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LeBron encara reação negativa após comentar crise entre NBA e China

Principal astro da liga criticou dirigente que apoiou protestos em Hong Kong

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Sopan Deb
Nova York | The New York Times

Fazia quase uma década que LeBron James não enfrentava reações negativas tão fortes.

Os torcedores de Cleveland queimaram sua camisa. Jogaram pedras em um outdoor que mostrava sua foto. O jogador foi atacado como narcisista por Dan Gilbert, o dono do Cleveland Cavaliers, em uma carta que foi alvo de muita zombaria.

E tudo que James tinha feito foi anunciar em um programa nacional de TV que estava trocando o Cavaliers por outro time.

Isso aconteceu em 2010, depois que James, ao final de sete temporadas em Cleveland, anunciou durante um especial da ESPN intitulado "The Decision" que levaria seus talentos a Miami, para jogar pelo Heat.

As reações negativas quanto a isso foram muito diferentes das que James, agora integrante do Los Angeles Lakers, vem enfrentando depois de declarar que Daryl Morey, diretor geral do Houston Rockets, "não estava informado sobre a situação em curso" ao primeiro publicar e depois apagar uma imagem no Twitter em apoio aos manifestantes pela democracia em Hong Kong.

O incidente causou uma disputa com o governo autoritário da China e ameaça a parceria entre a NBA e um de seus mais importantes mercados internacionais. Diversas empresas chinesas romperam seus elos com o Rockets.

James irritou ainda mais as pessoas que o criticam ao acrescentar que "sim, todos temos liberdade de expressão. Mas às vezes existem ramificações em termos do que pode acontecer de negativo quando você não pensa sobre os outros e só pensa sobre você".

Ele foi criticado imediatamente, acima de tudo na mídia social. A posição que ele adotou era bastante incomum, para um dos atletas mais populares do planeta. Diversos legisladores americanos, entre os quais os senadores republicanos Rick Scott e Josh Hawley, criticaram James por aparentemente ter atribuído a Morey a culpa pelas ações do governo chinês.

Mesmo um colega jogador, Enes Kanter, pivô do Boston Celtics conhecido por suas posições políticas veementes, postou tuítes que pareciam dirigidos a James, embora não o citassem por nome: "A LIBERDADE NÃO SAI DE GRAÇA".

James, um dos maiores jogadores da história da NBA, tentou esclarecer seus comentários com mensagens no Twitter, afirmando que Morey não havia considerado "as ramificações de seu tuite", e que "meu time e esta liga acabam de passar por uma semana muito difícil".

Mas isso não ajudou.

Manifestantes protestam em Hong Kong contra posicionamento de LeBron James
Manifestantes protestam em Hong Kong contra posicionamento de LeBron James - Anthony Wallace/AFP

Falando durante um treino na terça-feira (15), James disse que estava ciente de que existiam algumas reações negativas quanto a ele, mas que não sentia necessidade de se posicionar sobre todas as questões geopolíticas em discussão.

"Creio que quando a questão surge, se você tem uma posição forte a respeito, ou se sente que é algo sobre o que deveria falar, então fale", disse James. "Mas também não acredito que todas as questões sejam problema de todas as pessoas."

O alcance da reação é diferente, comparado à situação de "The Decision", por diversos motivos. Uma dessas questões tem importância mundial, e envolve uma combinação entre política, esportes e negócios. A outra interessava principalmente aos torcedores de basquete, ainda que tenha mudado a maneira pela qual astros da NBA encaram os poderes de que desfrutam quando seus contratos se encerram e eles se tornam agentes livres.

Nove anos depois de "The Decision", há outras forças culturais em jogo. O uso da mídia social é muito mais comum. E, acima de tudo, James mudou, em parte devido à reação negativa encontrada nove anos atrás.

Ele é um atleta mais poderoso, um superastro mundial com três títulos de NBA e um legado estabelecido. Seu império de negócios se expandiu para além do basquete e chegou ao entretenimento, e o nome dele está associado a dezenas de projetos de cinema e televisão.

James foi de grande jogador a titã dos negócios, e o ativismo quanto a determinadas questões sociais é parte de seu império. Tudo isso se combinou para torná-lo uma figura uma figura de influência aparentemente incomparável na história da liga.

Mas de certas maneiras, a história de James quanto ao ativismo é ao mesmo tempo enigmática e comum. Os torcedores que acusaram James de covardia também o acusam de hipocrisia. James cultivou cuidadosamente a imagem de uma pessoa disposta a se envolver em questões políticas ao longo de sua carreira e assumiu posições claras sobre casos como incidentes em que negros morreram por ação da polícia. Ele expressou apoio à candidatura de Hillary Clinton na eleição de 2016.

Manifestantes de Hong Kong colocam foto de LeBron James em tabela de basquete
Manifestantes de Hong Kong colocam foto de LeBron James em tabela de basquete - Umit Bektas/Reuters

No mês passado, o governador Gavin Newson, democrata da Califórnia, apareceu em "The Shop", o programa de James na HBO, e assinou ao vivo uma lei que permite que atletas universitários busquem patrocínios e outras oportunidades de negócios, outra manobra cuidadosa de construção da marca pessoal de James.

No começo de sua carreira, o jogador foi criticado por não ter assinado uma carta circulada por seu colega de equipe Ira Newble, na qual o governo chinês era criticado por seu apoio ao governo sudanês com relação ao conflito armado em Darfur, no qual centenas de milhares de civis foram mortos.

Mas no ano seguinte, 2008, James falou sobre Darfur na ESPN: "Em última análise, estamos falando de direitos humanos. E as pessoas precisam compreender que os direitos humanos e vidas estão em risco. Não estamos falando de dinheiro. Estamos falando de pessoas que perdem a vida, e isso significa muito mais para mim do que dinheiro ou um contrato".

Mas o dano potencial aos interesses de negócios de James causado pelo post de Morey no Twitter não pode ser separado de suas críticas ao executivo. Ele disse que visitou a China mais de uma dúzia de vezes ao longo de sua carreira —usualmente em eventos da liga ou de um de seus patrocinadores oficiais, como a Nike, para a qual a China é o terceiro maior mercado.

James também tem mais a perder na China do que vendas de calçados e outras mercadorias relacionadas ao basquete. Seus projetos de entretenimento, como "Space Jam 2", podem ser distribuídos na China, um mercado significativo para estúdios de Hollywood como o Warner Bros., e para a marca pessoal de James.

No entanto, James pode ter ajudado a NBA. Na China continental, seus comentários foram recebidos com entusiasmo. Que o jogador de basquete mais famoso do mundo tenha, de acordo com algumas interpretações, expressado apoio à posição do governo chinês, de preferência a apoiar um executivo de basquete dos Estados Unidos, certamente não atrapalhará a manutenção das relações, e dos lucros, dos profissionais do basquete na China.

Afinal, os chineses também compram tênis.

Tradução de Paulo Migliacci

Erramos: o texto foi alterado

​LeBron James foi criticado por não ter assinado uma carta crítica ao apoio da China ao governo de Sudão, e não por ter assinado, como estava em versão anterior do texto. O trecho foi corrigido.

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