Descrição de chapéu Tóquio 2020

'Tenho medo de não ser bem recebido', diz Leal sobre seleção de vôlei

Ponteiro cubano será o primeiro atleta naturalizado a defender a equipe

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São Paulo

Convocado pela primeira vez pelo técnico Renan Dal Zotto para defender a seleção brasileira masculina de vôlei, o ponteiro Leal, 30, nascido em Cuba, se divide entre o entusiasmo e o nervosismo com a oportunidade.

Ele, que será o primeiro jogador naturalizado a atuar na equipe brasileira, diz em entrevista à Folha que ainda teme não ser bem recebido pelos companheiros. Sua apresentação ao grupo está marcada para o dia 27, na Polônia, onde o país disputa a primeira fase da Liga das Nações.

"Acho que vou chegar lá e serei bem tratado, como um jogador que está defendendo o país, mas o que sinto agora é isso, tenho medo de não ser bem recebido", ele afirmou por telefone da Itália, onde atua desde o ano passado.

Natural de Havana, Leal se destacou no vice-campeonato mundial de Cuba em 2010, mas decepcionou-se com a gestão do esporte no país e deixou a seleção cubana. Dois anos depois, o atleta chegou ao Brasil, onde se destacou pelo Sada Cruzeiro até o ano passado, quando foi para a Itália atuar no Lube Civitanova.

O processo para o jogador se naturalizar brasileiro foi concluído em 2015, mas só neste ano chegou ao fim a quarentena determinada pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para que ele pudesse representar a seleção brasileira.

Neste ano, que antecede a Olimpíada de Tóquio-2020, a seleção terá cinco competições para que o ponteiro possa se adaptar ao grupo: Liga das Nações, Jogos Pan-Americanos, Sul-Americano, Pré-olímpico e Copa do Mundo.

"Tenho que enfrentar as consequências e mostrar que posso ajudá-los a ganhar os títulos", diz Leal.

Apesar de já ser algo esperado, como você reagiu quando soube que enfim estava convocado para a seleção? Estou muito feliz por ser convocado e por poder jogar na seleção, já que fiquei quatro anos esperando. Na hora em que o Renan me mandou mensagem dizendo que eu estava convocado fiquei muito feliz.

Como você acredita que será a sua recepção no grupo de atletas? Estou um pouco nervoso, não sei como vou ser tratado pelos jogadores. Tenho um pensamento um pouco negativo agora. Acho que vou chegar lá e serei bem tratado, como um jogador que está defendendo o país, mas o que sinto agora é isso, tenho medo de não ser bem recebido. Mas tenho que ir lá e ver.

Apesar de lá atrás jogadores terem sido contra a sua convocação, nos últimos anos quase ninguém falou abertamente sobre o tema. Por que mesmo assim é uma preocupação? Tenho medo justamente de pessoas que não falam sobre isso me tratarem de forma diferente. Se a pessoa fala, você sabe o que ela sente por você. Esse é o meu grande medo. Mas todos os jogadores que estão na seleção agora são bons e acreditam que eu possa jogar bem com eles. Joguei com vários no Sada Cruzeiro e me dou bem com todos.

Essa é a primeira vez que um jogador estrangeiro está jogando na seleção brasileira, não sei como vão ver essa situação, mas é um fato que vai ser realidade e a gente tem que enfrentar isso. Quero muito, então tenho que enfrentar as consequências e mostrar que posso ajudá-los a ganhar os títulos.

Você já pensou em como vai ser ouvir o hino brasileiro em competições? A bandeira brasileira agora é a minha também. Eu sei a primeira parte do hino, creio que a única parte que a maioria dos brasileiros sabe. Quando fui fazer o processo de naturalização em Belo Horizonte tive que cantar o hino. A princípio tinha que cantar o hino completo, mas cantei a primeira parte e o jurado disse que que eu sabia o que todo brasileiro sabe, então já estava bem [risos].

O ponteiro Yoandy Leal em ação pelo Lube Civitanova na Champions League de vôlei
O ponteiro Yoandy Leal em ação pelo Lube Civitanova na Champions League de vôlei - Divulgação Lube Civitanova

A convocação veio no melhor momento da sua carreira, depois de conquistar o título italiano e o da Champions League? Eu achava que o melhor momento para ela chegar era no ano passado, após sair a notícia que eu já poderia ser convocado e depois não poderia mais [a FIVB errou ao emitir um comunicado com a primeira informação]. Aquele momento era perfeito, por ser o meu último ano jogando no Brasil. Mas estou feliz por poder jogar agora, após ter sido campeão nacional no meu primeiro ano na Itália. Minha carreira está num momento importante, e agora poderei voltar a jogar por uma seleção num nível altíssimo.

Outros atletas cubanos de destaque defendem seleções, como Itália (Osmany Juantorena) e Polônia (Wilfredo León). O que você espera desse encontro de cubanos que atuam por outras seleções? A princípio nós não queríamos fazer isso, queríamos jogar pela seleção cubana, mas tivemos a oportunidade de defender outras seleções. A sensação de jogar com os companheiros sempre vai ser boa, estou feliz que vários cubanos tenham conseguido jogar por outras seleções.

Fica uma tristeza pelo fato de que a seleção cubana poderia ter formado um grande time? Fica essa sensação. Somos cubanos, nascemos e nos formamos lá, mas não era possível representar o país. Então agora temos que jogar por um outro país, que confiou em nós como cidadãos, e temos que defendê-lo 100%. Não penso mais em Cuba, só penso no Brasil e no que aprendi aí.

Você espera alguma reação adversa do torcedor brasileiro à sua convocação? Pelo que estou vendo nas redes sociais, vou ser bem recebido por 90%. Acho normal que algumas pessoas não estejam de acordo. Elas falam que não sei falar bem o português e que não sou nativo brasileiro, mas no mundo que a gente vive hoje não tem mais que ser nativo de um país para defendê-lo. Espero que aqueles que não estão de acordo possam mudar de ideia, mas acho que eles não são torcedores. Os torcedores de verdade sabem que estou indo para ajudar e que não quero tomar o posto de ninguém.

Como foi sua adaptação ao primeiro ano na Itália, em que atuou ao lado do levantador Bruninho? O melhor que poderia acontecer era jogar com ele na Itália. A princípio não fomos bem, mas creio que finalizamos a temporada de maneira magnífica. As dificuldades com a adaptação foram normais. Depois de anos vivendo no Brasil, conhecer uma cultura nova, um nível de jogo super alto, sabia que passaria por essa dificuldade, mas no final conseguimos nos entrosar bem e ser campeões italiano e da Champions.

A adaptação à Itália foi mais fácil ou mais difícil que ao Brasil? Foi mais fácil porque eu sabia como funciona a vida de ser um jogador. Quando cheguei ao Brasil não sabia nada sobre isso. Só o idioma foi mais difícil.

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