Descrição de chapéu Pan-2019

Peru recebe Pan aliviado após crise e sob clima de patriotismo

Sob a sombra da Lava Jato, país viveu escândalos políticos nos últimos anos

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Lima (Peru)

O Peru dá início oficialmente nesta sexta-feira (26) ao maior evento esportivo da sua história sob clima de alívio e patriotismo. A cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de Lima está marcada para as 20h30 (horário de Brasília) e terá transmissão do SporTV 2 e da Record News (UHF).

O alívio vem após uma preparação tensa para o evento. Sob a sombra da Operação Lava Jato, o país viveu uma série de escândalos políticos durante os últimos anos, com direito a renúncia e prisões de ex-presidentes, além de um caso de suicídio, do ex-mandatário Alan García.

Até pouco mais de dois anos atrás, a cidade não parecia estar prestes a sediar um evento com 39 modalidades e quase 7.000 atletas de 41 países. Segundo o presidente da Panam Sports (Organização Desportiva Pan-Americana), o chileno Neven Ilic, não havia praticamente nada preparado quando ele assumiu o cargo, em abril de 2017.

Homem posa para foto à frente do Estádio Nacial em Lima, no Peru
Homem posa para foto à frente do Estádio Nacial em Lima, no Peru - Susana Vera/Reuters

Um mês antes, após fortes chuvas que atingiram o país, o Congresso peruano chegou a discutir um projeto de lei para cancelar os Jogos, mas o governo nacional conseguiu levá-lo adiante. Uma medida para evitar que as licitações despertassem novas desconfianças foi submetê-las à supervisão estrangeira por meio de um acordo com o governo britânico.

“Sendo sincero, não imaginei o resultado que estou vendo aqui nem no melhor dos meus sonhos”, afirmou Ilic nesta semana, ao comentar o resultado da preparação de Lima.

A organização conseguiu entregar todas as arenas a tempo, mas obras de acabamento ainda estavam sendo feitas em locais de competição às vésperas da abertura oficial do evento.

Na entrada do Polideportivo de Villa El Salvador, arena localizada ao lado da Vila dos Atletas que receberá as competições de ginástica artística a partir deste sábado (27), a reportagem da Folha presenciou a realização de obras de calçamento na terça e na quarta-feira.

Uma voluntária do Pan afirmou que previa fortes emoções nos últimos dias, mas que estava confiante na finalização dos trabalhos.

A expectativa é que o tráfego intenso da capital peruana, outra preocupação dos organizadores, diminua com a instalação de faixas exclusivas para veículos credenciados e o início de um feriadão que começa nesta sexta e vai até a próxima quarta (30).

As “Fiestas Patrias” celebram a independência do país no dia 28, mas não se limitam a essa data. Durante o mês de julho, grande parte dos peruanos estende a bandeira nacional nas janelas ou em frente às suas casas. Quem não exibe o símbolo da nação ou o faz com objetos em más condições pode levar uma multa, cujo valor varia conforme a localidade.

Por imposição ou patriotismo, o vermelho e branco é onipresente nos bairros da capital peruana, seja nos prédios luxuosos do bairro de San Isidro ou nas casas de tijolo aparente que dominam o caminho para a vila dos atletas.

As bandeiras se juntam às várias faixas que fazem referência aos Jogos e estão penduradas em postes, de forma que ninguém que chega à cidade tem dúvidas de que Lima vive um momento único.

O Pan-Americano volta à América do Sul após 12 anos. Depois do Rio de Janeiro, em 2007, Guadalajara-2011 e Toronto-2015 sediaram o evento.

Peruanos veem nos Jogos uma chance única para popularizar outros esportes no país. Hoje, apenas o futebol e o vôlei, este bem abaixo do primeiro, tem capacidade de penetração popular.

A mistura de insatisfação com episódios de corrupção e esperança de que o grande evento deixe um legado esportivo é tão presente hoje para os peruanos quanto foi para o Brasil antes do Pan de 2007, da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

 

Em reportagem sobre a jovem nadadora da casa Alexia Sotomayor, 13, o El Comercio, principal jornal local, escreveu que ela é  “a imagem do que devem significar estes Jogos: uma aposta para que o esporte peruano transcenda”.

O tom ufanista tem sido comum na cobertura da imprensa do país e deve embalar a torcida, cuja presença é esperada em bom número em várias arenas. Mas há dissonâncias.

Eduardo Berroa, 31, que trabalha na área de turismo, é um dos que celebram a realização do evento em Lima, mas não encampam o sonho de transformação da realidade esportiva nacional.

Na quarta-feira (24), homens faziam obras em frente à arena que receberá a competição de ginástica do Pan
Na quarta-feira (24), homens faziam obras em frente à arena que receberá a competição de ginástica do Pan - Daniel E. de Castro - 24.jul.2019/Folhapress

“A primeira vez que teve um show do Iron Maiden aqui, em 2009, todos foram, porque nunca havia tido um show como esse. Na segunda vez que eles vieram já não tinha muita gente. Penso que o mesmo acontecerá nos Jogos. As pessoas vão pela novidade, mas temo que depois as instalações não tenham tanta utilidade”, afirma.

Cerimônia de abertura terá história e ‘Despacito’

O evento que abre oficialmente os Jogos será realizado às 20h30 (de Brasília), no estádio Nacional. São esperadas pela organização cerca de 50 mil pessoas. A cerimônia celebrará a história do país-sede e terá a presença de artistas locais, mas a grande atração será o porto-riquenho Luis Fonsi, famoso pelo hit “Despacito”. Também haverá o tradicional desfile das delegações.

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