da partida, por faltas, na segunda prorrogação. Drake, sem expressão alguma no rosto, se despediu do astro grego com uma sucessão de acenos dignos de um monarca.

O Raptors está à frente na série, com três vitórias contra duas do Bucks. O próximo jogo, que pode ser decisivo para o time canadense fechar a série, será no sábado (25), às 21h30.
 
Sei que ele irrita muitos espectadores da NBA. É algo que faz já há algum tempo, desde que foi nomeado embaixador mundial do Raptors, em 2013. A revista Complex o definiu como "torcedor célebre mais irritante" do ano passado. Mas a verdade é que adoro vê-lo "trollando" os jogadores da NBA. Queria que cada time tivesse um Drake —mesmo que os esforços dele nessa rodada não façam efeito: o Bucks é muito, muito bom.

Drake durante o jogo entre Raptors e Bucks no último domingo (19)
Drake durante o jogo entre Raptors e Bucks no último domingo (19) - Gregory Shamus - 19.mai.19/AFP

Mas eu ri de verdade, alto, na rodada passada do playoff, quando Drake estendeu os braços e começou a movê-los como se fossem asas de avião, durante uma vitória fácil do Raptors contra o Philadelphia 76ers.

Joel Embiid, um jogador do 76ers que também ama "trollar" os adversários, se sentiu compelido a dizer na cara de Drake que seu time voltaria a Toronto para o jogo seis da série. Embiid estava certo. Será que o 76ers jogou mais duro contra o Toronto naquela partida em parte por causa de Drake? Gosto de imaginar que sim. Será que Embiid se olhou no espelho e disse que "não posso deixar que Drake tenha a última palavra?" Pode bem ser.
 
A presença de Drake nos jogos da NBA se tornou intensa a ponto de, no ano passado, a direção da liga ter pedido ao Raptors que o fizesse moderar suas gracinhas. O rapper quase entrou em uma briga com Kendrick Perkins, na época pivô reserva do Cleveland Cavaliers. Sim, a NBA tem um péssimo histórico recente de brigas entre torcedores e jogadores —mas é bem divertido assistir ao basquete em um momento no qual Drake é capaz de gerar reações desse tipo.
 
Drake de muitas maneiras representa a nova NBA. Ele é um supertorcedor diferente de seus predecessores —diferente do que Lee foi para o Knicks, e Billy Crystal e Jack Nicholson são para o Los Angeles Clippers e o Los Angeles Lakers. E nem vamos mencionar o papel dos diversos membros da família Wahlberg quanto ao Boston Celtics.

Drake é a personificação ideal do que a liga se tornou —jovem (32 anos), internacional e prestigiado entre os jogadores. Entre seus amigos estão LeBron James, Stephen Curry e muitos outros atletas. Terrence Ross o usou como apoio para salto no concurso de enterradas do Jogo das Estrelas de 2014.
 
Mas mais que isso, ele é um "troll" assistindo aos jogos de uma liga formada por "trolls". Os jogadores trocam insultos constantemente na mídia social. Curry riu na cara de um juiz, perto do final de um jogo de temporada regular no qual o Golden State Warriors discordou das marcações da arbitragem.

Damian Lillard deu um tchauzinho sarcástico para Russell Westbrook e o Oklahoma City Thunder quando seu Portland Trail Blazers eliminou o rival na primeira rodada dos playoffs deste ano.
 
Há enterradas feitas por provocação, e dribles humilhantes que quase causam fraturas. A NBA de 2019 gira em torno de dominar o adversário e de ocupar território e espaço aéreo. Ter Drake como face do Raptors, e por extensão da liga, é ideal, e chega a ser único da NBA.

Ter torcedores como Drake só é possível de verdade no basquete profissional, onde os torcedores veem a ação de perto e os jogadores não usam proteções, máscaras e capacetes. Os atletas são celebridades internacionais. A missão de Drake é irritar todos que o cercam, especialmente os jogadores, e isso é prova de quanto o basquete deseja parecer acessível —mesmo que comprar ingresso para um lugar como o de Drake custe US$ 2 mil.
 
Quando assiste aos jogos da beira da quadra, Drake, ao seu estranho modo, se transforma no torcedor comum, zombando de Antetokounmpo sem o menor pudor quando ele é eliminado do jogo por faltas.
 
E para crédito do Raptors, o time abraça Drake completamente. Seu centro de treinamento, o OVO Athletic Centre, leva o nome de uma das marcas do rapper. Às vezes, Drake conduz entrevistas pós-jogo.

Espero que um dia Drake consiga um contrato temporário para jogar na NBA por dez dias. Porque é esse tipo de coisa que ajuda a manter o interesse dos torcedores do basquete, e atrai novos fãs.

Pode ser que as enterradas, os dribles e as cestas de três pontos também ajudem.

Tradução de Paulo Migliacci

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