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Longboard resgata origem do surfe e ganha espaço no circuito mundial

Modalidade sobre pranchas longas e retas se mostra mais acessível ao público

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Nick Corasaniti
Long Beach (Nova York) | The New York Times

Nos intervalos entre as ondas em Long Beach, Nova York, em uma manhã recente de dia de semana, dezenas de pranchas de longboard de 2,70 metros de comprimento flutuavam como destroços de madeira nas águas cinza-escuras de final de verão no Atlântico.

Mas quando surgiram as ondas, começou um balé: com um pé erguido para o céu, com os dedos brevemente arqueados, Kelia Moniz se levantou sobre sua prancha, com os braços abertos como os de um toureiro que aguarda calmamente a carga do touro, e dançou até o bico da prancha.

Na onda por trás dela, Justin Quintal inclinou os calcanhares por sobre a ponta da prancha, seu corpo de 1,83 metro de altura congelado na posição enquanto a prancha deslizava sem esforço para o oeste.

Moniz e Quintal são profissionais do longboard e estavam testando as ondas de Nova York. Pela primeira vez, a organização que comanda o surfe, a World Surf League, está realizando um circuito de longboard para coroar um campeão mundial. A terceira etapa da disputa aconteceu na costa de Nova York.

Os surfistas de longboard Justin Quintal, Kelia Moniz e Harrison Roach em Long Beach
Os surfistas de longboard Justin Quintal, Kelia Moniz e Harrison Roach em Long Beach - Todd Heisler - 5.set.19/The New York Times

Na noite de terça-feira, com o sol se pondo sobre ondas de entre 30 centímetros e um metro, dois surfistas do Havaí saíram vitoriosos nas finais: Honolua Blomfield derrotou a brasileira Chloe Calmon na disputa feminina, e Kaniela Stewart superou o brasileiro Jefson Silva na masculina.

O circuito representa uma aposta da liga em que o longboard —disputado sobre pranchas longas e retas que remontam às origens do esporte— merece um espaço competitivo e mais uma conexão com os milhões de surfistas que praticam o esporte como passatempo em todo o mundo, mas não pegam ondas de três metros em picos famosos como Pipeline, no Havaí.

"As pranchas curtas são empolgantes, são a joia na coroa da World Surf League, mas a maioria das pessoas que as veem acham que o esporte é legal, mas duvidam que seriam capazes daquelas manobras", disse Devon Howard, antigo surfista profissional e diretor do novo circuito. "O longboard satisfaz muitas necessidades para as pessoas, como um estilo de vida, como algo acessível".

E o surfe com pranchas longas está mais popular que nunca.

Alimentado por um mundo de mídia social que dá valor à estética e a um tom nostálgico, o surfe em longboards encontrou uma audiência dedicada para um estilo clássico que foi o marco das origens ancestrais do esporte no Havaí. A modalidade costuma vazar para a cultura popular com facilidade, em comerciais de moda e marcas de estilo de vida.

Os astros modernos do longboard reconduziram o esporte àquilo que lhe deu vida inicialmente.
"Nas décadas de 1950 e 1960, quando só existiam grandes e pesadas pranchas de madeira, era impossível virar e mudar de direção; o que restava fazer era caminhar sobre a prancha", disse Calmon. "Assim, caminhar até a ponta, voltar até a cauda, fazer piruetas. Tudo isso criou o estilo tradicional".

A World Surf League nem sempre apoiou o estilo do longboard. Por anos, a liga recompensou o que se costuma designar como longboard de alto desempenho, que tentava imitar o esporte praticado com pranchas curtas.

A brasileira Chloe Calmon prepara sua prancha de longboard em Long Beach
A brasileira Chloe Calmon prepara sua prancha de longboard em Long Beach - Todd Heisler - 5.set.19/The New York Times

Este ano, a liga mudou seu critério de pontuação a fim de incluir a frase "com mais estilo, fluxo e graça".
A mudança causou alguma agitação em uma modalidade que frequentemente demora a mudar. Em um evento na Espanha no mês passado, Edouard Delpero, praticante de longboard francês, fez gestos obscenos na direção da mesa dos jurados, ao voltar à praia, insatisfeito com as suas notas.

Com ou sem torneios oficiais, a modalidade já estava se encaminhando à direção que tomou agora, mesmo que ganhar a vida com o longboard tenha continuado a ser difícil. Levar o torneio a Nova York foi parte de um esforço mais amplo para gerar mais apoio comercial de fãs em locais que não são em geral vistos como focos de surfe.

Na verdade, já deixou de ser segredo que existem ondas firmes em Nova York. Kelly Slater conquistou uma nota 10 no Quiksilver Pro em Long Beach, em 2011. Uma olhada à praia no final de semana passada mostrava centenas de surfistas caçando as ondas de 2 a 2,5 metros trazidas pelo furacão Dorian.

Mas o surfe de Nova York pode ser complicado. É mais comum ver ondas modestas de entre 60 centímetros e um metro, em Long Island —pequenas para o surfe em pranchas curtas mas ideais para o longboard.

O surfista Harrison Roach na etapa de Long Beach do circuito mundial
O surfista Harrison Roach na etapa de Long Beach do circuito mundial - Todd Heisler - 5.set.19/The New York Times

"Não se pode ser surfista em Nova York e ficar só na prancha curta. Você pode até tentar, mas isso vai deixá-lo ranzinza", disse Will Skudin, surfista local nova-iorquino que compete no circuito mundial Big Wave. A família dele hospedou Duke Kahanamoku, lendário nadador e surfista havaiano, na década de 1950, e vem ajudando a promover o crescimento do esporte em Nova York desde então.

A aposta de levar a etapa a Nova York deu certo. As areias bege de Long Beach ficaram lotadas no sábado (7) como a North Shore de Oahu no inverno. Centenas de torcedores foram à praia para assistir à segunda rodada do torneio de surfe.

"É muito, muito bacana tê-los bem ali, surfando diante de nós", disse Mackenzie Brodsky, 11, que veio com a mãe, Melissa, para ver o torneio e surfar com algumas das profissionais, como parte do programa Rising Tides, que coloca meninas surfistas em contato com profissionais do esporte.

Fãs como Mackenzie levam Moniz a acreditar que a modalidade está a caminho de maior crescimento.
"Creio que dentro de alguns anos veremos muita gente capaz de fazer isso em tempo integral, sem ter de ter um emprego regular para tanto. E é essa minha esperança para a modalidade, na verdade", disse Moniz. "Talvez o espírito mude um pouco, mas tudo bem. Temos a responsabilidade de manter vivo o espírito do longboard.

Tradução de Paulo Migliacci

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