Espanhol lembra vitória que fez Brasil de Tite nunca mais ser o mesmo

Em entrevista à Folha, Roberto Martínez explica vitória na Copa de 2018

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São Paulo

​A questão feita pelo narrador Ian Drake, que transmitia a partida para a TV da Fifa, era a mesma que estava na cabeça de todos: o que estava acontecendo ali?

Romelu Lukaku, centroavante de 1,90m e 94 quilos, atuava como meia e dava passe para Kevin De Bruyne, um dos maiores armadores de sua geração, jogar como falso 9, posição em que nunca havia atuado pela seleção.

Foi daquela forma que a Bélgica construiu o 2º gol sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2018. Aquele esquema eliminou a equipe de Tite e colocou os belgas na semifinal.

Roberto Martínez orienta a seleção belga durante as quartas de final da Copa do Mundo, contra o Brasil
Roberto Martínez orienta a seleção belga durante as quartas de final da Copa do Mundo, contra o Brasil - Jewel Samad-6.jul.2018

“Eu sabia que precisávamos tentar algo diferente. Algo que pudesse surpreender. Tirar Romelu de sua posição natural e colocar De Bruyne pelo setor funcionou como queríamos. Porque os dois jogadores tinham capacidade para fazer aquele trabalho e sabíamos disso. O Brasil não esperava”, constata o técnico Roberto Martínez à Folha, quase um ano após a vitória mais significativa de sua carreira.

A partida aconteceu em 6 de julho. A seleção, que decide vaga nas quartas da Copa América neste sábado (22), contra o Peru,  não se recuperou até agora daquela noite em Kazan, na Rússia. Não pelos resultados, mas pelo futebol mostrado.

“Foi partida especial. Chegamos a pensar em improvisar Hazard como falso 9. Ele também poderia fazer aquilo. Mas não queria tirar dele a liberdade, a velocidade, os dribles e a criatividade que ele oferece”, completa Martínez.

No meio da Copa do Mundo e antes do jogo mais decisivo, Martínez resolveu reformular o esquema tático. Tirou o 3-4-2-1 que usava até então e tentou o 4-3-3. De Bruyne passou a ser a peça central, com Lukaku e Hazard pelas pontas.

No dia seguinte à vitória sobre o Japão, nas oitavas, Martínez avisou que teria de mudar o time para enfrentar o Brasil. Era um risco. Alterações com o torneio em andamento não costumam ser populares entre os jogadores.

“Eles acreditaram na ideia. Executaram plano que não era simples e que não estavam habituados. Foi momento em que fiquei orgulhoso deles”, diz o treinador um ano depois. 

Martínez foi escolha surpreendente para comandar a Bélgica em 2016. Técnico que fez bom trabalho no pequeno Wigan (levou o time ao título da Copa da Inglaterra em 2013) e teve passagem discreta pelo Everton, foi contratado para comandar aquela que era considerada a geração de ouro do futebol belga.

O 3º lugar no mundial foi a melhor colocação do país na história. Mas ficou a sensação de que poderia ser mais. Após a derrota na semifinal contra a França, jogadores como Hazard e o goleiro Courtois reclamaram que a Bélgica mostrou futebol ofensivo e os franceses ficaram na retranca.

“Poderíamos ter vencido a França”, constata Martínez. “Fomos melhores e estávamos confiantes. Em uma possível final contra a Croácia, quem sabe o que poderia ter acontecido? Mas não foi durante a Copa que achamos que poderíamos ser campeões. Chegamos à Rússia pensando isso.”

Esse é um mérito que ele sempre ressalta no seu trabalho. Ter conseguido unir seleção que, tal qual a vizinha Holanda, sempre teve problemas de relacionamento entre os atletas. País de cerca de 11 milhões de habitantes, a Bélgica tem três línguas oficiais.

Toda essa união que ele afirma ter criado veio à tona contra a seleção de Tite

“Eliminar o Brasil em uma Copa do Mundo é muito especial. Foi muita determinação dos jogadores apesar dos  ajustes que o treinador brasileiro fez no 2º tempo, que tornaram o jogo mais equilibrado. Mesmo depois de sofrermos o gol, vi na postura dos jogadores a determinação de dar tudo em campo”, finaliza.

O desgaste era evidente nos belgas nos 15 minutos finais, a partir do momento em que Renato Augusto marcou para o Brasil. O empate e uma possível prorrogação fariam os europeus serem obrigados a correr por mais 30 minutos quando já estavam exaustos.

Um ano após a passagem pela Rússia, Roberto Martínez mostra orgulho pela vitória causada, em parte, por sua mudança tática no time. Mas ao ser questionado se aquele foi o momento mais especial na Copa do Mundo, ele surpreende mais uma vez. Não foi.

“O momento que mais ficou na minha lembrança foi a virada contra o Japão”, lembra, falando do jogo em que a Bélgica estava em desvantagem de dois gols já durante o segundo tempo, mas conseguiu marcar três vezes e se classificar para enfrentar o Brasil.

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