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Sem os braços, corintiano é campeão mundial no ciclismo

Bruno Paim, 19, percorreu 340 quilômetros em 24 horas de competição

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São Paulo

Aos 19 anos, Bruno Paim virou símbolo de habilidade, superação e resiliência em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Ele nasceu com uma má formação congênita dos membros superiores e seus braços terminam na altura dos cotovelos. O que não o impediu de praticar e ser campeão no esporte. 

Em julho, venceu o Mundial de Mountain Bike 24 Horas Solo na categoria PNE (portadores de necessidades especiais), na cidade de Costa Rica, no Mato Grosso do Sul.

"O fato de não ter os braços não me afeta. Acho que é algo que impressiona mais quem me vê competindo. Nas provas, foco somente na dificuldade de cada trajeto e assim vou deixando as coisas acontecerem", afirma Bruno à Folha.

A competição vencida por ele foi disputada durante 24 horas. O campeão deu 11 voltas numa pista que tinha 29,3 km de extensão e percorreu mais de 300 km no período. 

Segundo o fisioterapeuta Thiago Zanetti, 33, o paratleta sabe improvisar para superar as adversidades. 

"Ele utiliza as outras partes do corpo que têm movimentação. Pega as coisas no chão com o pé. Abre lata de refrigerante com a boca e assim vai. Ele tem um alongamento impressionante", afirma Zanetti. 

Amante dos esportes radicais, Bruno também gosta de futebol e torce para o Corinthians. Seu ídolo no esporte é o ex-jogador Emerson Sheik.

"Eu atuava como meia e também atacante no time de futebol do colégio", conta.

Ele começou no ciclismo após receber um convite para fazer parte de um grupo de pedal da cidade. Se destacou na equipe e não parou mais.

Na época, Lidiany Nunes, 38, ficou impressionada com a desenvoltura do novato e passou a chamá-lo para participar de competições pela região.

"Ele ficou assustado no início, mas topou participar. Fizemos uma prova em duplas e acabamos ganhando. Daí ele não parou mais. Hoje eu já não consigo acompanhá-lo", afirma Lidiany. 

Para guiar e competir nas provas, Bruno encaixa seus membros superiores no guidão da bicicleta e consegue muitas vezes acompanhar o ritmo de concorrentes que não têm deficiências físicas.

"É impressionante porque ele não tem nenhum tipo de adaptação. Usa o freio como a gente e faz tudo com muita naturalidade. Já fizemos provas de três dias juntos e ele não caiu nenhuma vez. O equilíbrio dele e a habilidade na condução fazem toda a diferença", afirma Lidiany.

No início, Bruno teve dificuldade para bancar os custos com equipamentos. Seu pai, que trabalha como técnico de ar condicionado, pagava os gastos com vestimentas, de mais de R$ 2.000. Desde 2017, ele compete pelo Audax/Corinthians, time formado por outros cinco atletas. 

Com a estrutura da equipe e as planilhas elaboradas de acordo com a meta a ser atingida, as coisas ficaram mais fáceis para ele deslanchar.

O fisioterapeuta Thiago Zanetti é quem cuida do plano do Audax/Corinthians. 

"Além de não ter a formação dos dois antebraços e mãos, a perna direita dele tem uma deficiência muscular e é mais curta do que a esquerda. Isso faz com que ele tenha também um desvio de coluna", diz Zanetti.

A rotina de competidor tem um acompanhamento especializado, mas não difere muito daquela de outros atletas. Ele geralmente treina na parte da tarde. A carga de trabalho é variada e pode chegar a 800 km percorridos por semana.

"O que ele faz é uma coisa fora do comum e impressiona as pessoas", afirma Zanetti. "Nas competições, muita gente chega para abraçá-lo e passar o seu incentivo. A força de vontade do Bruno acaba sendo fonte de inspiração. Ele passa esperança e muita alegria de viver", completa. 

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