Descrição de chapéu Futebol Paulista

Campeão da Copa do Brasil tenta renascer após anos desastrosos

Paulista de Jundiaí acaba de subir para a terceira divisão estadual

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São Paulo

Um jornalista argentino anotava as escalações da equipe que enfrentaria o River Plate no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Parou por um momento e foi tirar dúvida com um repórter brasileiro: 

“Este Glaydson é inglês?”, questionou.

A imprensa do país não sabia nada a respeito não apenas do volante que dois anos depois defenderia o Internacional no Mundial de Clubes. O próprio técnico do River, Daniel Passarella, confessou ter muito pouco conhecimento sobre o Paulista de Jundiaí, a surpresa da Libertadores de 2006.

Jogadores do Paulista comemoram gol contra o Fluminense na final da Copa do Brasil de 2005
Jogadores do Paulista comemoram gol contra o Fluminense na final da Copa do Brasil de 2005 - Fernando Santos-15.jun.2005/Folhapress

Era época em que a equipe do interior paulista parecia ser capaz de se tornar pelo menos uma força média do futebol brasileiro. Vice-campeão estadual de 2004, conquistou o título da Copa do Brasil do ano seguinte. Em 2007, assinou acordo para o projeto Campus Pelé, lançado pelo ex-jogador em Genebra, na Suíça. Era a promessa de criar um fundo de investimento que levantaria R$ 50 milhões para investir na formação de jogadores em Jundiaí.

Deu tudo errado. O Campus Pelé acabou em 2010, não se conhece o quanto arrecadou e o tamanho do rombo. Os dados não são públicos. O que se soube foi a decadência do Paulista. De 2007 a 2017, a equipe sofreu cinco rebaixamentos. O estádio Jayme Cintra foi colocado a leilão. O clube não pode receber dinheiro em suas contas bancárias porque estão todas bloqueadas.

“Tentamos o desbloqueio e pagar as dívidas possíveis, mas a situação não é nada fácil”, diz o atual presidente da agremiação, Rogério Levada.

Apesar das dívidas avaliadas em cerca de R$ 30 milhões e os mais de cem processos trabalhistas, o time tenta renascer de alguma forma. Conseguiu neste ano o acesso para a A3 estadual e, neste sábado (2), decide em casa o título da Segunda Divisão. Trata-se do quarto e último patamar do futebol paulista.

No primeiro jogo contra o Marília houve empate em 0 a 0. Quem vencer, será campeão. Nova igualdade fará o título ser decidido nos pênaltis.

A maior possibilidade de receita do Paulista neste ano seria se o Red Bull Brasil tivesse se fundido ao Oeste de Itápolis e mandasse seus jogos em Jundiaí. Pagaria aluguel pelo estádio. Mas a equipe da multinacional austríaca, em vez disso, se uniu ao Bragantino.

A solução foi montar elenco contando com empresas que paguem os jogadores. “A situação só vai mudar com o campo. Não tem jeito. Se os resultados acontecem, as coisas ficam mais fáceis também no financeiro. A curto prazo, não tem solução. A médio prazo, talvez”, afirma o presidente.

O Paulista é um time acostumado a apelar para empresas, com resultados distintos. Em 1995, a crise financeira fez com que fechasse acordo com a Lousano, empresa de condutores de materiais elétricos que pagou todos os custos do departamento de futebol.

Três anos depois, chegou a Parmalat, multinacional italiana de laticínios que mudou o nome do clube para Etti Jundiaí e o levou ao acesso para a elite do Campeonato Paulista em 2001. O Paulista virou clube-empresa.

Com a falência da Parmalat, passou a se chamar Jundiaí FL, mas, após votação com os torcedores, retornou ao nome original.

O vice estadual e a Copa do Brasil de 2005 chegaram baseados na revelação de jogadores que continuam dando receita para o clube em transferências, além de contratações pontuais. O Paulista revelou o goleiro Victor, o zagueiro Réver (ambos no Atlético-MG), o meia Nenê (Fluminense), o zagueiro Danilo (Bologna-ITA) e o goleiro Artur (ex-Benfica-POR), entre outros. Já há alguns anos precisa encontrar uma forma para que esse dinheiro não seja bloqueado pela Justiça.

Edson Fio (à esquerda), técnico do Paulista de Jundiaí na Segunda Divisão do Paulista
Edson Fio (à esquerda), técnico do Paulista de Jundiaí na Segunda Divisão do Paulista - Divulgação

A decadência aconteceu, em parte, porque os dirigentes acreditaram que as glórias de 2004 e 2005 e a Libertadores de 2006 seriam rotineiras. Para tentar chegar à elite do Brasileiro em 2007, o Paulista tinha uma das folhas mais caras da segunda divisão. O dinheiro acabou no meio do caminho, os salários atrasaram e o time caiu para a Série C.

O fracasso do projeto Campus Pelé, que tinha fundo registrado em Luxemburgo, um paraíso fiscal, agravou o problema.

Ainda se segurando na A2 do Paulista, em 2016, a diretoria anunciou parceria com investidores europeus. Eles não foram identificados, mas a condição para o acordo era a contratação do técnico português Paulo Fernandes. Os recursos do investimento não chegaram, e ele caiu após apenas uma rodada do estadual.

O acesso e a possibilidade de título atuais aconteceram sob o comando de Edson Fio, treinador que dirige o time de shorts, camiseta e boné à beira do campo. Ele é um dos cinco negros a ocuparem o cargo em uma equipe profissional do futebol paulista.

“Ninguém me conhecia quando cheguei, e ainda tinha a questão de ser negro. Ainda não é normal no futebol um treinador negro. Com o trabalho, o dia a dia e as vitórias, mostramos o que poderíamos conquistar. Futebol é uma ferramenta poderosa para mudar mudar a percepção das pessoas”, afirma Fio.

Ele e seus jogadores recuperaram um pouco da autoestima do torcedor de Jundiaí. “Nós nem estreamos na Série A3 e já estão dizendo que estamos rumo à A2”, brinca o presidente.

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