Há mais em jogo para a Argentina do que um lugar na semifinal da Copa América. Contra a Venezuela nesta sexta (28), às 16 horas, no Maracanã, a equipe tenta evitar que a crise volte à seleção do país.
A derrota decretaria o fim do curto período de Lionel Scaloni à frente da equipe. O próprio César Luis Menotti, coordenador da seleção e avalista da contratação do técnico, disse que um novo projeto será iniciado após o fim do torneio continental. Não é o melhor dos sinais para Scaloni, auxiliar de Jorge Sampaoli na Copa do Mundo da Rússia, no ano passado, e que jamais havia comandado qualquer seleção ou time.
O próprio Menotti já teve mais moral. Sua contratação para supervisionar as seleções de base e profissional, no ano passado, foi saudada como a volta de uma direção para as equipes argentinas. Significava o retorno do técnico campeão mundial de 1978, o defensor do futebol arte e crítico da escola de resultados a qualquer custo.
Mas ele não viajou ao Brasil para acompanhar a delegação. Alegou problema de saúde para permanecer em Buenos Aires, onde foi visto em eventos sociais. Seu médico o proibiu de entrar no avião por causa de uma infecção urinária.
“Menotti é um preguiçoso. Tem de renunciar. E não me digam que estou falando isso porque quero a vaga dele na seleção. Quero sim! Quero. Tenho muito a ajudar. E se estiver no lugar dele, vou ao prédio da AFA [Associação de Futebol Argentino] todos os dias”, criticou o ex-zagueiro Oscar Ruggeri, que está no Brasil como comentarista da TV Pública e da Fox Sports.
A declaração, dada nesta quinta (27), detonou uma guerra de bastidores no futebol do país. Menotti imediatamente saiu do silêncio para rebatê-lo e dizer que não deve ser levada em consideração a opinião de Ruggeri. Recomendou que o desafeto largasse o microfone e lesse um livro.
O pano de fundo é a eterna e maior rivalidade do futebol argentino. A disputa entre os fãs de Menotti e o de Carlos Bilardo, o campeão mundial de 1986 e vice de 1990, duas equipes que tinham em Ruggeri o titular no miolo da zaga.
“A relação está intacta. Não temos nenhum problema com Menotti. Sabemos do problema físico que ele tem. A relação é boa, continua a mesma e nada mais. O que interessa é o jogo”, disse Scaloni, que pediu para não ser mais questionado sobre o assunto.
O certo nem seria dizer que a Argentina vai entrar em crise. Ela seria apenas aprofundada pela derrota contra a Venezuela e eliminação da Copa América. A seleção vive em estado permanente de tensão desde a Copa do Mundo na Rússia, quando a equipe implodiu durante o torneio na concentração em Bronnitsi, com Jorge Sampaoli.
O elenco não se recuperou desde então e resultados como a derrota para a própria Venezuela, em amistoso em março, não ajudaram em nada.
A ideia era renovar apesar da contratação do veterano Menotti, 80. Por isso a aposta em Scaloni, um sujeito de fala tranquilo, estilo rígido e que jamais oferece frases de impacto para a imprensa. O problema é que o futebol não melhorou nada desde o fracasso na Rússia e o resultado na Copa América coloca em risco toda a ideia de mudar o elenco.
Pode parecer estranho pelo retrospecto nos últimos torneios, mas a figura mais calma na tormenta que pode se avizinhar é Lionel Messi. Ao final de cada jogo, ele tem falado aos jornalistas como nunca falou. Tem tentado ser uma voz sóbria e de incentivo aos mais jovens, assumindo um papel de capitão que se esperava fosse seu já há alguns anos.
“Temos o que melhorar, mas os garotos têm potencial para isso. Nós devemos lhes dar chances”, disse o camisa 10.
Mas mesmo ele sabe que tudo depende de resultados e que cair na primeira partida de mata-mata renovaria todas as críticas que já sofreu e traria outras novas: a que não sabe liderar, por exemplo.
Com Menotti e Scaloni no fogo, não se sabe a opinião do presidente da AFA, Claudio Tapia. O cartola também tem seus problemas. A família Moyano, da qual faz parte, vive disputa política na Argentina que envolve o presidente do país, Mauricio Macri. A Associação que preside recebeu denúncia de resultado arranjado na briga pelo acesso à segunda divisão e causou estranhamento a convocação de um jogador do Barracas Central, pequeno time que estava na terceira divisão e subiu à segunda, para a seleção sub-23.
Tapia fez sua carreira de dirigente na presidência do clube.
Ele está no Brasil acompanhando à delegação argentina, mas quase não é visto e não deu entrevistas.
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