Descrição de chapéu The New York Times

Executivo do Qatar é acusado de pagar propina por Mundial de atletismo

Autoridades francesas afirmam que grupo desembolsou US$ 35 milhões pelo evento

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Tariq Panja
Nova York | The New York Times

Procuradores públicos da França apresentaram acusações preliminares contra um renomado executivo de negócios do Qatar, presidente de uma companhia internacional de televisão esportiva, em conexão com o suposto pagamento de propinas na campanha bem-sucedida do país para sediar o Campeonato Mundial de atletismo.

As acusações contra o executivo, Yousef al-Obaidly, presidente do beIN Media Group, foram noticiadas inicialmente pela mídia francesa. Obaidly admitiu as acusações publicamente na quarta-feira (22).

Mas as acusações não significam que ele necessariamente venha a ser submetido a um julgamento.

Obaidly foi indiciado depois de uma reunião com o magistrado francês que conduz a investigação, em 28 de março, como parte de um inquérito demorado sobre a corrupção no esporte.

Yousef al-Obaidly, presidente da BeIN Sports, em jogo do Paris Saint-Germain na Champions League
Yousef al-Obaidly, presidente da BeIN Sports, em jogo do Paris Saint-Germain na Champions League - Franck Fife - 8.dez.15/AFP

O inquérito foi iniciado em 2015, com a revelação de que dirigentes importantes da organização que comanda o atletismo mundial, a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), haviam tentado extorquir dinheiro de atletas que foram apanhados em exames antidoping pelo uso de substâncias que melhoram seu desempenho.

"Compareci voluntariamente à reunião que havia sido marcada, como parte de uma investigação preliminar", afirmou Obaidly em um comunicado distribuído por intermédio da beIN. "As acusações mencionadas são não só completamente infundadas e desprovidas de provas como notavelmente terminaram vazando para a mídia. Para evitar qualquer dúvida, reiteramos: negamos as acusações completa e categoricamente, e elas serão veementemente contestadas, com recurso à plena força da lei".

A beIN, companhia sediada em Doha, a capital do Qatar, investiu bilhões de dólares na aquisição de direitos de transmissão de eventos esportivos, se tornando uma das maiores redes de esportes do planeta e uma das marcas mais conhecidas de seu país.

Nasser al-Khelaifi, o presidente do conselho da companhia, também está sob investigação quanto aos esforços do Qatar, um pequeno emirado rico em petróleo e gás natural no Golfo Pérsico, para garantir o direito de sediar o Mundial de atletismo.

Obaidly é aliado muito estreito de Khelaifi, a figura mais preeminente nos projetos de investimento esportivo qatarianos e também presidente do Paris Saint-Germain, o clube de futebol que se tornou campeão perpétuo do campeonato nacional da França graças a imensos investimentos do emirado.

Em um caso separado, procuradores da Justiça suíça acusaram Khelaifi de subornar um importante dirigente da Fifa, a organização que governa o futebol mundial, para obter importantes direitos de transmissão da Copa do Mundo.

As suspeitas quanto ao envolvimento de Obaidly em um esquema de corrupção representam mais um abalo para o prestígio do Qatar, e novo questionamento de suas repetidas afirmações de que respeita as regras, nas disputas muitas vezes nebulosas para garantir os direitos de transmissão de grandes eventos esportivos.

O país conquistou uma vitória surpreendente ao conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo de futebol de 2022, ao final de um processo marcado por alegações de peculato contra diversos dirigentes da Fifa envolvidos na votação.

O caso francês contra Obaidly se relaciona ao seu período como dirigente da Oryx Qatar Sports Investment, uma companhia criada no Qatar para disputar o direito de sediar o Mundial de atletismo.

As autoridades francesas afirmam que em 2011, dias antes da votação da IAAF sobre a sede do Mundial de atletismo de 2017, a Oryx pagou US$ 35 milhões a uma companhia controlada por um homem dotado de fortes conexões com a IAAF —em um aparente suborno para influenciar o resultado da votação.

O Qatar foi derrotado na votação, mas conseguiu o direito de organizar o Mundial de atletismo de 2019, que será realizado em setembro e outubro.

Prova da Liga Diamante de atletismo em Doha, no Qatar, que sediará o Mundial de 2019
Prova da Liga Diamante de atletismo em Doha, no Qatar, que sediará o Mundial de 2019 - Nikku - 4.mai.19/Xinhua

A empresa que recebeu os pagamentos era controlada por Papa Massata Diack, então consultor da IAAF. O pai dele, Lamine Diack, era presidente da organização. Os dois Diack foram acusados de corrupção em 2015, e Lamine Diack está proibido de deixar a França, desde então. Papa Massata Diack está lutando contra um pedido de extradição francês ao governo do Senegal.

Papa Massata Diack se tornou figura central em investigações que abarcam três continentes e lançaram dúvida sobre as concorrências para a organização de pelo menos duas olimpíadas, bem como sobre o esquema de doping. A IAAF o excluiu do esporte permanentemente, devido a acusações de que havia extorquido centenas de milhares de dólares de um maratonista russo para que o atleta evitasse a exclusão por doping da Olimpíada de 2012.

A notícia sobre Obaidly surge no momento em que Renaud Van Ruymbeke, o magistrado que conduz a investigação na França, se aproxima de sua data de aposentadoria, na metade do ano. De acordo com o jornal francês Le Monde, Lamine Diack recebeu acusações preliminares de "corrupção passiva" em março, por suposto favorecimento à candidatura qatariana, em troca de pagamentos à empresa de seu filho.

Tradução de Paulo Migliacci

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