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Biles chora e diz não confiar em federação de ginástica dos EUA

Atleta descreveu danos emocionais do escândalo de abuso sexual na organização

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Kansas City | The New York Times

Dois dias antes de competir por seu sexto título nacional de ginástica, Simone Biles chorou ao falar sobre sua falta de fé na federação de ginástica dos Estados Unidos depois do escândalo de abuso sexual envolvendo Lawrence Nassar.

Em entrevista na quarta-feira (7) depois de uma sessão de treinamento em Kansas City, Missouri, antes do campeonato de ginástica americano, Biles não conseguiu conter a emoção quando questionada sobre um tuíte publicado em 4 de agosto. Na mensagem, ela afirmou que quanto mais descobre, mais se sente ferida pela USA Gymnastics (federação de ginástica dos EUA).

"É difícil recorrer a uma organização que falhou conosco tantas vezes", disse Biles na quarta-feira (7), em lágrimas.

Simone Biles foi uma das atletas que sofreu abuso de Lawrence Nassar
Simone Biles foi uma das atletas que sofreu abuso de Lawrence Nassar - USA TODAY Sports

Biles publicou a mensagem em resposta a uma reportagem sobre uma investigação de um subcomitê do Congresso americano sobre a segurança dos atletas nos esportes olímpicos.

A ginasta revelou no ano passado que era uma das mais de 300 atletas que acusaram Nassar —então médico da equipe olímpica de ginástica dos Estados Unidos e da equipe de ginástica da Universidade Estadual do Michigan— de molestá-las sob o pretexto de conduzir procedimentos médicos.

Depois de se declarar culpado por múltiplos crimes sexuais, Nassar foi sentenciado no ano passado a um período equivalente à prisão perpétua. O subcomitê do Congresso criticou severamente a USA Gymnastics, que está em tumulto desde que explodiu o escândalo envolvendo Nassar em 2016. A federação já contratou três novos presidentes-executivos nos últimos dois anos.

"Isso se torna um problema sempre que lidamos com o pessoal novo", disse Biles, 22. "Como podemos confiar neles? Trazem gente nova o tempo todo e eu automaticamente desconfio, porque as pessoas que conheci por anos falharam conosco".

Biles, que venceu a competição geral de ginástica na Olimpíada do Rio em 2016, falou que continuava a não confiar na organização.

"Eles tinham um trabalho, literalmente um trabalho, e não foram capazes de nos proteger", ela afirmou. "Será que nos detestavam a ponto de não conseguirem fazer seu trabalho?".

Segundo a atleta, houve momentos, depois das revelações sobre Nassar, em que era difícil demais ir treinar. Em outras ocasiões, algo se desligava no meio dos exercícios, ela recordava o que aconteceu e tinha de deixar o ginásio.

"Você sente tudo ao mesmo tempo; parece um descarrilamento de trem".

 

A ginasta afirmou ter problemas para confiar em médicos e que tinha de se forçar a receber os tratamentos de que precisa para continuar no esporte, e que está em terapia para lidar com o trauma.

"Como ginasta, se você está lesionada ou algo dá errado, você vai a um médico ou procura seus treinadores. Eles informam os passos certos para a cura", disse. "Mas para isso, o processo de cura de cada um é diferente, e creio que essa seja a parte mais difícil".

Em declaração de resposta aos comentários, Li Li Leung, que acumula os cargos de presidente e presidente-executiva da USA Gymnastics, afirmou que "vamos continuar a trabalhar com afinco para demonstrar a Simone e a todos os nossos atletas, membros, comunidade e torcedores que estamos trabalhando para criar um ambiente seguro, positivo e encorajador, no qual as vozes dos atletas sejam ouvidas".

Para Biles, tudo o que pode ser feito é esperar que a USA Gymnastics faça a coisa certa —mesmo que tenha suas dúvidas.

"Há sempre uma bomba-relógio tiquetaqueando", afirmou.

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