Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Rejeitado por maioria da elite, clube-empresa atrai endividados e Série B

Equipes da primeira divisão resistem em mudar modelo

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São Paulo

Quando receberam o diagnóstico de que poderia levar 20 anos o Botafogo para sanar suas dívidas, os dirigentes se convenceram de que o modelo clube-empresa era a única saída. Com um passivo próximo de R$ 1 bilhão, que inclui débitos com fornecedores, União e ações trabalhistas, o alvinegro do Rio vive a expectativa pela lei que cria incentivos para as agremiações se transformarem em empresas ser aprovada neste ano na Câmara de Deputados.

Além do time carioca, só mais duas equipes da Série A do Campeonato Brasileiro se preparam para uma possível mudança e afirmam que ela seria executada em breve: Athletico-PR e CSA. Já o São Paulo tem um projeto para desmembrar as atividades sociais do futebol profissional, que viraria uma Sociedade Anônima. O documento está pronto desde 2017 para avaliação do conselho administrativo e não teve encaminhamento. 

O projeto para incentivar equipes a virarem empresa é capitaneado pelo presidente da Câmara, o deputado federal e botafoguense Rodrigo Maia (DEM-RJ). O texto está em fase de discussão entre parlamentares, governo federal e os dirigentes de futebol.

O CEO Thiago Scuro, da Red Bull, e o presidente do Bragantino, Marquinhos Chedid, anunciam a parceria entre a equipe e a empresa
O CEO Thiago Scuro, da Red Bull, e o presidente do Bragantino, Marquinhos Chedid, anunciam a parceria entre a equipe e a empresa - Marcelo D. Sants - 23.abr.2019/Ag. O Globo

O projeto vai propor incentivos como refinanciamento de dívidas com o governo (descontos de 50% dos juros e prazo de 240 meses) e também um plano nos moldes de uma recuperação judicial para parcelar débitos na área cível (fornecedores) e trabalhistas. Nesse caso, o time terá que apresentar um programa de pagamento para o Ministério Público e a Justiça e contar com a aprovação dos credores.

O Botafogo está em uma situação difícil, enfrentando penhoras, mas vamos virar o jogo depois de essa lei ser aprovada. Temos o estudo e cinco investidores, alguns de fora do Brasil”, diz Ricardo Rotenberg, diretor comercial do clube alvinegro.

Outro raro caso de empolgação com a perspectiva de virar empresa é o Athletico-PR. 

"Temos um estudo pronto desde 2017 para virarmos clube-empresa. Será colocado em prática agora se a lei for aprovada", afirma Mário Celso Petraglia, presidente do conselho deliberativo do clube paranaense.

"O modelo associativo é uma estrutura arcaica, da época do Getúlio Vargas, e o governo Bolsonaro, liberal como é, procura estimular mudanças, inclusive no futebol", diz o cartola. 

Relegado pela maioria dos integrantes da Série A, o incentivo que o projeto prevê, com renegociação de dívidas, para times que virarem empresa atrai quase metade dos 20 clubes da Série B do Brasileiro.

América-MG, Coritiba, Guarani e São Bento, todos na segunda divisão, encomendaram estudos de viabilidade para avaliar a migração. Botafogo-SP, Cuiabá, Red Bull e Londrina já são empresas. Caso também do Figueirense, onde há um litígio entre o clube e o grupo que adquiriu a concessão dos direitos esportivos

“O clube-empresa talvez seja a oportunidade para as equipes que não estão no topo [entre as mais ricas e na Série A] para acelerar sua escalada na cadeia do futebol”, afirma Pedro Daniel, diretor executivo da EY. 

Exceção entre os times da primeira divisão, o CSA  —promovido este ano à elite— está empenhado pela aprovação do projeto. O presidente da equipe alagoana, Rafael Tenório, foi convidado para debater o tema na comissão do esporte da Câmara, no próximo dia 9. 

“O nosso projeto de clube-empresa deve ficar pronto daqui a 15 dias e vamos buscar investidores. Já fomos procurados neste ano”, afirma o dirigente.

Por outro lado, Avaí, Atlético-MG, Bahia, Ceará, Chapecoense, Corinthians, Flamengo, Fortaleza, Grêmio, Goiás, Internacional e Palmeiras não demonstram interesse de abandonar o modelo associativo. 

“As pessoas torcem pelo Grêmio, não por uma sociedade anônima. Quando tenho uma empresa, quem vai eleger o mandatário são seus acionistas, quem botou dinheiro. Isso perde a essência do futebol”, diz o presidente do Grêmio, Romildo Bozan. "Não sou conservador, mas o modelo atual é ideal, pois quem vai ascender ao conselho deliberativo, a um cargo de direção, participou de todo o processo político do clube."

O advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo, considera que a briga de poder entre dirigentes e conselheiros é um dos principais entraves para os clubes da Série A adotarem o formato empresarial.

“Os conselhos são órgãos político-partidários, com visão corporativista, e que enxergam neste novo modelo uma perda de poder”, diz Carlezzo.

Depois de três semanas de reuniões com dirigentes de clubes, o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), escalado por Maia para ser o relator do projeto, classificou os clubes em três grupos em relação aos planos sobre virar empresa.

Há os times que não demonstraram interesse por estarem em situação equilibrada, sem problemas financeiros, casos de Flamengo e Palmeiras. O carioca e o paulista, líder e vice-líder do Brasileiro, detêm os maiores orçamentos deste ano: R$ 765 milhões e R$ 562 milhões, respectivamente.

“O segundo grupo agrega os times que estão com certas dificuldades e outros em situações difíceis. Podemos citar Vasco, Fluminense, São Paulo. Eles também resistem à possibilidade por causa de discordâncias entre seus próprios dirigentes e conselheiros”, diz Pedro Paulo.

O terceiro grupo é o dos que se preparam para a mudança, casos, segundo o parlamentar, de Athletico, Botafogo e Santos.

A assessoria do Corinthians afirmou que não há projeto para alterar sua gestão associativa. O conselho deliberativo do Santos ignorou o tema durante a alteração do seu estatuto. Segundo o presidente do conselho, Marcelo Teixeira, uma discussão sobre clube-empresa poderia atrasar a votação do texto, que prevê mudanças exigidas no Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), que garantiu ao clube parcelamento de dívidas com a União. 

“O Santos, desde 2017, vinha sendo cobrado pelo governo. Outros pedidos, como a mudança no escudo [coroa sobre o símbolo em homenagem a Pelé], aposentar a camisa 10, o clube-empresa, corriam o risco de um longo debate e, agora, precisamos nos adequar ao Profut”, diz Teixeira.

Clubes à espera da nova lei

Série A
Athletico Paranaense
Botafogo
CSA
São Paulo

Série B
América-MG
Coritiba
Guarani
São Bento

Já são clube-empresa
Botafogo-SP
Cuiabá
Figueirense
Londrina
Red Bull
 

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