Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Campeão ou não, quero Sampaoli até 2023, diz presidente do Santos

Para Peres, apesar de críticas, técnico argentino deu exposição inédita ao clube

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São Paulo

Entre risos, o presidente do Santos, José Carlos Peres, 71, diz que o técnico Jorge Sampaoli cuida do seu dinheiro com o mesmo rigor que exige bom desempenho dos jogadores. “Nunca vi coisa igual”, afirma o dirigente.

Ele conta histórias do aspecto “pão duro” do argentino, que desejava ter um avião fretado pelo clube para trazer seus cachorros da Argentina, com admiração e gratidão.

Peres sabe que depois de um 2018 conturbado, em que apenas a assembleia de sócios impediu que ele fosse retirado do cargo, o ano de 2019 tem sido bem mais tranquilo. Muito disso se deve à presença de Sampaoli, que colocou o Santos na liderança do Campeonato Brasileiro.

“Ele falou comigo um dia que nunca vai embora de Santos. Mesmo quando for para outro clube, terá um apartamento na cidade, que tem tudo o que ele sempre quis”, diz.

José Carlos Peres ao lado do técnico argentino Jorge Sampaoli; ambos já revelaram atritos em entrevistas coletivas - Ricardo Moreira - 18.dez.18/Fotoarena/Folhapress

Considerando o espaço que deu ao clube na mídia e a qualidade do trabalho, Peres afirma que o argentino é uma das melhores coisas que já aconteceram para o Santos.

“Ele é participativo. É um chato? Não tenha dúvida. Temos certeza que vai receber propostas no final do ano”, constata. Por isso, diz desejar, até 31 de dezembro, esticar o vínculo de Sampaoli até 2023.

Peres também declara à Folha que o destino do Santos é atuar em São Paulo e ressalta que os jogos do time na Vila Belmiro, mesmo quando lotam o estádio, dão prejuízo.

O senhor sofreu um processo de impeachment, mas neste ano as coisas parecem mais tranquilas na política do clube. Sampaoli deixou sua vida mais tranquila? A de qualquer um. Ele é um operário. 

Quanto Sampaoli é exigente comparado a outros técnicos? Ele é um técnico exigente porque é top. Não tem ninguém no Brasil melhor do que ele. Todas as contratações, o perfil e os nomes, quem determina é o Sampaoli. Nem sempre a gente consegue contratar, porque não somos um clube com receita como a do Flamengo, por exemplo, de R$ 650 milhões.

O senhor se aborrece quando Sampaoli reclama em público que jogadores não foram contratados?  Não. Eu gosto de ser demandado. Quem trabalha sem demanda não é profissional. Ele reclamou de estrutura. Deixamos ele participar, fizemos reformas dentro do CT a pedido dele. Lá é a casa dele. Ele queria uma sala maior, fizemos. Veio pedir sala de análise de desempenho, fizemos, compramos software. Houve uma evolução e que não é perceptível aos olhos da torcida. Ele é participativo. É um chato? Não tenha dúvida.

Ele está mostrando que se importa? Ele se importa com o clube, quer ser campeão. Ele veio conversar comigo uma vez. Disse: “presidente, eu preciso ser campeão. Minha passagem pela [seleção da] Argentina não foi boa, eu estou magoado até hoje. Preciso ser campeão.” Sampaoli foi uma das melhores coisas que o Santos fez nos últimos dez anos. Vou dizer mais: Sampaoli já se pagou. Por mais que a gente pague o salário dele e faça tudo por ele, o Santos nunca teve tanta mídia na vida como agora. Sabe por quê? Porque no tempo do Pelé não tínhamos tanta ferramenta de mídia. Pelo amor de Deus! Não estou dizendo que ele é mais importante que o Pelé. Mas em termos de técnico, foi a coisa mais importante que já aconteceu ao Santos.

Toda relação com técnico, ainda mais um que o senhor reconhece ser chato, sofre desgaste. É viável manter Sampaoli por um longo período?  Eu falei chato no sentindo de ser persistente e de cobrar.

Mas é viável mantê-lo por três anos ou mais? Depende dele.

Qual seria a dificuldade em renovar? A gente sabe que o Sampaoli vai receber propostas. Ele não ganhou nada ainda. Ganhe [o título do Campeonato Brasileiro] ou não ganhe, o trabalho é bom. Eu quero acertar com ele uma renovação até 2023.

Quando? Ainda neste ano. Queremos levar isso para as categorias de base. Que o mesmo esquema dele seja usado na base. Isso seria supervisionado pelo Sampaoli.

O senhor disse à Folha no início do ano que 2019 seria extremamente difícil. Oito meses depois, o time é líder do Brasileiro. O que aconteceu? As coisas evoluem. A gente pegou um clube com muita dívida, com dez contas zeradas apenas no banco Itaú. Primeiro, tinha de se manter de pé e não cair para a segunda divisão. Havia um estoque de jogadores que não eram aceitos pela torcida nem pelos técnicos. Foi uma construção e tivemos de montar o time. A salvação do Santos chama-se Rodrygo [atacante de 18 anos]. Uma venda [para o Real Madrid] que rendeu ao clube mais de R$ 200 milhões. Com isso, pagamos R$ 74,5 milhões de dívida da gestão anterior [em 2018] e R$ 45 milhões neste ano.

O Santos contratou muitos jogadores. Sim, 14 neste ano. A gente perde para o Palmeiras, com quem não dá para competir, Flamengo e São Paulo. Fizemos de forma equilibrada.

Qual é o impacto de não ter um patrocinador principal na camisa do clube? O senhor cobra o departamento de marketing? Cobro e muito. Encho o saco. Mas a [oferta de patrocínio] máster que veio para a gente é de uma ordem de valores baixa. Pelo time que o Santos tem e pelo nome. O Brasil tem um vício de pagar mais para um clube porque ele tem mais torcida. Esse é um erro absurdo. Você tem de fazer uma conjunção. O que tem mais história, tem mais atrativo, é melhor recebido por todos. Na TV aberta, o Santos teve nove transmissões [no ano], vamos para mais seis. Não se mede um time porque ele tem mais torcida.

O destino do Santos é jogar na cidade de São Paulo? O futuro do Santos está em São e Paulo e no exterior, o que não significa abandonar Santos. Vai ter jogo na Vila? Sim, mas jogos especiais.

Mas quando isso? Já está acontecendo. Hoje, são 50% dos jogos em Santos, 50% em São Paulo. Provavelmente não estarei mais no clube, mas vai ter que aumentar [a porcentagem na capital] porque senão não sobrevive. O clube perdeu [dinheiro] quando jogou contra Goiás e Avaí [na Vila Belmiro]. Vendemos todos os ingressos em cinco horas, mas perdemos R$ 3 milhões em comparação a se fizéssemos os jogos em São Paulo. Arrecadamos R$ 510 mil. Tira as taxas e sobrou R$ 280 mil. Quem paga isso? Em São Paulo, pago 23% de despesas. Na Vila, cheguei a pagar 42%. Tem muito bilhete de cortesia.

Desde quando assumiu, você demitiu vários ex-jogadores que trabalhavam no clube. Por quais razões?  Não fiz nada por motivo pessoal. Tenho admiração enorme, por exemplo, pelo Clodoaldo [ex-volante e ex-consultor] e alguns outros. Mas entre gostos pessoais e a instituição, fico com a instituição sempre. Não tenho prazer de mandar embora, mas, se o Santos não abre o olho, ele acaba e depois não se recupera mais.

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