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Marcos Augusto Gonçalves

Time de 1994 ganharia da seleção de 1982... nos pênaltis!

Embora admire o time de 82, a avaliação do trabalho de Telê pecava por condescendência

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São Paulo

Quando Galvão Bueno soltou seu antológico “é tetra, é tetra, é tetra” ao ver Roberto Baggio isolar a bola por cima do travessão de Taffarel, no quinto pênalti cobrado pela seleção italiana, o Brasil encerrou um ciclo de derrotas em Copas que colocava em xeque toda a autoconfiança adquirida de 1958 a 1970. Naqueles anos, a seleção venceu três dos quatro Mundiais disputados e assombrou o planeta com uma coleção inigualável de craques e um futebol tão inspirado que ganhou a qualificação de arte.

Durante os 24 anos de fracassos que viriam depois, interrompidos em 1994, os amantes do bom jogo elegeram o time de 1982 como prova de que o futebol brasileiro ainda se manteria no mesmo diapasão do ciclo anterior, embora nos tivesse faltado... o que mesmo? Sorte? Justiça divina? É o que parecia crer o “mainstream” da crônica esportiva.

Veja mais: Lembre a campanha jogo a jogo do Brasil no tetra

A frustração com a derrota do time de 82 levou-nos a subestimar o selecionado italiano e a superestimar o nosso —incluindo a avaliação feita do treinador Telê Santana. Embora fosse (e continue sendo), como todo admirador do bom futebol, fã daquele time, sempre suspeitei de que a avaliação do trabalho de Telê pecava por condescendência —e os erros de 1986 só confirmaram essa impressão.

Perder aquelas duas Copas em sequência não foi pouco. O bastante talvez para transformar o grande treinador num excelente técnico de clubes. E, cá entre nós, cortar Renato Gaúcho (e por tabela ficar sem Leandro por indisciplina) não foi uma decisão das mais espertas.

O corolário das derrotas de 1982 e 1986 foi a busca do resultado. Decidiu-se forçar a mão no comando técnico. Afinal, não tinha sido falta de jogador a causa do naufrágio.

Telê, involuntariamente, acabou contribuindo para o que não gostava, o futebol em que a transpiração vale mais que a inspiração e só vale a pena quando vence. Foi assim que chegamos, depois da patetada de 1990, a Carlos Alberto Parreira, tecnocrata-mor e desafeto da crônica, que o via como um milico teimoso e esquemático. Não que não fosse —e eu mesmo me exasperava com sua índole burocrática. Mas o fato é que ganhou a Copa.

Muitos insistem ainda hoje que o time de 94 era medíocre. Nem tanto. Sem dúvida, o meio de campo, com exceção dos volantes Mauro Silva, excelente, e Dunga, muito bom, deixava a desejar. Mas a defesa era ótima e o ataque matador.

Romário está entre os maiores atacantes que o mundo já viu pisar numa grande área —e Bebeto fez com ele uma dupla infernal. Apesar da irritante mentalidade parreirista, 94, apesar da vitória no sufoco, deixou boas lembranças.

Faço aqui uma aposta-provocação, sem medo de perder (já que o resultado jamais será comprovado): o time Romário e Parreira ganharia uma final hipotética contra a seleção de Zico e Telê. Claro, nos pênaltis! 

Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima e editorialista. Foi editor da Ilustrada, de Opinião e correspondente em Milão e em Nova York

Editor de projetos especiais, foi editor de Opinião e repórter especial

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