Descrição de chapéu Copa Libertadores

Com livro na mão, Scarpa vira artilheiro para Palmeiras chegar à semi

O time alviverde recebe o Grêmio nesta terça (27), pelas quartas da Libertadores

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São Paulo

A cerca de 30 metros da meta gremista, Gustavo Scarpa se posicionou ao lado de Marcos Rocha, durante uma cobrança de falta. Enquanto esperava o passe do companheiro, em jogada ensaiada, o camisa 14 do Palmeiras olhava atentamente para o gol como se pudesse calcular a força e o jeito exatos para superar o goleiro Paulo Victor. 

Bater na bola com precisão e fazer cálculos rápidos, de fato, são habilidades que Scarpa carrega desde a infância. O arqueiro do Grêmio foi o último a ter uma prova disso ao sofrer o gol da vitória palmeirense no duelo de ida das quartas de final da Taça Libertadores

Em seu melhor momento desde que foi contratado pelo time, em janeiro de 2018, o armador é o artilheiro da competição mata-mata, com seis gols, e deixou o Palmeiras a um empate da semifinal. Nesta terça-feira, joga o duelo de volta, às 21h30, no estádio do Pacaembu.

Ao balançar a rede na última terça, o meia também ultrapassou Dudu e se isolou como goleador da equipe de Luiz Felipe Scolari em 2019, com dez gols. 

"Temos que procurar uma posição para ele", disse o Felipão, após a atuação do meia contra o Corinthians, na 13ª rodada do Nacional, em 4 de agosto.

O técnico achou o lugar, e assim Scarpa teve a chance de iniciar o duelo contra o Grêmio, em seu 29º jogo no ano, o 19º como titular. Ele atuou em 65% dos jogos da equipe.

O gol com chute fora da área virou uma especialidade da aposta de Scolari. Ele marcou três vezes assim na temporada — fez 30% dos gols do clube dessa distância na temporada. 

A precisão para bater bem na bola vem de família. Ao menos é o que jura José Luiz da Silva Scarpa, 60, conhecido pelo apelido de Seu Zezo, que diz ter moldado o talento do filho. "Eu brinquei com a turma que veio falar comigo depois do gol que ele foi bem treinado, bem ensinado, desde criança", diz. 

Pai e filho costumavam correr atrás da bola nas quadras de Hortolândia, no interior de São Paulo, onde o meia do Palmeiras passou a infância. Apesar de apresentar o futsal e o futebol ao filho, seu Zezo diz que nunca o pressionou a virar jogador. "O Gustavo sempre teve liberdade de escolher o que ele queria fazer."

Aos 13 anos, ele deixou claro para seu pai qual seria sua escolha de vida. Depois de passar uma temporada no juniores do Santos, estava determinado a virar profissional. Seu rendimento na escola, então, começou a ser afetado.

"Teve uma fase que o professor de matemática dele até me chamou para conversar e disse que o Gustavo estava pensando muito em bola, só queria saber disso", conta seu Zezo. "Eu disse ao professor que, se até os 17 anos ele não estivesse profissionalizado, ele estudaria para seguir outra carreira."

Não deu nem tempo para o meia pensar em qual área poderia seguir. Aos 16 anos, foi profissionalizado pelo Desportivo Brasil. Curiosamente, justamente nesta idade ele passou a se dedicar mais aos estudos, segundo o pai.

"Meu pai me educou muito bem, sempre me incentivou a estudar e ler muito. Fez o possível e o impossível por mim e pela minha irmã [Gabriela]", afirma o jogador. 

Seu Zezo foi criativo para desenvolver nos filhos o gosto pelos estudos, principalmente pela leitura. Ele costumava colocar Gustavo e Gabriela para assistirem aos seus filmes e desenhos favoritos legendados. "Eu atirei em uma coisa e acertei em outra, isso ajudou eles a aprender inglês (risos)", diverte-se.

Foi na sétima série que Scarpa ganhou o seu primeiro livro: Tonico e Carniça, de Francisco de Assis e José Resende Filho. A história narra a trajetória de dois amigos que lutam contra o preconceito por não terem um lar. 

"Naquela época, eu ainda não era muito fã de leitura. Meu gosto surgiu mesmo quando comecei a ir para a igreja, em 2009, e me interessei pela Bíblia", relembra o atleta, que atualmente está lendo O Peso da Glória, do escritor irlandês Clive Staples Lewis (1898-1963). 

Franz Kafka (1883-1924) e Machados de Assis (1839-1908) também fazem parte do gosto do palmeirense, que volta e meia está com um livro na mão nas viagens do clube.

Na igreja, o meia também se interessou por instrumentos musicais, principalmente o violão e a guitarra. Seu pai conta que ele começou a aprender a tocar sozinho. "Ele treinava vendo vídeo na internet. Às vezes, vinha um amigo dele aqui ensinar alguns acordes na guitarra. Hoje ele toca violão, guitarra, baixo e até bateria ele tenta."

Scarpa se divide entre dois gêneros musicais: louvor e rock. Na adolescência, sua banda favorita era o The Who. Hoje, é do Led Zeppelin que ele mais gosta. 

Com seu pai, o atleta aprendeu as principais lições que carrega, sobretudo dois conselhos: minha casa, minhas regras e se não puder ajudar, não atrapalhe. "São frases que nunca me esqueço", afirma o jogador.

Seu Zezo também está cada dia mais orgulhoso do amadurecimento do filho. Ele só lamenta não ter realizado um sonho antigo, de jogar futebol ao lado de Gustavo. Ele sofre com artrose nos dois joelhos.

"Eu joguei muito futsal e veio o desgaste. Quando o Gustavo estava naquela idade legal, com 13, 14 anos, eu já estava sem conseguir andar direito."

Não que isso o faça menos feliz hoje. Pelo contrário, depois do gol de Gustavo Scarpa contra o Grêmio, ele até ficou sem voz. "Eu gritei muito. Fiquei dois dias sem falar. Foi muito emocionante."

Esta noite, no Pacaembu, espera repetir a dose. 

​Palmeiras passa

Após vencer o jogo de ida, em Porto Alegre, por 1 a 0, a equipe alviverde avançará à semifinal em caso de nova vitória ou empate.

Pênaltis

Caso o Grêmio vença o jogo desta terça (27) por 1 a 0, mesmo placar pelo qual foi derrotado em casa, a decisão será nos pênatis.

Grêmio passa

O time de Renato Gaúcho precisa vencer com mais de um gol marcado para se beneficiar do critério do gol anotado como visitante.

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