Descrição de chapéu Copa América

Antes tímido, Messi vira 'pavão' e tenta título inédito na seleção

Camisa 10 da Argentina concedeu diversas entrevistas antes da Copa América

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Salvador

Prestes a completar 32 anos, Lionel Messi, cinco vezes eleito o melhor jogador do mundo, parece sair da casca. Desinteressado em entrevistas, pouco midiático e sem uma frase memorável na carreira, ele sempre se expressou apenas com a bola nos pés. Isso mudou.

Antes da Copa América, o atacante deu duas longas entrevistas a emissoras de TV na Argentina. Foi um Lionel Messi como poucas vezes se viu. Não tinha a capacidade verborrágica do seu ídolo e espelho Diego Maradona, mas estava relaxado, descontraído, desconectado da imagem do craque que parecia carregar o peso do mundo sobre os ombros na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.

Messi ri durante treino da seleção argentina em preparação para a Copa América
Messi durante treino da seleção argentina em preparação para a Copa América - Agustin Marcarian-5.jun.19/REUTERS

“Mateo me olha e me desafia. Tem uma cara de filho da puta”, disse sobre o filho de 3 anos, que comemora os gols do Real Madrid para aborrecer o pai.

Lionel em seguida caiu na gargalhada. Messi gargalhando na TV? Isso é raro. Até os jogadores da seleção argentina notaram.

“É impressionante um jogador que carrega toda essa responsabilidade ser tão humilde e estar tão tranquilo. Chama a atenção”, disse o meia Rodrigo De Paul, 25, também convocado para o torneio no Brasil.

A Argentina estreia neste sábado (15), em Salvador, contra a Colômbia.

Messi falou à Fox Sports e à TyC Sports, os dois principais canais esportivos da TV do seu país. Chamou mais atenção a entrevista à última emissora. Seus programas durante o Mundial da Rússia o massacraram com pesadas críticas. Um deles chegou a fazer enterro simbólico da seleção após a derrota para a Croácia por 3 a 0.

Ele quebrou o próprio protocolo para a Fox. Os jornalistas não foram até Messi. O astro do Barcelona foi ao estúdio da emissora, algo inédito na sua carreira. Isso em parte por gratidão ao narrador Sebastian Vignolo, um dos principais na Argentina, e quem mais o defendeu das críticas. Foi para o jornalista apelidado de “Pollo” que Lionel deu sua única entrevista durante a Copa do Mundo que não fosse na zona mista, as aglomerações de repórteres após as partidas.

Mais próximo do fim da carreira (o Mundial do Qatar em 2022 deverá ser o seu último, embora ele diga ainda não saber se vai), Messi está mais aberto a falar até sobre assuntos que antes o incomodavam. 

Como a final de 2014 perdida para a Alemanha ou a expulsão na estreia pela seleção principal, contra a Hungria, em 2005, quando recebeu o cartão vermelho 47 segundos após entrar em campo.

“Se ganhássemos da Alemanha [em 2014], tudo seria muito diferente [para ele na seleção]”, disse.

Lionel Messi é o maior nome da geração que os argentinos não sabem se odeiam amar ou se amam odiar. São três derrotas em decisões de Copa América (2007, 2015 e 2016) e uma no Mundial de 2014. Para o torneio no Brasil, jogadores históricos como Mascherano, Biglia e Higuaín atiraram a toalha. Desistiram da seleção. Apesar de ter abandonado o barco em 2016, o camisa 10 voltou atrás.

Amigos do jogador ouvidos pela Folha em 2018 disseram que a mudança dele aconteceu a partir de 2012, quando nasceu Thiago, seu primeiro filho. Até então, a descrição que mais se aproximava da personalidade foi feita pelo jornalista argentino Leonardo Faccio: o atacante que nos diverte todos os finais de semana vive entediado.

Foi uma mudança lenta e gradual, mas que parece se tornar mais presente quanto menos chances lhe restam para ser campeão pela seleção argentina, hoje seu maior objetivo.

A timidez de Lionel Messi é lendária no futebol, mesmo na época de baby fútbol (a versão infantil com sete jogadores para cada lado), em Rosário, sua terra natal.

Na escola, ele não tinha coragem de falar com a professora, e uma amiga lhe servia de intérprete. A docente chamou a mãe dele, Celia, para saber o que estava acontecendo e aconselhou que o menino fosse levado a um psicólogo. Desde os 10 anos, ele era apaixonado por Antonella Roccuzzo, hoje sua mulher, mas não tinha coragem de dizer nada.

“Nós fazíamos aqueles bailes de criança na garagem e todos se divertiam, menos Leo. Ele ficava lá no canto, parado, encarando Antonella, apaixonado”, disse à Folha em 2014 o meia Lucas Scaglia, primo da mulher de Lionel.

Quanto mais protagonismo, mais se esperava dele como jogador, especialmente na Argentina. Ele era o maior nome do futebol mundial, camisa 10 da seleção e maior referência esportiva do país. Messi tinha de ser Maradona. Algo impossível para alguém de personalidade tão retraída.

Foi Diego quem teve a ideia de colocar a braçadeira de capitão no braço de Lionel pela primeira vez. Na Copa do Mundo de 2010, contra a Grécia. Verón tentou tranquilizá-lo, pediu para que dissesse aos demais jogadores, antes de entrar em campo, o que estava em seu coração. Messi não conseguiu falar nada no túnel do estádio de Polokwane, na África do Sul.

Mas no meio da crise que se instalou na concentração da Argentina em Bronnitsi, na Rússia, durante a Copa de 2018, ele foi uma das vozes a questionar as constantes mudanças de esquema tático do técnico Jorge Sampaoli.

“Messi exerce liderança, ainda mais em um grupo de jogadores jovens. Ele é a referência. A liderança dele é tranquila”, explicou o zagueiro Germán Pezzella, 27.

Em 2011, o técnico Alejandro Sabella o fez capitão da Argentina de vez. Desde então, falar com a imprensa e assumir os compromissos inerentes a alguém com seu prestígio se tornaram situações mais e mais naturais, até chegar à versão 2019 de Lionel Messi, a mais midiática de todas.

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