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Com NBA cada vez mais estrangeira, Estados Unidos sofrem no Mundial

Favoritos caíram diante da França, de Rudy Gobert, destaque nos EUA

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São Paulo

O talentoso Donovan Mitchell, 23, fez o que pôde para carregar os Estados Unidos nas costas nas quartas de final da Copa do Mundo de basquete, na China. Não fosse a atuação do rival Rudy Gobert, 27, seu companheiro de Utah Jazz, o ala-armador poderia ter tido sucesso na tentativa de evitar a vitória por 89 a 79 da França.

O francês Gobert foi eleito o melhor jogador de defesa da NBA na última temporada, que teve grande impacto estrangeiro. O atleta escolhido como craque do campeonato é grego, Giannis Antetokounmpo, 24. O posto de novato do ano ficou com o esloveno Luka Doncic, 20. O prêmio para aquele que mais evoluiu foi entregue ao camaronês Pascal Siakam, 25.

Defesa de Rudy Gobert, do Utah Jazz, foi decisiva para a eliminação dos Estados Unidos - Zhu Zheng/Xinhua

As glórias não foram apenas individuais. O título ficou com a única equipe de fora dos Estados Unidos que participa da liga, o canadense Toronto Raptors. Para chegar à taça, o time contou com contribuições importantes do congolês naturalizado espanhol Serge Ibaka, 29, e do espanhol Marc Gasol, 34, além do já citado Siakam.

A lista poderia continuar. De acordo com o levantamento anual publicado pela NBA, os elencos das 30 franquias no início da temporada 2018/19 tinham jogadores de 42 outros países, um recorde. Com 108 atletas internacionais (no mínimo um em cada equipe), o campeonato teve ao menos 100 deles pelo quinto ano seguido.

Entre os 16 times classificados aos playoffs, todos tinham ao menos dois atletas de fora. Muitos são jovens que prometem vida longa e protagonismo na liga. Além de Antetokounmpo e Doncic, podem ser citados o camaronês Joel Embiid, 25, o australiano Ben Simmons, 23, e o sérvio Nikola Jokic, 24.

Isso não é necessariamente visto como um problema, especialmente do ponto de vista comercial. A NBA não faz segredo, desde o início deste século, sobre a ambição de expandir seus domínios, com jogos de pré-temporada e até do próprio campeonato sendo disputados no exterior. Há múltiplos programas de captação de talentos e de intercâmbio, como o “Basquete sem fronteiras”.

O próprio técnico dos Estados Unidos, Gregg Popovich, 70, que sofreu nas mãos dos franceses nesta quarta-feira (11), é um entusiasta da internacionalização da NBA.

Treinador do San Antonio Spurs desde os anos 90, cargo que acumula ao de comandante da seleção, ele se habituou a buscar atletas fora da América do Norte quando isso ainda era incomum. Sem o argentino Manu Ginóbili e o francês Tony Parker, já aposentados, certamente não teria acumulado cinco títulos da liga.

O dinheiro arrecadado com a venda de direitos de transmissão pelo mundo, embora não divulgado, é parte importante das finanças da NBA. Segundo a Forbes, a receita da última temporada foi de US$ 8 bilhões (R$ 32,5 bilhões), algo que não teria sido atingido sem o alcance global obtido, pouco a pouco, desde a década de 80.

Naquele período, os estrangeiros relevantes eram notória exceção. Foi o caso do nigeriano Hakeem Olajuwon, que entrou na liga em 1984/85 e se tornou o primeiro nascido no exterior a ser eleito melhor da temporada, em 1993/94. Ele se naturalizou norte-americano e defendeu a seleção do país em que passou a viver.

O canadense Steve Nash (2004/05 e 2005/06) e o alemão Dirk Nowitzki (2006/07) também receberam o prêmio e marcaram um momento decisivo para a expansão. Agora, foi a vez do grego Antetokounmpo, em um processo de internacionalização que não dá mostras de desaceleração.

Foi nesse cenário que a seleção norte-americana foi disputar a Copa do Mundo, e sem seus principais nomes. Como a Olimpíada é no próximo ano, jogadores como Kawhi Leonard, 28, Paul George, 29, e Anthony Davis, 26, descartaram a possibilidade de atuar no Mundial da China, encarar uma temporada desgastante na NBA e ir ao Japão na sequência para os Jogos Olímpicos.

Rudy Gobert, do Jazz, e Evan Fournier, 26, do Orlando Magic, fizeram escolha diferente e foram fundamentais na vitória do coeso time francês, que não chega a ser uma grande zebra.

Os Estados Unidos contavam com atletas talentosos, casos de Kemba Walker, 29, e Harrison Barnes, 27, mas não tinham o melhor entrosamento nem grandes estrelas para carregá-los.

“É até desrespeitoso falar: ‘Se vocês tivessem este ou aquele...’. É desrespeitoso com a França e com quem está no torneio. A França nos derrotou. Eu não poderia estar mais orgulhoso destes  12 caras, que sacrificaram seu verão para estar aqui. Sem nunca terem jogado juntos, eles deram a cara, competiram e merecem crédito”, disse o técnico Popovich.

Quebrada uma invencibilidade de 13 anos em grandes competições, a seleção norte-americana tem de se contentar em buscar o quinto lugar na Copa e se organizar para a Olimpíada. Já se fala na presença de craques e no retorno de LeBron James, 34, dado como aposentado do time nacional. Seja quais forem as escolhas, os Estados Unidos terão de lidar em Tóquio com uma realidade que eles ajudaram a construir ao expandir a NBA.​

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