Descrição de chapéu Tóquio 2020

Prodígios do skate tentam equilibrar sonho olímpico e diversão

Aos 11, Rayssa é estrela de Mundial em SP e disputa vaga para Tóquio-2020

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São Paulo

Em um campeonato profissional de skate, crianças e adolescentes que andam de um lado para o outro no local de competição podem não ser apenas fãs ou familiares de atletas, mas as próprias estrelas do evento.

O Mundial da modalidade olímpica street (que simula a paisagem urbana, com bancos, escadas e corrimões como espaços de manobras) realizado em São Paulo desta quinta-feira (19) a domingo (22) exemplifica isso.

Aos 11 anos, Rayssa Leal é forte candidata a um lugar no pódio do torneio, realizado no pavilhão de exposições do Anhembi, e tem grandes chances de representar o Brasil na Olimpíada de Tóquio-2020 ao lado de Pâmela Rosa, 20, e Leticia Bufoni, 26.

As brasileiras ocupam as três primeiras posições no ranking mundial de street e hoje estariam classificadas para os Jogos do Japão, que marcarão a estreia do skate no programa olímpico. Virgínia Fortes Águas, 13, é a nona colocada dessa lista.

Moradora de Imperatriz, segunda cidade mais populosa do Maranhão, Rayssa ganhou fama aos 7 anos, com a publicação de vídeos de suas manobras nas redes sociais. Um deles, que mostrava a garota vestida com uma fantasia de fada, lhe rendeu o apelido de “fadinha”.

A referência infantil no nome ficou no passado, e a brasileira, embora ainda seja uma criança, já é uma das melhores do mundo em nível profissional. “Quero bater muitos recordes na minha carreira”, projeta.

A chance de ela se tornar a atleta olímpica mais jovem do país chama a atenção e gera debate sobre a precocidade dos talentos desse esporte.

Por decisão da federação internacional da modalidade, não ficou estabelecida uma idade mínima para os participantes de Tóquio-2020. Na ginástica artística, por exemplo, só serão aceitos homens nascidos até 2002 e mulheres até 2004.

O pai de Rayssa, Haroldo Leal, 37, conta que procura balancear a sequência de treinos e competições da filha com brincadeiras e atividades que a façam ter uma rotina normal para a sua faixa etária. Na escola, as aulas perdidas por viagens são repostas com dupla jornada. Ainda assim, ele sabe que nem sempre é fácil manter esse controle.

“Aqui em Imperatriz, se ela estiver andando na rua sem o skate pouca gente sabe quem é. Mas quando vai competir nos outros lugares, todos ficam em cima para tirar foto e dar um abraço. A gente acha legal e incentiva, mas aqui ainda é mais sossegado para ela”, diz Haroldo.

A família deve deixar o Maranhão em breve. “A pista onde ela treina aqui é toda quebrada, cheia de buracos. Não queríamos ir embora, mas para ela manter o alto nível acho que vai precisar”.

Dos 21 integrantes da seleção brasileira formada para esta temporada, 5 têm menos de 18 anos. Ajudá-los a encontrar o equilíbrio entre os aspectos de diversão e competitividade do esporte é uma das missões da psicóloga Juliane Fechio, contratada pela confederação nacional (CBSk) em maio de 2018.

“Uma criança tem mais dificuldade de lidar com a frustração, então temos que olhar essas questões para que elas consigam se manter no esporte. Quando a pressão é muito exagerada, às vezes a criança desiste e perde o prazer. Temos trabalhado para que elas estejam lá felizes, por mais que exista essa pressão”, diz.

Fechio reconhece que o fato de não haver um limite mínimo de idade para a participação olímpica é algo que gera discussão, com opiniões favoráveis e contrárias.

“Pode ser que uma de 10 anos esteja preparada para uma sobrecarga maior e que uma de 12 não esteja. A forma como cada um recebe estímulos é diferente.”

Seu maior enfoque tem sido o trabalho com as famílias desses atletas, com quem ela faz atendimentos periódicos.

“Independentemente da modalidade, no esporte infantil o principal estímulo de estresse são os pais. Eles querem ajudar, mas às vezes acabam se equivocando. Por isso oriento como eles podem ser um efeito motivacional, não de sobrecarga”, afirma.

No caso de Rayssa, a psicóloga enxerga a skatista feliz e sem encarar a ideia de participar da Olimpíada da mesma forma que os adultos ao seu redor. Sua principal preocupação no momento é que a garota se mantenha assim pelos próximos meses.

Sky Brown, 11, compete no campeonato mundial de park, em São Paulo
Sky Brown, 11, compete no campeonato mundial de park, em São Paulo - Carl de Souza - 14.set.19/AFP

A presença de crianças e adolescentes entre os melhores do mundo no skate não tem sido uma exceção. O pódio do Campeonato Mundial da outra modalidade olímpica, o park, realizado no último fim de semana também em São Paulo, foi formado por duas japonesas de 13 e 17 anos e pela britânica Sky Brown, 11.

Entre as representantes do Brasil na competição estavam Isadora Pacheco, 14, e Victoria Bassi, 12, ambas acompanhadas pelos seus responsáveis. 

“Eu deixo a minha filha à vontade. Se tenho algo para dizer, chego em casa ou no hotel e falo. O skate não está atrapalhando em nada, até porque na escola ela é a melhor da sala. Tenho orgulho e a única coisa que cobro é muito estudo, digo para ela que atleta burro não é atleta”, afirma Thiago Bassi, 37, pai de Victoria.

No evento em São Paulo, ele contou ter escutado xingamentos e cobranças vindos de pais direcionados a atletas adolescentes de outros países, atitude que diz recriminar.

Campeonato Mundial de skate street

Quando: de 19 a 22 de setembro (com venda de ingressos para os dias 21 e 22, a partir das 13h)
Onde: Pavilhão de Exposições do Anhembi (Avenida Olavo Fontoura, 1209, Santana, São Paulo)
Ingressos: à venda em eventim.com.br a partir de R$ 50 (R$ 25 a meia-entrada)

Como funciona a classificação para Tóquio-2020

Número de competidores:
20 na categoria street feminina
20 na categoria street masculino
20 na categoria park feminina
20 na categoria park masculino

Em cada evento há o limite de 3 representantes por país e o mínimo de 1 skatista por continente. O Japão tem vaga garantida em cada um deles

Park
A modalidade reúne vários elementos construídos para a prática do skate, como rampas de diversos tamanhos e raios, além de extensões e bowls (pista com formato de piscina)

Street
A modalidade simula a paisagem urbana, com bancos, escadas, corrimões e calçamento como espaços de manobras

Mundiais
Os três primeiros colocados dos campeonatos mundiais da temporada 2020 já estarão classificados

Ranking
Levará em consideração eventos nacionais, continentais e mundiais disputados de 1º de janeiro de 2019 a 31 de maio de 2020. Serão considerados os dois melhores resultados da temporada 2019 (até setembro) e os cinco da temporada 2020 (de outubro a maio)

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