Descrição de chapéu Copa América

Gareca veta mão na cintura, impõe disciplina e muda futebol do Peru

Técnico colhe sucesso na Copa América após mudar mentalidade peruana

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

​Uma das primeiras coisas que Ricardo Gareca pediu, ao assumir o cargo de técnico da seleção peruana, foi que os jogadores não colocassem a mão na cintura durante as partidas. Para ele, isso passa ao adversário a imagem de cansaço.

O técnico argentino fez o Peru voltar a ser relevante no continente sul-americano apoiado na mudança de mentalidade dos jogadores.

“Do talento deles nunca tive dúvidas. Todo mundo sabe, na América do Sul, que o jogador peruano tem técnica”, disse o comandante dos rivais brasileiros na final da Copa América, neste domingo.
O que havia de habilidade era escasso na disciplina. Atrasos nas apresentações, por exemplo, eram comuns.

O técnico do Peru, Ricardo Gareca, dá instruções à equipe durante semifinal da Copa América contra a seleção do Chile
O técnico do Peru, Ricardo Gareca, dá instruções à equipe durante semifinal da Copa América contra a seleção do Chile - Juan Mabromata - 3.jul.2019/AFP

Ainda está na memória de torcedores e dirigentes o que ficou conhecido como o “escândalo de Golf Los Incas”. Em novembro de 2007, jogadores levaram prostitutas para o hotel onde o elenco estava concentrado. Claudio Pizarro, Jefferson Farfán (integrante do grupo na Copa América deste ano) e Andrés Mendoza foram suspensos.

Pizarro, então capitão da equipe, sempre alegou inocência. Entrou com pedido de recurso no TAS (Tribunal Arbitral do Esporte) e ganhou. Recebeu indenização da Federação Peruana.

Era esse tipo de postura que o treinador queria mudar. Gareca acreditava que mais disciplina faria o atleta peruano acreditar mais no próprio potencial. Isso terminaria com mais vitórias em campo. Tentou varrer da mente dos jogadores a frase repetida no país de que o Peru tem um lindo futebol, mas perde sempre.

A ideia do técnico, apoiado por dirigentes do futebol do país, como o diretor de seleções Juan Carlos Oblitas, foi também dar chances aos mais jovens. Nomes históricos, como o meia Juan Manuel Vargas, perderam espaço.

Nem todos os veteranos foram descartados. Ele sempre confiou no papel de liderança de Paolo Guerrero e o apoiou mesmo quando o atacante foi suspenso por doping, pelo consumo de chá de coca, antes do Mundial de 2018.

Era preciso também alterar o estilo de jogo. “Antes era muito chutão, muitos lançamentos longos para o ataque”, afirma Guerrero.

Com esse tipo de jogo, o Peru chegou, por exemplo, à semifinal da Copa América de 2011, disputada na Argentina. Caiu apenas diante do campeão Uruguai. Em 2019, foram os peruanos a mandarem o rival embora, nas quartas.

Gareca não abria mão da mudança de mentalidade também em campo, com a inclusão das trocas de passes curtos e deslocamentos.

A régua para medir o sucesso de Gareca e do projeto era a classificação para a Copa do Mundo da Rússia. Na repescagem, diante da Nova Zelândia, a seleção sul-americana obteve a vaga pela primeira vez depois de 36 anos.

O Peru jogou bem o Mundial de 2018 e teve chances de ir às oitavas de final, mas acabou eliminado após derrotas para Dinamarca e França e vitória sobre a Austrália.

“Quando jogamos a Copa do Mundo, mostramos para os jogadores peruanos que eles tinham de entrar sempre em campo para ganhar. Não era uma ilusão”, disse o técnico, cotado a voltar à Argentina e assumir o comando da seleção do seu país natal.

Na quinta (4), a página no Facebook do Registro Nacional de Identificação e Estado Civil do Peru publicou montagem do que seria uma carteira de identidade peruana de Gareca, para ressaltar sua ligação com o país. “DNI [registro de identidade] de um peruano de coração”, dizia.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.