Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Palmeirenses revivem era do rádio, mas esbarram em Messi e desenho

Torcedores se reúnem para acompanhar jogo sem transmissão de TV e enfrentam distrações

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Torcedores do Palmeiras acompanham a partida da equipe no celular enquanto a TV mostra Barcelona e Liverpool, pela Champions League
TV em bar da Pompeia exibe Barcelona x Liverpool, mas o som nas caixas é do jogo entre CSA e Palmeiras - Rodrigo Capote/Folhapress
São Paulo

A churrasqueira montada na rua Caraíbas, pertinho da esquina com a rua Palestra Itália, dava a letra de que era dia de jogo do Palmeiras. Mas não havia tantos torcedores em torno dela quanto de costume, em uma jornada estranha para aqueles que se habituaram a ver o time em ação.

Pela primeira vez desde 2003 um jogo da equipe não teve nenhuma transmissão de TV, nem no sistema pay-per-view. Pego no meio da disputa do clube com o Grupo Globo, o torcedor teve de voltar à era do rádio para acompanhar o duelo com o CSA, realizado em Maceió, nesta quarta (1º), que terminou em empate por 1 a 1.

Os bares em torno do Allianz Parque, que costumam ficar cheios nos jogos do Palmeiras, tinham bem menos gente. E as pessoas que insistiram na tentativa de assistir a um confronto cuja transmissão estava proibida enfrentaram contratempos.

Foi o que ocorreu no bar e restaurante Tá Lá Dentro, ponto de encontro tradicional de palmeirenses. Em determinado momento do primeiro tempo, um dos frequentadores descobriu um link do YouTube que fazia a transmissão irregular por meio do celular de um torcedor presente no estádio Rei Pelé.

Ao tentar acessar esse vídeo em uma das TVs do estabelecimento, Thiago Galhardo, 34, acabou escolhendo a apresentação de um episódio do desenho Peppa Pig. Rendeu risos, mas não botou na tela o porco que todos queriam ver.

Quando o vídeo correto foi escolhido, já tinha sido bloqueado pelo YouTube, com o aviso de que feria os direitos de transmissão. Tentativas semelhantes também foram frustradas no Instagram, com base no artigo 42 da Lei Pelé, que dá às entidades esportivas a prerrogativa exclusiva de negociar esses direitos.

O Palmeiras não entrou em acordo com o Grupo Globo pela veiculação de seus jogos na TV aberta, no SporTV ou no pay-per-view. Acertou com o Grupo Turner para partidas em TV fechada, mas elas só podem ser exibidas pela TNT, emissora do grupo, se o adversário também tem acerto semelhante.

Não era o caso no embate com o CSA e não será em outros 25 compromissos do time alviverde no Campeonato Brasileiro. Assim, o jeito na quarta foi mesmo colar o ouvido no rádio e reviver uma época em que esse era o jeito de torcer fora do estádio.

O mundo já não é, porém, o mesmo. E as pessoas mostraram alguma dificuldade para se concentrar no que dizia o locutor sem se distrair com o celular, com as pessoas ao redor e com os gols de Lionel Messi na Champions League.

Exceção feita ao momento Peppa Pig, os monitores do Tá Lá Dentro exibiram a vitória por 3 a 0 do Barcelona sobre o Liverpool e mais uma ótima atuação do argentino. Era possível sintonizar Corinthians x Chapecoense, mas isso não foi cogitado pelos donos do bar.

"Só se fosse um jogo decisivo, para torcer contra o Corinthians", divertiu-se Galhardo, um dos sócios da casa, que observou um comportamento diferente nos habituais frequentadores. “As pessoas estão conversando, né? Se estivesse o jogo na TV, isto aqui estaria um silêncio, o pessoal olhando para a tela.”

Marcos Costi, 37, que é o outro sócio do bar e o locutor oficial do Allianz Parque, disse estar sentindo "aquela nostalgia" do tempo em que o rádio era o veículo do futebol. Ele lamentou não poder ver o jogo, claro, mas apoiou a briga comprada pelo Palmeiras com a TV Globo.

“Eu concordo. O Palmeiras está em uma posição em que pode pleitear o que está pleiteando, tem argumentos. Mesmo estando em um estabelecimento que acaba sofrendo com isso, eu acho que é a coisa certa”, afirmou.

Torcedores ouvem a partida entre Palmeiras e CSA pelo rádio em rua próxima ao Allianz Parque
Torcedores ouvem a partida entre Palmeiras e CSA pelo rádio em rua próxima ao Allianz Parque - Rodrigo Capote/Folhapress

O bar não estava tão cheio quanto estaria com o jogo na TV. Mas a explosão com o gol de Raphael Veiga foi aquela de sempre. "Que golaço", exclamou um torcedor entusiasmado, descartando qualquer pudor por fazer a avaliação sem ter visto o lance.

As queixas no escanteio que definiu o empate por 1 a 1 seguiram o mesmo padrão. Ninguém precisou assistir à jogada para reclamar. Os resmungos foram semelhantes nos arredores do Allianz Parque e em todos os lugares em que os palmeirenses reconfiguravam a experiência do jogo no rádio.

"Parece que estou em uma mistura de 1990 com 2019", disse o publicitário Marcus Nascimento, 35, que se mudou para Nova York em 2014, mas, mesmo de longe, nunca tinha sofrido sem as imagens das partidas do Palmeiras.

"Agora, você tem o rádio como principal fonte para saber do jogo, mas fica de olho no Twitter para ver o gol filmado por alguém. Ou checa o Instagram, porque apareceu uma transmissão, que logo é derrubada. Mas, para não perder nada, o rádio voltou a ser imprescindível", observou o palmeirense.

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