Modalidade olímpica, basquete 3 x 3 tem estrutura amadora no Brasil

Baixa remuneração e falta de formação específica são entraves no esporte

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São Paulo

A entrada do basquete 3 x 3 no programa olímpico despertou em atletas brasileiros o sonho de disputar os Jogos de Tóquio-2020. Para que isso se concretize, porém, a modalidade precisa superar várias barreiras, já que em geral a sua estrutura no país ainda é amadora.

A seleção masculina, que a partir desta terça (18) disputa a Copa do Mundo em Amsterdã, na Holanda, é a 13ª colocada do ranking da Federação Internacional de Basquete (Fiba). A equipe feminina, 19ª, apostou em ex-jogadoras da seleção de basquete tradicional no evento de qualificação, mas não conseguiu vaga.

Como apenas oito países se classificarão para a Olimpíada do Japão em cada gênero, conquistar um lugar nesse grupo não será tarefa fácil. A modalidade é dominada por países do leste europeu e da Ásia.

Atualmente, existe apenas um clube com estrutura profissional no Brasil. Neste ano, o São Paulo DC, da capital paulista, passou a remunerar seus jogadores por meio de projeto inscrito na Lei de Incentivo ao Esporte do governo federal.

Os atletas dos times principal e sub-23 treinam seis vezes por semana, em dois períodos. Eles têm auxílio para alimentação e residência e contam com o suporte de preparador físico, fisioterapeuta, nutricionista e médicos, além de uma parceria com a Unip (Universidade Paulista), que garante bolsas de estudos.

Dos quatro convocados (três titulares e um reserva) para representar a seleção brasileira na Copa do Mundo, dois defendem o São Paulo DC: William Weihermann, 22, e Jefferson Socas, 28. Ambos atuavam pela equipe de Joinville no NBB (Novo Basquete Brasil) antes de migrarem para a nova modalidade.

Socas afirma que mesmo recebendo menos no São Paulo DC do que ganhava na equipe catarinense (lanterna da edição deste ano do NBB), a troca está valendo a pena. Pela estrutura melhor que encontrou e também pela oportunidade de fazer história.

“Fui mais pelo sonho da Olimpíada e de vestir a camisa da seleção. A classificação não vai ser fácil, mas temos esse sonho. Achei que era o momento de mudar um pouco o foco e tentar o 3 x 3”, afirma.

Jogo do São Paulo DC em campeonato de basquete 3 x 3 realizado em Mariporã (SP)
Jogo do São Paulo DC em campeonato de basquete 3 x 3 realizado em Mariporã (SP) - São Paulo DC - 2.jun.19/Divulgação

Apesar de hoje o Brasil promover eventos regulares da modalidade, entre eles um torneio nacional que dura o ano todo, a baixa premiação ainda é um empecilho para atrair participantes que se dediquem integralmente ao 3 x 3.

 

No ano passado, o título da liga da Associação Nacional de Basquete 3 x 3 rendeu R$ 4.000 a serem divididos pelos integrantes do São Paulo DC. O objetivo dos times, então, é disputar competições no exterior, que pagam até US$ 30 mil em premiação e garantem mais pontos nos rankings de clubes e individual da Fiba.

Os outros dois representantes convocados para a seleção, Felipe Oscar de Camargo, 28, e Jonatas Júlio de Mello, 25, jogam no Campinas 3 x 3. No interior, eles se dedicam também a trabalho e estudos.

“Não tem como largar o emprego para viver do esporte”, diz Felipe. Ele mora em Limeira (a cerca de 55 km de Campinas), onde ajuda o pai, o ex-pivô da seleção brasileira Camargo, na sua pizzaria. O atleta ainda concilia os treinos e o trabalho com a graduação em administração de empresas.

Jonatas também faz faculdade, onde tem bolsa para defender a equipe em competições universitárias. Por isso, o Campinas 3 x 3 só consegue se reunir para treinar de duas a três vezes na semana.

Felipe lamenta as dificuldades, já que nessa modalidade o entrosamento do time é fundamental, mas sonha alto.

“Estou no gás por ter vindo a chance na seleção brasileira. Quem sabe com um bom resultado na Copa do Mundo e a vaga na Olimpíada o 3 x 3 possa se profissionalizar”, diz.

Seleção brasileira de basquete 3 x 3 na Copa do Mundo - Felipe Camargo, Jefferson Socas, William Weihermann e Jonatas Mello
Seleção na Copa do Mundo: Felipe Camargo, Jefferson Socas, William Weihermann e Jonatas Mello - Divulgação/Fiba

A seleção masculina participou de três das cinco edições já disputadas do Mundial, mas nunca teve um desempenho expressivo. No ano passado, perdeu os quatro jogos.

Gustavo Bracco, 42, ex-jogador de 3 x 3 e manager do São Paulo DC, critica o processo de escolha dos atletas da seleção, conduzido pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB). No início de maio , oito jogadores, todos de times de São Paulo, foram convocados pelo técnico Douglas Lorite para treinos no Rio de Janeiro. Desses, quatro foram escolhidos para a Copa do Mundo.

Bracco defende que o Brasil siga o modelo da maioria dos países que domina o esporte. Nele, o melhor time representa a nação nas competições.

“O erro da CBB é a seleção não ser representada por equipes. Fazendo um paralelo com o vôlei de praia, seria como convocar dois atletas que não atuam juntos para formar a dupla. Em cinco Mundiais, o Brasil ganhou um jogo, e isso não foi suficiente para a CBB rever o modelo”, diz Bracco.

Gerente de desenvolvimento da modalidade na CBB, Chico Chagas afirma que a entidade ainda estuda qual é a melhor opção para o Brasil, já que o país passou a olhar para o 3 x 3 apenas recentemente.

“Não podemos pegar uma referência do nada e dizer que tem que ser igual a Sérvia [maior potência no masculino]. Hoje não temos um melhor time, faltam parâmetros para definir isso. Existem algumas equipes em São Paulo e só, os outros estados brincam de fazer o 3 x 3”, diz Chagas. “Para a gente, o melhor ainda é juntar periodicamente os melhores jogadores.”

Enquanto tenta minimizar o prejuízo na categoria adulta, a confederação busca identificar os principais talentos para desenvolver no sub-18 e formar atletas específicos para essa modalidade.

“Não é uma Olimpíada no ano que vem que vai resolver a nossa vida. A coisa não está sendo feita de qualquer forma, desenvolver uma característica para o país leva tempo”, afirma o gerente da CBB.

​Copa do Mundo começa nesta terça na Holanda

A cidade de Amsterdã, na Holanda, recebe a edição 2019 da Copa do Mundo de basquete 3 x 3, evento da Federação Internacional de Basquete. O torneio vai de terça (18) a domingo (23) e conta com 20 seleções em cada gênero.

O Brasil, representado apenas pelo time masculino, está no Grupo D, ao lado de Letônia, Japão, Polônia e Austrália. O primeiro jogo será contra os australianos, às 11h25 (de Brasília). O evento será transmitido pelo SporTV.

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