Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Sem repetir sucesso no Corinthians, Carille se desgasta com elenco

Técnico que levou time ao título brasileiro em 2017 vive outra realidade em 2019

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São Paulo

Logo após conquistar o título brasileiro em seu primeiro ano como técnico do Corinthians, em novembro de 2017, Fábio Carille apontou o que na sua opinião havia sido determinante para o sucesso daquela campanha: definir o quanto antes um jeito para o time jogar.

Nesta temporada, passados dez meses, o treinador de 46 anos ainda não conseguiu alcançar esse objetivo.

Exemplo disso foi visto na última rodada do Campeonato Brasileiro, quarta (16), quando mudou sete peças em relação à formação que havia enfrentado o São Paulo no domingo passado. Não deu resultado. Depois de perder o clássico, empatou com os goianos após um gol salvador de pênalti nos acréscimos.

O limitado repertório ofensivo da equipe alvinegra, dona do terceiro pior ataque entre os dez primeiros colocados e apenas o 18º time que mais finaliza no Nacional, faz Carille lidar com uma pressão que ainda não havia experimentado.

Sem vencer há quatro rodadas no Campeonato Brasileiro, o Corinthians corre risco de deixar o G-4 neste fim de semana, caso não vença o Cruzeiro neste sábado (19), às 19h, em Itaquera.

Quando apostou na volta do treinador, no início deste ano, a diretoria do Corinthians esperava que ele pudesse repetir o trabalho que fez em sua primeira passagem, na qual, mesmo com um elenco visto como limitado, levou o time às conquistas de dois Paulistas e um Brasileiro.

Sob seu comando, a equipe do Parque São Jorge não dava espetáculo, mas apresentava um futebol consistente, sobretudo na defesa e nos contra-ataques, que renderam uma série de elogios a Carille.

Nesta temporada, o time tem apresentado um futebol que não condiz nem com a quarta colocação que ocupa no Brasileiro, segundo o próprio treinador. "Dos 62 jogos que tivemos neste ano, acho que não fizemos 10 boas partidas", disse no último domingo (13), após a derrota para o São Paulo.

Na ocasião, ele declarou ainda que muitos atletas estão abaixo do que podem render. Lamentou que a diretoria não tenha trazido alguns reforços que tentou neste ano, como o atacante Gabriel, atualmente no Flamengo e na artilharia do Brasileiro, e Rodriguinho, ex-Corinthians e hoje no Cruzeiro.

"A gente precisa crescer na parte ofensiva, e estou tendo dificuldade de fazer isso", admitiu.

O discurso sincero, considerado excessivamente resignado dentro do clube, irritou alguns jogadores e parte da diretoria. Também vai de encontro à opinião que o próprio Carille manifestava no início do ano.

Em entrevista à Folha em 21 de janeiro, o técnico afirmou que o atual elenco era melhor do que o que tinha à disposição em 2017. "A diretoria passou que iria fortalecer [o grupo], mas já está acima do que eu esperava."

O comandante participou ativamente das contratações. O atacante Mauro Boselli foi um dos que só fecharam após conversarem com o técnico. Hoje, Carille tem dito que seu esquema não favorece o estilo do argentino, autor de quatro gols no Nacional.

​Boselli não é o único que ainda não vingou. O meio de campo é o setor que tem dado mais dor de cabeça ao técnico. Nenhum jogador que chegou em 2019 conseguiu se firmar na posição de segundo volante, função responsável por iniciar jogadas ofensivas e chegar à frente para compor o ataque. Ramiro, Júnior Urso e Sornoza se revezaram na posição, sem muito sucesso.

Na criação, Carille não conseguiu formar neste ano uma dupla como a de Rodriguinho e Jadson, fundamentais para a engrenagem da equipe na primeira passagem. Enquanto o primeiro deixou o clube, o segundo passou a ser reserva com a queda de seu condicionamento físico.

No elenco atual, Pedrinho é a única esperança de jogadas mais criativas. O jovem de 21 anos, no entanto, ainda não demonstra regularidade em campo.

Para Marcelinho Carioca, ex-meia do Corinthians, a falta de peças no elenco torna injustas as críticas sobre o trabalho de Carille. "Não é um grupo diferenciado. Não adianta exigir jogo bonito, com toque de bola. Não é culpa dele se os caras não acertam um cruzamento, não sabem chutar de três dedos e fazem faltas dentro da área, com o atacante de costas para o gol", afirmou.

Bicampeão brasileiro e campeão mundial pelo time alvinegro, Marcelinho defendeu a posição do técnico na entrevista após o clássico. "Imagina como é iniciar uma semana de trabalho, na véspera de um clássico, e ver o empresário do Tiago Nunes [técnico do Athletico-PR], andando no seu centro de treinamento. Você começa a ouvir os rumores, e ninguém é de ferro", disse.

Nunes, atual campeão da Copa Sul-Americana e da Copa do Brasil, é cotado para assumir o Corinthians na próxima temporada caso Carille não permaneça.

O ex-treinador Renê Simões, que fez um trabalho de coaching com Carille no início da carreira dele, vê como algo normal a sinceridade do técnico nas entrevistas. "Quando um treinador protege o elenco, canso de ver críticas em cima dele. 'Ah, não falou a verdade'. Agora, quando ele abre um pouco o leque das possibilidades, todo mundo cai em cima porque não protegeu o elenco", declarou.

A reportagem procurou Carille por meio de sua assessoria pessoal, mas foi informada que o técnico prefere não dar entrevistas exclusivas neste momento.

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