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Menino de R$ 500 mi bate Cristiano Ronaldo em valor e encanta Espanha

No Atlético de Madri, João Félix enfrenta o atacante da Juventus na Champions

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Rory Smith
Lisboa | The New York Times

Não houve um estalo que convencesse os treinadores de João Félix no Benfica de que ele estava destinado à grandeza. Mesmo quando adolescente, com um aparelho nos dentes, cabelo despenteado caindo sobre os olhos e ombros estreitos, ele era o tipo de jogador que desperta amor à primeira vista.

Não havia nada de ousado em seu talento. "Ele não é driblador", disse Nuno Gomes, que trabalhava em Seixal, a academia do Benfica no subúrbio de Lisboa, quando João Félix chegou, aos 15 anos. Mas nem precisava ser. Seu brilho era demonstrado nas coisas pequenas, nas coisas simples.

Gomes se deixou impressionar por sua visão, sua percepção e, especialmente, por seu primeiro toque, a maneira pela qual ele parecia saber o que faria antes mesmo de receber a bola. "Ele pensa mais rápido que os outros", disse o treinador.

João Tralhão, outro treinador que trabalhou com Félix em sua passagem pela academia, viu sinais na maneira como ele treinava. "Isso é o mais importante naquela idade", diz o técnico, que lembra o ar de perfeccionismo de Félix mesmo nos exercícios mais básicos.

José Boto era o chefe da equipe de olheiros do Benfica na época. Trabalhava com a equipe principal, mas foi informado por colegas da academia sobre um jogador que ele tinha de ver.

"Eles não tinham dúvidas a respeito dele", recorda Boto. Ele assistia a jogos das categorias de base regularmente e rapidamente chegou à mesma conclusão. "Ele era diferente dos outros", diz o olheiro.

Nesse sentido a história de origem de João Félix acompanha as de outros grandes jogadores à espera do sucesso. Seu talento era visível desde o começo. As pessoas em torno dele sabiam que ele estava destinado ao sucesso. E havia até, como é tradicional, uma dificuldade a superar. No caso de João Félix, o fato de que tenha ido parar no Benfica, depois de deixar o rival do FC Porto aos 15 anos.

A história de João Félix é diferente de uma maneira crucial. Existe um elemento que apanhou de surpresa até mesmo aqueles que o conhecem. Mal passados quatro anos de sua saída do Porto e chegada ao Benfica, João Félix, 19, é uma sensação no sentido mais verdadeiro da palavra. 

No clube português, em sua primeira temporada como profissional, venceu o título nacional. Sua recompensa foi um contrato cuja multa por rescisão era tão alta que os colegas de time o apelidaram de "o menino de 120 milhões de euros (R$ 468 milhões)".

Quando Cristiano Ronaldo assistiu a João Félix e o Benfica contra o Sporting, no dérbi de Lisboa, um antigo dirigente do Benfica brincou dizendo que "o melhor jogador de Portugal estava no estádio, e foi bacana que Cristiano viesse vê-lo". Em dado momento do verão europeu, Félix foi mencionado oito dias consecutivos em reportagens de primeira página do jornal português Correio da Manhã.

Foi o período em que ele fez sua estreia pela seleção portuguesa e em que o Atlético de Madri o tornou o jogador português mais caro da história: os US$ 138 milhões (R$ 562 milhões) que o clube gastou por sua contratação superaram o valor pago pelo Real Madrid ao Manchester United por Cristiano Ronaldo em 2009, e o valor pago pela Juventus ao Real Madrid pelo astro em 2018.

João Félix agora já é visto como um dos destaques da nova geração. Ele é peça fundamental no projeto de rejuvenescimento do time do Atlético iniciado por Diego Simeone, e tem por missão pôr fim aos cinco anos de espera por um título espanhol. O clube tenta ainda algo inédito na sua história, a conquista da Champions League.

A campanha do Atlético de Madri começa quarta-feira (18), às 16h, em Madri contra a Juventus. É um confronto perfeito: Cristiano Ronaldo contra João Félix, o passado e presente de Portugal contra seu futuro, o rei contra o príncipe herdeiro.

A velocidade com que Félix ascendeu surpreende até quem já acreditava no seu talento. Um ano atrás, Boto não teria apostado que o jovem atacante subiria ao estrelato tão rápido.

"Tínhamos um treinador que dava mais importância aos atributos físicos", ele disse. Isso só mudou em janeiro, para João Félix. Ainda que ele tenha feito sua estreia pelo Benfica um ano atrás, foi só quando Bruno Lage chegou como treinador, na metade da temporada passada, que ele realmente começou a florescer.

No passado, ele teria tido mais tempo para se desenvolver nas águas relativamente rasas de Portugal, partindo depois de duas temporadas completas como titular de seu time.

Gomes, por exemplo, jogou como atacante pelo Benfica e também foi um prodígio em sua época, mas partiu para a Itália apenas aos 24 anos. Agora, porém, a economia do futebol português mudou.

"Os clubes encontraram um modelo de negócios cuja base são suas academias [centros de formação de atletas], e os treinadores se inclinam mais a escalar jogadores jovens", ele disse. 

Os predadores no topo da pirâmide do futebol também mudaram. Em 2016, quando a última sensação a surgir no Benfica — o meio-campista Renato Sanches — partiu para o Bayern de Munique, foi depois de jogar uma temporada completa e de participar da vitória portuguesa na Eurocopa.

João Félix não teve a mesma oportunidade. Ele não quis esperar, e tampouco o Atlético. Simeone o escalou imediatamente como titular. Mesmo Cristiano Ronaldo subiu aos poucos para o primeiro time, em seu ano inicial no Manchester United. Agora, simplesmente não há tempo a perder.

As pessoas que conhecem o atacante não se preocupam. Acreditam que ele saberá lidar com isso.

"Os clubes preparam melhor os jogadores, hoje", disse Gomes. Tralhão, de sua parte, disse não acreditar que "cedo demais" exista. Ele disse que "cedo demais" só acontece quando o jogador não está pronto. E até onde eles sabem, João Félix está pronto.

Tralhão viu seu antigo comandado brevemente, quando a seleção portuguesa se concentrou em Lisboa este mês.

"Ele passou por muitas experiências, desde que o conheci, ganhou muito mais dinheiro, mas continua a ser o mesmo menino humilde e engraçado de que me recordo", disse o treinador. 

Tradução de Paulo Migliacci

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