Por paz política, Galiotte tem 38% do conselho na diretoria do Palmeiras

Número de diretores integrantes do conselho deliberativo cresceu em sua gestão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Das 282 pessoas que compõem o conselho deliberativo do Palmeiras, 108 estão na diretoria do clube. Isso representa 38,3% do total de conselheiros. Se somados os nomes de Leila Pereira e José Roberto Lamacchia, presidente e dono (respectivamente) da Crefisa, patrocinadora do clube, são 110 conselheiros ligados ao mandatário alviverde Mauricio Galiotte (39%).

Isso o deixa precisando de apenas mais 32 votos para aprovar assuntos do interesse da sua administração no órgão deliberativo.

Se incluídos familiares de conselheiros, o número de diretores ligados ao conselho deliberativo sobe para 118.

Maurício Galiotte (à esq.), atual presidente do Palmeiras, ao lado de Paulo Nobre, ex-mandatário do clube; Galiotti foi vice-presidente na gestão de Nobre
Maurício Galiotte (à esq.), atual presidente do Palmeiras, ao lado de Paulo Nobre, ex-mandatário do clube; Galiotti foi vice-presidente na gestão de Nobre - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

Sob a presidência de Galiotte, a quantidade de diretores, adjuntos e assessores especiais cresceu. São 162 nomes. Em resposta ao questionamento feito pela Folha, o Palmeiras diz que são 157 diretores e 103 deles são conselheiros. O número não bate com o levantamento feito pela reportagem usando como base o próprio site oficial do Palmeiras e o cruzamento com a lista do conselho deliberativo.

Desde que Paulo Nobre assumiu o comando do clube, em 2013, houve crescimento contínuo no tamanho da diretoria e na participação de conselheiros. Quando Nobre chegou ao cargo, eram 100 diretores e 62 deles eram conselheiros. Em seu segundo mandato (2015/2016), passaram a ser 135 diretores e 77 conselheiros.

Após a eleição de seu sucessor, Mauricio Galiotte, o Palmeiras passou a ter 136 diretores e 87 conselheiros antes de chegar ao número atual.

Pelo organograma dos grandes clubes do Estado, ninguém tem tantos diretores e tamanha ligação entre conselho e diretoria quanto o Palmeiras. De acordo com o estatuto interno, o Santos é dirigido por nove pessoas que fazem parte do comitê de gestão (inclusive o presidente José Carlos Peres). Todos são também conselheiros. Na diretoria do Corinthians, cinco integrantes do conselho fazem parte da diretoria, um deles (Wellington dos Santos Raso Cardoso, diretor social) licenciado. No caso do São Paulo, é apenas um. Todos os dados estão disponíveis nos sites das agremiações.

No caso palmeirense, um dos números que mais chamam a atenção é o de assessores especiais. Do total, 27 são conselheiros e quatro são familiares de conselheiros. 

Ter 42% do conselho deliberativo (ou familiares de conselheiros) dentro da diretoria torna bem mais fácil para o presidente aprovar no órgão propostas de seu interesse.

Na quinta-feira (1º), o ex-candidato a presidente Genaro Marino foi suspenso por um ano do conselho deliberativo. O ex-presidente Paulo Nobre seria advertido, mas apresentou carta renunciando ao cargo de conselheiro. Os dois foram apontados como responsáveis pelo caso Blackstar, empresa que queria patrocinar o Palmeiras no lugar da Crefisa, mas que apresentou documentos considerados falsos.

O descontentamento de pessoas da oposição ouvidas pela Folha é que o loteamento da diretoria com pessoas do conselho torna quase impossível que Galiotte e Leila Pereira (também conselheira) sejam contrariados. Leila é o nome mais cotado para se candidatar à presidência no próximo pleito, em 2022.

 

“Há dois anos, houve uma proposta no conselho para reduzir isso. A proposta era limitar para 30 conselheiros [que poderiam ser integrantes da diretoria]. Não foi aprovado”, afirma o presidente do conselho deliberativo do Palmeiras, Seraphim del Grande.

Ele se irrita com os questionamentos da oposição sobre o número de conselheiros na diretoria. Alega que o Palmeiras sempre foi assim, “desde os tempos de Palestra Itália”.

“O Mustafá [Contursi, presidente entre 1993 e 2005, atual adversário da diretoria e da patrocinadora] ficou 20 anos no poder fazendo a mesma coisa e ninguém reclamava. As pessoas precisam ser mais coerentes. Mesmo assim, os presidentes perdem algumas votações no conselho”, completa ele.

Todos os integrantes da diretoria e conselheiros têm direito a um ingresso cada para jogos no Allianz Parque. Segundo cinco conselheiros ouvidos pela reportagem,  todos também têm direito a uma camisa oficial da equipe cada vez que um novo modelo é lançado. O Palmeiras contesta essa informação e diz que nem sempre recebem uniformes. . 

Mas estar na diretoria oferece facilidades de comprar mais ingressos, o que em jogos decisivos se torna um benefício considerável e também uma moeda política. Há também convites esporádicos para acompanhar o time em viagens fora de São Paulo e para ver partidas em camarotes no Allianz. A troca de tais benefícios políticos já aconteciam em outras gestões do clube e não são novas.  

Consultado pela Folha, o Palmeiras afirma que o aumento no número de diretores faz parte do processo de expansão e crescimento do clube. O clube afirma que todos os nomes foram homologados pelo COF, o Conselho de Orientação e Fiscalização.

Leia abaixo na íntegra a resposta do Palmeiras:

“O Palmeiras cresceu muito como marca nos últimos anos e isso faz com que o clube esteja em constante processo de crescimento e expansão, com a criação de novos departamentos, inclusive. O clube segue investindo em projetos e, para conduzi-los, há a necessidade de que se busque novas pessoas que possam dedicar seu tempo e esforço ao clube, além de seus profissionais. Um dos perfis que se encaixam nessa condição é o do conselheiro, que é um apaixonado pelo Palmeiras e quer ajudar o clube de alguma forma. Além do conselheiro, outras pessoas também se dispõem a colaborar, e acabam formando um grupo de palmeirenses que se dedicam a fazer com que o clube consiga acompanhar sua evolução. O Palmeiras age à luz do seu estatuto e todo diretor que é indicado, só toma posse depois de ter seu nome homologado pelo COF, que é o Conselho de Orientação e Fiscalização do clube.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.