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Marcos Augusto Gonçalves

Flamengo expõe a força de uma potência popular que se vê como Nação

De alguma maneira a mística flamenguista incorporou-se à modelagem de uma cultura nacional

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São Paulo

Certamente não escapou aos que acompanharam a cobertura das TVs e veículos de comunicação em torno da partida final da Libertadores a presença no noticiário de uma pauta de extensão nacional. De diversos pontos do Brasil apareceram relatos e imagens da presença de torcedores rubro-negros à espera do grande duelo.

Possivelmente o Flamengo, entre nossos clubes, seja aquele mais próximo de dar alguma veracidade ao famigerado clichê de que tal time “é o Brasil na Libertadores”.

Não que torcedores de outras cores deixem as rivalidades de lado para torcer de verdade por um triunfo da equipe carioca —mas pelo fato de que ser “carioca”, quando falamos de Flamengo, tem sentido mais amplo. 

De alguma maneira a mística flamenguista incorporou-se à modelagem de uma cultura nacional e popular que se irradiou do Rio a partir da década de 1930.

A ideia de que a popularidade do Flamengo já vinha dos tempos em que era um clube de regatas é duvidosa. Por mais que as disputas do remo fossem festivas e atraíssem atenções, elas faziam parte de uma desportividade marcada por certo elitismo.

Embora já contasse anteriormente com seu departamento de terra e praticantes de futebol oriundos do Fluminense, o Clube de Regatas do Flamengo começou a se associar à ideia de uma agremiação futebolística nacional e popular quando a profissionalização passou a ser praticada no esporte.

Essa identidade não foi se tecendo de maneira espontânea. Cresceu fruto de estratégias adotadas pela direção do clube no século passado. Um dos pilares midiáticos da propagação foi o Jornal dos Sports, de Mário Filho, irmão do fluminense Nelson Rodrigues. Depois de trabalhar em O Globo, ele comprou, em meados dos anos 30, o diário esportivo.

O jornalista recebeu apoio financeiro para enfrentar as primeiras dificuldades tanto do empresário Roberto Marinho quanto de José Bastos Padilha, que era presidente do Flamengo e foi o grande incentivador das campanhas de popularização e nacionalização do futebol do clube.

Em seu livro “Um Flamengo Grande, um Brasil Maior” (Editora 7 Letras), Renato Soares Coutinho mostra que a gestão de Padilha foi pioneira ao adotar um programa para tirar proveito das mudanças sociais (com a incorporação de camadas populares) ocorridas durante o Estado Novo. Segundo o autor, foi um plano deliberado, “um projeto constituído, e não apenas atitudes esporádicas e desconexas”.

A intenção era fazer do Flamengo o time dos trabalhadores, das donas de casa, do povo, do Brasil. Nas palavras do autor, Padilha foi o primeiro presidente de um clube de futebol “que se lançou para além dos muros das sedes dos clubes em busca da utilização do futebol como construtor do espírito de brasilidade”.

Isso não explica tudo, mas ajuda a entender como foi se formando essa potência popular flamenguista que, sintomaticamente, se autodenomina Nação.

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