Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Flamengo vive contraste financeiro e em campo com rivais do Rio

Receitas do clube são bem superiores às de Botafogo, Fluminense e Vasco

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São Paulo e Rio de Janeiro

Líder do Campeonato Brasileiro e nas semifinais da Libertadores, o Flamengo consegue refletir dentro de campo em 2019 o sucesso recente de sua gestão financeira.

Receitas com departamento comercial, bilheterias e venda dos direitos de televisão colocam os rubro-negros na segunda posição do país, atrás do Palmeiras e num patamar bem acima dos rivais do estado Botafogo, Fluminense e Vasco.

Relatórios do Itaú BBA e da empresa de auditoria EY sobre os quatro clubes do Rio de Janeiro que estão na Série A apontam que arrecadação com departamento comercial e venda de ingressos do clube rubro-negro é superior às dos outros três times do estado da Série A somados.

Somente o departamento comercial (licenciamento de produtos, patrocínio e publicidade) injetou R$ 594 milhões nos cofres do Flamengo nos dez últimos anos. No mesmo período, Botafogo, Fluminense e Vasco conseguiram R$ 520 milhões com esse tipo de receita.

Em 2018, a equipe rubro-negra faturou R$ 92 milhões, e o trio, somado, R$ 42,4 milhões.

Com dinheiro em caixa, foi possível montar um elenco de estrelas, entre elas o atacante Gabriel, artilheiro do Brasileiro, e o meia uruguaio Giorgian De Arrascaeta, que chegou por R$ 80 milhões no início do ano.

Com dinheiro em caixa, o Flamengo pagou R$ 80 milhões para tirar o meia uruguaio Giorgian De Arrascaeta do Cruzeiro - Sergio Moraes/Reuters

A folha salarial do futebol do clube, incluindo os gastos com a comissão técnica liderada pelo português Jorge Jesus, é de R$ 8 milhões mensais considerando os contratos de trabalho (CLT) e excluídos direitos de imagem. As folhas dos três rivais somadas chegam a R$ 9 milhões.

Bem-sucedida financeiramente, a administração flamenguista recebe o reconhecimento dos adversários.

Adriano Mendes, vice-presidente de controladoria do Vasco, busca reabilitar as finanças do clube. Contador e funcionário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ele está à frente do movimento “Desenvolve Vasco”, convocado pelo presidente Alexandre Campello no ano passado.

Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo que colocou as finanças da agremiação nos trilhos durante seus dois mandatos (de 2013 até 2018) também fez carreira no BNDES.

“Há seis anos, o Flamengo iniciou a profissionalização do clube e soube explorar mais o seu potencial de receitas com licenciamentos de produtos. Vasco, Fluminense e Botafogo não fizeram o mesmo”, diz o vascaíno Mendes. “O foco agora é reduzir o passivo e ampliar receitas, mas é um trabalho gradativo, vai levar pelo menos quatro anos para observarmos os resultados.”

No ano passado, o Vasco recebeu R$ 57 milhões pela venda do atacante Paulinho para o Bayer Leverkusen, a maior de um atleta na história cruzmaltina. O dinheiro, que geralmente seria investido para buscar peças de reposição, acabou utilizado para saldar dívidas.

O economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, analisa todos os anos as finanças dos 20 clubes da Série A do Brasileiro.

"Outros clubes tiveram crescimento de receitas, com venda de atletas, mas optaram por gastar na atividade [futebol]. Essa é a grande diferença em relação ao Flamengo. Enquanto o clube se organizou pensando no futuro, outros pensaram no presente", afirma.

Ele ressalta que, apesar da importância do lucro com as cotas de televisão, o mérito dos flamenguistas é a capacidade de diversificar receitas.

Com exceção do Fluminense, as cotas de televisão foram as principais fontes de verbas para os times do Rio de Janeiro em 2018. Compôs 51% de todas as receitas do Botafogo e 48% do Vasco. O Flamengo ficou no patamar de 41%.

No ano passado, o Flamengo faturou R$ 227,8 milhões ao negociar os direitos de transmissão dos seus jogos, muito mais do que os R$ 115,9 milhões do Fluminense, R$ 102,3 milhões do Vasco e R$ 96,4 milhões do Botafogo.

Mendes critica o domínio do rival na distribuição das verbas televisivas: “Existe uma disparidade muito alta em relação à realidade do mercado, isso não é razoável".

A discrepância também está presente nas bilheterias. Em 2018, os rubro-negros somaram R$ 45 milhões, contra R$ 33,7 milhões dos três juntos.

Os números são condizentes com a última pesquisa do Datafolha, que mostrou o Flamengo como dono da torcida de um em cada cinco brasileiros. São 20% de flamenguistas no país, 4% de vascaínos, 1% de botafoguenses e 1% de tricolores.

O cenário financeiro atual é diferente de alguns anos atrás. Em 2013, segundo Bandeira de Mello, a EY apontou que o clube devia R$ 800 milhões. Ele atribuiu a melhora ao Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), implementado pelo governo federal em 2015.

“Parcelamos R$ 240 milhões de débitos com a União em 20 anos e, a partir daí, tivemos oportunidades para sanar as dívidas bancárias e trabalhistas”, diz o ex-presidente.

Em 2012, o Flamengo tinha um endividamento tributário de R$ 406 milhões. Atualmente, está em R$ 305 milhões.

Pedro Daniel, diretor-executivo da EY, lembra que o Flamengo deteve historicamente as melhores receitas entre os clubes cariocas, mas até então sempre havia apresentado dívidas comprometedoras. “O endividamento de hoje não é o nocivo ao caixa, como empréstimos a curto prazo”, afirma.

Entre os cariocas, o rubro-negro é o único que não está com o nome inscrito na Dívida Ativa da União.

Agora, a missão é transformar a saúde financeira em títulos nacionais e internacionais, algo que o Flamengo persegue desde a sua última Copa do Brasil conquistada, em 2013.

“Já havíamos pedido paciência desde 2012 e, apesar do aumento de recursos desde 2015, conseguimos neste ano ter um futebol forte e queremos fechar com dois títulos importantes", diz Wallim Vasconcellos, vice-presidente de finanças rubro-negro.

Enquanto isso, as ambições de Vasco, Botafogo e Fluminense neste fim de ano são escapar do rebaixamento na Série A e no máximo buscar uma vaga na próxima Copa Sul-Americana.

Procurados pela Folha, dirigentes de Botafogo e Fluminense não quiseram comentar o assunto.

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