Seleção se acomodou e achou que Marta era para sempre, diz Formiga

Meio-campista de 41 anos foi convocada para a sua sétima Copa do Mundo

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Paris

Convocada nesta quinta-feira (16) para aquela que será sua sétima Copa do Mundo, a meia Formiga, 41, diz que a seleção brasileira feminina se acomodou na dependência da atacante Marta, 33, mas que a situação pode começar a mudar na competição internacional que começa no dia 7 de junho, na França.

“Ela é uma jogadora diferenciada, mas às vezes a gente se acomodou, achando que nunca iria parar”, afirma a jogadora baiana, que acaba de renovar contrato com o Paris Saint-Germain para disputar mais uma temporada.

Formiga, com a braçadeira de capitã, em ação pelo Paris Saint-Germain contra o Chelsea
Formiga, com a braçadeira de capitã, em ação pelo Paris Saint-Germain contra o Chelsea - Franck Fife/AFP

“Ninguém se preocupa com a passagem do bastão. Não dá para deixar que ela resolva tudo, que vire ninja no campo e faça gol até de escanteio.”

Segundo Formiga, nascida Miraildes Mota e boleira desde os 12 anos, o grupo já conversou para “não deixar tudo em cima da Marta”, dividir responsabilidades.

Mas a renovação da equipe (que, além das duas, tem a veterana Cristiane, 34) é dificultada por fatores que independem de conversas internas, como a profissionalização incipiente do futebol feminino no Brasil e a consequente pulverização das atletas por ligas europeias e norte-americana, além da nacional.

“As temporadas são diferentes, falta tempo para treinarmos juntas”, lamenta a meia.

“Como algumas param muito antes de outras, por causa do calendário de jogos do campeonato em que estão, perdemos muito tempo com a parte física quando nos reunimos. Os grupos que jogam juntos [no mesmo país], como Alemanha, EUA e Inglaterra, saem em vantagem.”

A seleção vem de nove derrotas consecutivas. Por isso, há ceticismo sobre suas chances de ir além da fase de grupos, na qual enfrenta Jamaica, Austrália (algoz das oitavas de final do Mundial passado) e Itália, nesta ordem.

Formiga vê também falhas na peneira de promessas da bola e na capacitação e formação de jovens atletas.

“Falta dar ao futebol feminino oportunidade de crescer. A visibilidade hoje é outra, o preconceito diminuiu. Mas tem presidente de clube que não gosta, e federação que diz não ter verba para isso. A nossa base, pelo amor de Deus... Só sobem duas ou três meninas da [seleção] sub-20 para a principal, muito menos do que em outros países.”

Apesar disso, a vice-campeã do mundo em 2007 (e também medalha de prata em Atenas-2004 e Pequim-2008) sacode o pessimismo.

“A gente vai se reinventar, vai chegar bem. Nada melhor do que uma coisa assim [sequência de derrotas] para você se renovar. Temos que levantar a cabeça e resgatar nosso futebol alegre”, afirma.

Mesmo confiante na repaginação do time nacional, Formiga ainda não está pronta para sair de campo. Na verdade, ela chegou a se despedir da seleção depois da Olimpíada do Rio, em 2016, mas voltou menos de dois anos depois a pedido do técnico Vadão para a campanha vitoriosa da Copa América, porta de entrada para Mundial e Olimpíada.

“Ele disse que precisava da minha experiência e jogou um ‘já pensou no Brasil fora da Copa e da Olimpíada [de 2020, em Tóquio]? Respondi ‘caramba, você está jogando sujo’ e aceitei, porque não iria me perdoar se uma coisa dessas acontecesse”, conta.

Formiga celebra gol contra a Alemanha na semifinal da Olimpíada de Pequim, em 2008
Formiga celebra gol contra a Alemanha na semifinal da Olimpíada de Pequim, em 2008 - Marcos Brindicci/Reuters

Garantido o passaporte brasileiro para a França, ela resolveu prolongar o “revival” com a camisa amarela e agora mira um adeus pós-Japão.

Em clubes, a meia se vê em atividade por mais duas ou três temporadas. A despedida ela gostaria que fosse defendendo o São Paulo, uma das oito equipes pelas quais jogou no Brasil –nos EUA, foram mais quatro, além de uma na Suécia e do PSG (vice-campeão francês, atrás do Lyon, que triunfou pelo 13º ano seguido).

Quando finalmente chegar a hora de parar, Formiga pretende se aventurar como técnica, “devagar, começando por baixo, me qualificando”, mas assumidamente de olho em um eventual comando da seleção. “Tudo na minha vida sempre foi futebol.”

Dito isso, a camiseta preta com o logotipo da Mulher-Maravilha que a atleta usa na hora da conversa com a Folha, minutos antes de um treino no CT do PSG, é só uma piscadela irônica para quem ainda duvidar da extensão de seu fôlego.

Confira as 23 convocadas para a Copa do Mundo:

Goleiras
Aline (Tenerife)
Bárbara (Kindermann)
Letícia Izidoro (Corinthians)

Laterais
Fabiana Baiana (Internacional)
Letícia Santos (Sportclub Sand)
Tamires (Fortuna Hjorring)
Camilinha (Orlando Pride)

Zagueiras
Érika (Corinthians)
Kathellen (Bordeaux)
Mônica (Corinthians)
Tayla (Benfica)

Meio-campistas
Andressinha (Portland Thorns)
Formiga (PSG)
Adriana (Corinthians)
Thaisa (Milan)

Atacantes
Bia Zaneratto (Red Angels)
Cristiane (São Paulo)
Raquel (Huelva)
Debinha (NC Courage)
Geyse (Benfica)
Ludmila (Atlético de Madrid)
Marta (Orlando Pride)
Andressa Alves (Barcelona)

Dias e horários dos jogos da seleção na França:

9/6 - Brasil x Jamaica, em Grenoble, às 10h30 (de Brasília)
13/6 - Brasil x Austrália, em Montpellier, às 13h (de Brasília)
18/6 - Brasil x Itália, em Valenciennes, às 16h (de Brasília) ​

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