Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Corintiano é retirado pela PM após xingar Bolsonaro em clássico

Rogério Lemes diz que foi algemado e só foi liberado no fim do jogo

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São Paulo

O torcedor do Corinthians Rogério Lemes, 44, foi retirado pela Polícia Militar da arquibancada do estádio do clube, em Itaquera, neste domingo (4), durante o clássico contra o Palmeiras. Durante a execução do hino nacional, antes de o jogo começar, ele gritou por mais de uma vez "ei, Bolsonaro, vai tomar no cu" e foi abordado pelos policiais na arquibancada da arena.

A assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do estado de São Paulo disse, em nota enviada à imprensa, que "não houve prisão, mas a condução dele ao posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), onde foi registrado boletim de ocorrência não criminal e depois liberado para voltar a assistir à partida de futebol".

Lemes disse à Folha que pôde voltar a arquibancada 10 minutos antes do final do partida — o empate de 1 a 1 entre Corinthians e Palmeiras— terminar. 

A torcida do Corinthians durante jogo pela Copa do Brasil
A torcida do Corinthians durante jogo pela Copa do Brasil - Rodrigo coca - 29.set.2018/Ag Corinthians

"A conduta adotada para preservar a integridade física do torcedor, que proferia palavras contra o presidente da República, o que causou animosidade com outros torcedores, com potencial de gerar tumulto e violência generalizada", disse a nota da SSP.

O órgão também afirmou, na nota, que não pauta suas ações por orientações políticas. "Entre as atribuições da Polícia Militar estão: proteger pessoas, fazer cumprir as leis, combater o crime e preservar a ordem pública."

Lemes diz que agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar o agrediram na condução ao posto do Jecrim. Ele disse que foi levado por dois militares para uma sala reservada e sofreu chutes e um mata-leão. 

No boletim de ocorrência, a delegada Monia Olga Neubern Pescarmona não cita agressão e diz “que o declarante Rogério estava no setor das cadeiras quando, em dado momento, expressou opinião política gritando palavras contra o atual Presidente Jair Messias Bolsonaro. Informa que foi abordado por policiais militares, os quais para evitar um tumulto o conduziram para esta delegacia.”

Lemes não registrou a sua versão sobre a suposta agressão em uma delegacia. Ele alega que teme represálias.

“Fui humilhado, algemado e um policial me deu um mata-leão. Quando me derrubaram, eu uso prótese após ter necrose na cabeça do fêmur, pedi para me levantarem e gritaram comigo: 'você não é bom? Agora se vira'. Ainda estou com corpo dolorido, um pegou o meu dedo e começou a torcer”, disse Lemes à Folha.

Torcedor diz ter sido algemado e agredido por policiais após gritar contra Bolsonaro na arena Corinthians neste domingo (4). - Reprodução

O corintiano conta também que teve o celular apreendido e vasculhado pelos policiais. O aparelho, segundo ele, foi devolvido.

“Eu perguntei para a delegada qual crime havia cometido, eu apenas expressei meu protesto político. Ela me respondeu que ali [no estádio] não é lugar para isso”, afirmou o torcedor.

A Secretaria de Segurança Pública também disse que o torcedor em momento nenhum "mencionou ter sido agredido" pelos agentes e informou que denúncias contra ações de policiais podem ser feitas na Corregedoria da Polícia Militar.

Palmeirense, Bolsonaro esteve no Allianz Parque no sábado (27), no empate com o Vasco por 1 a 1. Foi o último jogo do Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro antes de visitar o rival Corinthians. Ele também participou da festa palmeirense na conquista do título nacional de 2018.

Antes do jogo deste domingo, Bolsonaro brincou com o resultado da partida. "Não teremos feijoada hoje à noite. A porcada vai estar feliz hoje à noite, tenho certeza disso. Se der o contrário, é bom não zoar, senão posso pegar o Itaquerão pra nós. Falou? É brincadeira", disse Bolsonaro ao deixar o Palácio do Alvorada pela manhã.

Nesta terça-feira (6), o Corinthians publicou uma nota em seu site oficial repudiando a ação da Polícia Militar na detenção do torcedor no clássico contra o Palmeiras.

Neste ano, a Folha noticiou que manifestações políticas em estádios estavam na mira dos policiais. Em março, na vitória do Sport por 4 a 0 sobre o Petrolina, no dia 24, integrantes da torcida Antifascista estenderam faixa em protesto à reforma da Previdência com a seguinte frase “Torcedor/a é trabalhador/a e também quer se aposentar”. A faixa foi retirada pelo Batalhão de Choque.

O Estatuto de Defesa do Torcedor, que rege o comportamento do público nos estádios do Brasil, veta em seu 13º artigo apenas "cânticos discriminatórios, racistas o xenófobos”.

A Fifa é bem rigorosa e contra manifestações políticas nos estádios por parte de clubes. A entidade determina que os as entidades “mantenham-se politicamente neutros” e consideram protestos passíveis de punição. Quanto a torcedores, prevê punição contra casos de preconceito e discriminação.

A professora de Escola de Direito do Brasil e doutora em Direito Político e Econômico, Mônica Sapucaia Machado, lembrou que o direito à livre expressão é garantido pela Constituição e que o pode acontecer àquele que se expressa é, por exemplo, responder por calúnia ou difamação.

“Ele não deveria ter sido detido, nem questionado [pela polícia]. Quem deveria questioná-lo é quem teria sido ofendido. Nesse caso, o presidente, por meio da Advocacia Geral da União”, disse, entendendo que não há base aparente para a justificativa policial de evitar algum tipo de tumulto.

“De forma nenhuma, até porque é crime formal, você pode ser agredido pelo exercício da sua palavra”, explicou à reportagem. Ela atenta ainda para um “escalonamento desse comportamento estatal” e lembra a abertura da Rio-2016, quando a então presidente Dilma Roussef foi vaiada pelas arquibancadas, mas nada foi feito contra quem a vaiava.

Bolsonaro já foi vaiado e elogiado em partidas de futebol à qual esteve presente em 2019, como na final da Copa América —na ocasião, o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que as vaias são um direito do cidadão.

Leia abaixo, na íntegra, as duas notas enviadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

"A SSP esclarece que todas as polícias de São Paulo são instrumentos do Estado Democrático de Direito e não pautam suas ações por orientações políticas. Entre as atribuições da Polícia Militar estão: proteger as pessoas, fazer cumprir as leis, combater o crime e preservar a ordem pública. No caso em questão, a conduta foi adotada para preservar a integridade física do torcedor, que proferia palavras contra o presidente da República, o que causou animosidade com outros torcedores, com potencial de gerar tumulto e violência generalizada. A pasta informa que não houve prisão, mas a condução dele por policiais militares ao posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), instalado dentro da Arena Corinthians, onde foi registrado boletim de ocorrência não criminal e depois liberado para voltar a assistir à partida de futebol."

"A SSP esclarece que em nenhum momento, durante o registro do BO não criminal realizado pela delegada presente no posto do Juizado Especial Criminal (Jecrim), instalado dentro da Arena Corinthians, o torcedor mencionou ter sido agredido. Por fim, a SSP informa que qualquer denúncia contra a ação dos policiais envolvidos no fato pode ser formalizada na Corregedoria da Polícia Militar, localizada na Rua Alfredo Maia, 58 – Luz."

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