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Espanhol se mira na Premier League e tenta ser menos desigual

Torneio mudou divisão de cota da TV e teve investidores estrangeiros em clubes

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São Paulo

Enquanto acumula cifras bilionárias de faturamento, o Campeonato Espanhol, que começa nesta sexta-feira (16), tenta ser menos desigual. O torneio historicamente dominado por Real Madrid e Barcelona —nos últimos anos também com o Atlético de Madri entre campeões— busca na Inglaterra uma inspiração para crescer e repartir do bolo. 

O torneio da Espanha começa nesta sexta-feira (16), com o duelo entre Athletic Bilbao e Barcelona, às 16h (de Brasília), com transmissão da ESPN Brasil.

O faturamento dos clubes que disputa a competição foi de 4,4 bilhões de euros (cerca de R$ 19,5 bilhões), na temporada 2017/2018, um salto de 20,6% em relação ao ciclo anterior. Na Inglaterra, no mesmo período, as 20 equipes tiveram receita somada de 5 bilhões (R$ 22 bilhões).

O índice é puxado principalmente pela força de Real Madrid (ESP) e Barcelona (ESP), que, segundo relatório anual da Deloitte publicado neste ano, ainda são os dois clubes de maior faturamento no futebol mundial.

Esse poderio dos dois gigantes, porém, é que empresta à liga espanhola a marca depreciativa de um "campeonato de dois times". Há cinco anos, o cenário financeiro reforçava ainda mais essa impressão, com 75% do dinheiro proveniente dos direitos de transmissão concentrados na dupla.

Hoje, inspirados no modelo de divisão de receita televisiva adotado pela Premier League, que transforma até mesmo o lanterna do campeonato em uma máquina de arrecadação, a situação está um pouco menos desigual.

Metade do dinheiro da venda de contratos televisivos é repartida de maneira igual entre os 20 clubes espanhóis da primeira divisão.

Outros 25% são repassados de acordo com a colocação nas últimas cinco edições da competição e a última fatia, também de 25%, é calculada de acordo com uma série de medidas que cada clube precisa tomar para melhor promover o produto de seus jogos. Como por exemplo o preenchimento da arquibancada que é mostrada pela câmera de transmissão, qualidade do gramado e iluminação dos estádios, entre outras.

São requisitos que a liga faz para melhorar o que é entregue pela televisão aos espectadores de todo o mundo. Até mesmo os horários são estabelecidos pensando em mercados específicos.

Messi e Casemiro disputam a bola em partida entre Barcelona e Real Madrid, times que dominam o Campeonato Espanhol
Messi e Casemiro disputam a bola em partida entre Barcelona e Real Madrid, times que dominam o Campeonato Espanhol - Lluis Gene - 6.fev.2019/AFP

É o caso do Espanyol (ESP), clube comprado pelo empresário chinês Chen Yansheng e que tem o centroavante também chinês Wu Lei, cujos jogos nas quatro primeiras rodadas desta temporada serão transmitidos entre 13h e 20h, para atender ao mercado asiático, estratégico no plano de expansão do campeonato.

Faz parte deste plano, também, a atuação de funcionários da liga espalhados pelo mundo. São mais de 40 profissionais trabalhando na divulgação do produto de LaLiga em países como Brasil, Polônia e até no Vietnã.

A participação estrangeira na administração dos clubes também é outro passo que o campeonato dá na tentativa de se globalizar e captar recursos. Atualmente, 6 das 20 equipes de elite têm donos ou investimento de fora do país (30%). Além do Espanyol, outros dois têm participação de chineses: Valencia e Granada. O Atlético de Madri tem 32% das ações do clube pertencentes ao grupo israelense Quantum Pacific, enquanto o Valladolid conta com o investimento do ex-atacante brasileiro Ronaldo.

O Mallorca, recém-promovido à primeira divisão, tem como proprietário o americano Robert Sarver, dono também do Phoenix Suns, da NBA. Ex-armador da equipe, o canadense Steve Nash é um dos acionistas do Mallorca.

Isso foi permitido graças a uma lei promulgada em 1999, que obrigou os clubes das duas divisões profissionais (primeira e segunda) a virarem sociedades anônimas e, assim, permitirem a compra de ações.

Barcelona, Real Madrid, Athletic Bilbao e Osasuna ficaram fora dessa obrigatoriedade, por terem um sistema associativo consolidado, no qual a participação no capital do clube fica na mão dos sócios e não de uma só pessoa ou grupo de investimentos.

Na Premier League, onde este processo de clube empresa iniciou há muito mais tempo, 14 das 20 equipes da primeira divisão têm capital estrangeiro (70%).

"A respeito da chegada de donos estrangeiros, me preocupam mais os donos espanhóis. Não sei porque as pessoas pensam que porque você é estrangeiro você pode ser ruim. Me parece que há um pouco de xenofobia. O investidor não é bom ou mal porque ele provém de algum lugar", disse o presidente de LaLiga, Javier Tebas, em entrevista ao El Español, em 2018.

Porém, ainda que siga o modelo inglês de fazer campeonato (e negócio), um dos desafios dos espanhóis é repartir o bolo dos direitos televisivos de forma ainda mais igualitária.

Segundo os últimos dados consolidados da liga espanhola, referentes à temporada 2017/2018, o Barcelona, campeão nacional, faturou mais que o triplo do que os dois clubes de menor faturamento, Leganés (ESP) e Girona (ESP): 154 milhões de euros (cerca de R$ 685 milhões) contra 43 milhões (R$ 191 milhões)

 

Na mesma temporada da Premier League, o Manchester United (ING), que arrecadou 149 milhões de libras (R$ 723 milhões) com a distribuição televisiva, angariou menos que o dobro do time de menor arrecadação, o West Bromwich (ING), com 94,6 milhões de libras (R$ 459 milhões).

O atual contrato de direitos televisivos de LaLiga, que começou em 2017 e termina em junho do ano que vem, rende 2,1 bilhões de euros (aproximadamente R$ 9,3 bilhões).

"Creio que a gente seguirá crescendo, mas em termos percentuais não será como os níveis anteriores. Não é o mesmo [crescer] 100% de 10 do que 1% de um milhão", afirma Tebas.

O último contrato da Premier League, válido pelas três temporadas de 2015 a 2019, rendeu à liga inglesa 5,9 bilhões de euros (R$ 26 bilhões). Para o próximo triênio, a entidade vendeu os direitos de transmissão do campeonato por 9 bilhões de libras (aproximadamente R$ 43 bilhões).

Outro desafio dos espanhóis em relação aos ingleses é se aproximar do índice de taxa de ocupação dos estádios. Na última temporada do futebol na Inglaterra, torcedores ocuparam 94% dos estádios do país em jogos da elite inglesa. Na Espanha, a taxa de ocupação ficou em 75%.

No que o futebol espanhol pode se gabar, por outro lado, está relacionado ao desempenho esportivo. Só nesta década, oito espanhóis chegaram a finais de Champions League, com seis campeões (Real Madrid quatro vezes, Barcelona duas), contra cinco finalistas ingleses e apenas dois campeões (Chelsea e Liverpool).

Na Liga Europa, também houve domínio espanhol. São cinco títulos para o país (Sevilla três vezes, Atlético de Madri duas), e somente dois para os clubes da Inglaterra (Chelsea e Manchester United).

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