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Jogadoras dos EUA e federação não chegam a acordo sobre igualdade

Atletas da seleção de futebol feminina movem processo por discriminação de gênero

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Andrew Das
Nova York | The New York Times

As negociações de mediação entre a seleção americana de futebol feminino e a Federação de Futebol dos Estados Unidos foram encerradas sem solução na quarta-feira (14), reduzindo seriamente a esperança de que as partes evitem um duelo em um tribunal federal quanto ao processo por discriminação de gênero movido pelas jogadoras alguns meses atrás.

As duas partes haviam aceitado um acordo para se reunir sigilosamente em Nova York esta semana, pouco mais de um mês depois que a seleção feminina conquistou seu segundo título consecutivo na Copa do Mundo. As sessões de mediação deveriam ser as discussões face a face mais substantivas entre a equipe e a federação sobre igualdade de pagamento e outras questões trabalhistas desde a assinatura do atual contrato coletivo de trabalho das jogadoras, em abril de 2017.

Concentração das jogadoras dos Estados Unidos antes da final da Copa do Mundo de 2019
Concentração das jogadoras dos Estados Unidos antes da final da Copa do Mundo de 2019 - Denis Balibouse - 7.jul.2019/Reuters

Mas ao sair do processo de mediação sem solução, e com declarações combativas divulgadas por ambas as partes, as jogadoras e a federação sinalizaram a distância que ainda as separa.

"Nós iniciamos o processo de mediação com os representantes da federação esta semana cheias de esperança", afirmou Molly Levinson, porta-voz das jogadoras, em comunicado. "Hoje temos de concluir essas reuniões profundamente decepcionadas com a determinação da federação de perpetuar condições de trabalho e comportamentos fundamentalmente discriminatórios. Fica claro que a federação, o que inclui seu conselho diretivo e o presidente Carlos Cordeiro, se pretende seriamente a pagar menos às mulheres do que aos homens. Eles não terão sucesso."

A federação, depois de afirmar inicialmente que respeitaria um compromisso de não divulgar comunicados à mídia sobre a mediação, respondeu horas mais tarde com um comunicado no qual definia as ações dos advogados das jogadoras como "agressivas e em última análise improdutivas", e rotulando a declaração de Levinson como "inflamatória".

"Afirmamos numerosas vezes que nosso objetivo é encontrar uma solução, e durante a mediação esperávamos poder tratar as questões de maneiras respeitosa e chegar a um acordo", afirmou a federação. "Infelizmente, em lugar de permitir que a mediação fosse adiante de maneira considerada, os advogados das queixosas adotaram uma abordagem agressiva e em última análise improdutiva, depois de meses apresentando informações enganosas ao público em um esforço por perpetuar a confusão."

Já que não existem novas sessões de mediação marcadas, e as linhas de batalha prévias parecem estar sendo retomadas, as duas partes parecem estar a caminho de um retorno ao tribunal federal —e possivelmente a um julgamento no ano que vem.

Em março, 28 jogadoras da seleção feminina abriram um processo contra a federação na Justiça federal dos Estados Unidos, o que representou uma escalada considerável na luta iniciada por elas anos atrás a fim de obter da federação pagamentos iguais aos homens. As jogadoras declararam ser vítimas de "discriminação de gênero institucionalizada" que afetava todos os aspectos de seu trabalho, dos salários e condições de trabalho à maneira pela qual elas viajam para partidas e os hotéis em que se hospedam.

A federação optou por não travar um embate público com a equipe quanto ao processo, nos meses que antecederam a Copa do Mundo da França, em junho, concluindo que seria contraproducente —para não mencionar péssimo em termos de relações públicas —entrar em uma disputa enquanto a seleção buscava um novo título mundial. Em lugar disso, a federação investiu milhões de dólares nos preparativos e operações da Copa do Mundo, o que incluiu fretar um jato para transportar as jogadoras de volta para os Estados Unidos, para sua parada da vitória em Nova York.

Mas com o final do torneio, e com a reputação da federação sofrendo no tribunal da opinião pública e seus patrocinadores aumentando a pressão por uma solução da disputa quanto a pagamento igual, a federação começou a expor seus argumentos.

A organização discretamente contratou lobistas para defendê-la em Washington, onde congressistas estavam buscando congelar as verbas para os preparativos da Copa do Mundo masculina de 2026, da qual os Estados Unidos serão um dos anfitriões, até que o problema da igualdade de pagamento fosse resolvido. Em seguida, em 29 de julho. Cordeiro divulgou uma carta aberta que incluía números para provar que a seleção feminina na verdade ganhava mais dinheiro que a masculina.

As ações da federação enraiveceram os simpatizantes da seleção feminina e as jogadoras, que imediatamente colocaram em questão a matemática —e as táticas— da organização. Mas todos estavam de olho nos resultados das negociações de mediação desta semana, cujo fracasso agora deixou os dois lados sem muito espaço para um compromisso.

A questão da igualdade de remuneração na federação de futebol dos Estados Unidos é complicada. Embora tanto a seleção masculina quanto a feminina representem a federação em competições internacionais, sua remuneração pela entidade é diferente porque cada equipe negociou um contrato coletivo de trabalho específico.

Os homens, que obtêm a maior parte de sua renda de ricos contratos com clubes profissionais, têm um sistema que prevê apenas o pagamento de bonificações pela federação. As jogadoras da seleção feminina, a seu pedido e para sua própria segurança financeira, negociaram durante anos para receber salários integrais da federação, suplementados por bonificações por partida inferiores às pagas à equipe masculina.

The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

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